Uma das mais famosas fábulas do mundo tem muitas versões. Conheça três incríveis leituras de A Cigarra e A Formiga.
Uma fábula é uma história ficcional que se utiliza de alegorias para passar lições de moral para seus leitores.
Uma das principais características desse tipo de texto é o uso do recurso de antropomorfização, ou seja, a transposição de elementos e características humanas para personagens não humanos – muito frequentemente animais. Por isso, as fábulas são muitos queridas para as crianças.
Mas não só crianças podem usufruir das fábulas. Geralmente, as lições que acompanham o fim das histórias trazem ensinamentos para pessoas de todas as idades.
A Cigarra é a Formiga é uma das fábulas mais conhecidas. A chegada do inverno faz com que a cigarra encontre-se sem alimento. Por isso, ela pede às formigas migalhas de pão, e as formigas criticam a cigarra por não ter guardado alimento, tendo passado o verão cantando.
Mas você sabia que não existe apenas uma versão dessa história? Confira, abaixo, três versões sensacionais:
1- A Cigarra e a Formiga de Esopo

Num belo dia inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de comidas. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado molhados. De repente aparece uma cigarra:
– Por favor, formiguinhas, me deem um pouco de comida!
As formigas pararam de trabalhar, coisas que era contra seus princípios, e perguntaram:
– Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?
Falou a cigarra:
– Para falar a verdade, não tive tempo. Passei o verão todo cantando!
Falaram as formigas:
– Bom… Se você passou o verão todo cantando, que tal passar o inverno dançando?
E voltaram para o trabalho dando risadas.
2- A Cigarra e a formiga, de La Fontaine (traduzida por Bocage)

Tendo a cigarra em cantigas
Passado todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brilho,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.
– “Amiga”, diz a cigarra,
– “Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos antes d’agosto
Os juros e o principal.”
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
– “No verão em que lidavas?”
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: – “Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.”
– “Oh! bravo!”, torna a formiga.
– “Cantavas? Pois dança agora!”
3- A Cigarra e a Formiga de Monteiro Lobato

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro.
Bateu – tique, tique, tique…
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu…
A formiga olhou-a de alto a baixo.
– E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
– Eu cantava, bem sabe…
– Ah! … exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
– Isso mesmo, era eu…
– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho.
Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.