A nossa cultura nunca foi tão desprezada quanto nesses últimos anos. Desde a perseguição de orgãos de estado como a Fundação Palmares, passando por um governo que desmobilizou o incentivo a cultura como um todo através das leis de incentivo, até uma população que persegue artistas por suas opiniões e, até, queimam seus livros, como aconteceu com o escritor Paulo Coelho. Além disso, uma série de décadas de educação deficitária, combinada com uma desigualdade social brutal, levaram a grande parte da população a sequer conhecer e dar a importância devida a monumentos da nossa cultura. Essa semana foi bastante emblemática pra gente perceber esses dois casos.
O roubo a estátua de Drummond

Este é um caso triste, mas que vive se repetindo. O monumento em homenagem ao escritor Carlos Drummond de Andrade, localizado no Posto 6, em Copacabana, no Rio de Janeiro, foi novamente alvo de vandalismo. Uma pessoa, mais uma vez, roubou os óculos do poeta sem que fosse visto ou denunciado por ninguém que passava pelo local. A Prefeitura do Rio informou que vai enviar as imagens de câmeras de segurança para a polícia para a identificação dos responsáveis e que vai repor a peça em até um mês. Porém, este não é o primeiro caso de vandalismo à estátua: desde a inauguração, em 2002, já foram mais de 10 episódios de depredação, segundo o G1.
Tudo indica, como foi das outras vezes, é que a peça foi retirada para a venda. Um caso que, apesar de absurdo, pode ser explicado pela profunda desigualdade social em que pessoas correm atrás dos caminhões de lixo para conseguir comida. Além disso, uma educação deficitária, faz com que parte da população não veja a importância de um monumento a um dos maiores poetas do nosso país.

Luis Fernando Veríssimo também é vandalizado
Uma pintura com o rosto do escritor Luis Fernando Verissimo foi vandalizada no último sábado, em Porto Alegre. Essa é a segunda vez que ela sofre esse tipo de ataque. A pintura fica localizada no Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, junto com outras 26 pinturas que retraram grandes nomes da literatura. Dessa vez, uma tinta foi arremessada contra a área do rosto do escritor.
A tela é pintada pelo artista Gustavo Burkhart que afirmou que está restaurando a obra:
“Queremos somente devolver ao povo o que é do povo. É uma época de obscurantismo, mas com arte, cultura e história é possível iluminar as pessoas”, disse.
Esse caso é um pouco diferente do ocorrido no Rio de Janeiro. Veríssimo, ainda vivo, faz uma série de críticas políticas a gestão federal e, por conseguinte, vem sofrendo perseguição de grupos organizados pelo presidente nas redes sociais. Com uma tensão política em alta, alguns fundamentalistas radicais parte para o “mundo normal” e resolvem vandalizar a obra como símbolo daquilo que querem destruir: não só a pessoa que faz as críticas, mas a própria arte em sua memória.
Um país que, de um lado, cria fundamentalistas radicais e, de outro, aprofunda as desigualdades, é um prato cheio para desrespeito à história e memória de nossa arte e cultura. Um caso que, se não ficarmos atentos, pode levar a um desmonte total de tudo que construímos até agora. Precisamos resistir!