Os 18 melhores poemas de Caprichos e Relaxos, de Paulo Leminski

Aqui, poemas para lerem, em silêncio,
o olho, o coração e a inteligência.
Poemas para dizer, em voz alta.
Poemas, letras, lyrics, para cantar. 
Quais, quais, é com você, parceiro. 

Paulo Leminski

Caprichos e Relaxos (1983), de Paulo Leminski, é a obra mais famoso do autor. O livro, que se tornou best-seller logo na época de seu lançamento, contém os principais poemas de Leminski escritos até aquele momento e seria, de certa forma, a obra que consagraria o autor como um poeta reconhecido em nossa literatura brasileira. Celebrado tanto pelos concretos quanto pelos marginais, Leminski tornou-se, agora, famosa de todo público com o lançamento de suas obras completas: Toda Poesia. No entanto, Caprichos e Relaxos é onde podemos melhor conhecer o poeta. O livro foi relançado pela Companhia das Letras em seu nome selo Poesia de Bolso.

O NotaTerapia separou os melhores poemas da obra. Confira:

Contranarciso

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

mesmo
na idade
de virar
eu mesmo

ainda
confundo
felicidade
com este
nervosismo

Das coisas
que fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são
Aqueles em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos não?

minha mãe dizia

— ferve, água!
— frita, ovo!
— pinga, pia!

e tudo obedecia

uma carta uma brasa através
por dentro do texto
nuvem cheia da minha chuva
cruza o deserto por mim
a montanha caminha
o mar entre os dois
uma sílaba um soluço
um sim um não um ai
sinais dizendo nós
quando não estamos mais

não possa tanta distância
deixar entre nós
este sol
que se põe entre uma onda
e outra onda
no oceano dos lençóis

em matéria
de tino
menino
eu tenho dez
quiser
tenho até
um destino
a meus pés

O Velho Leon e Natália em Coyoacán

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia

o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás de outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

aqui
nesta pedra

alguém sentou
olhando o mar

o mar
não parou
para ser olhado

foi mar
pra tudo quanto é lado

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme

entro e saio

dentro
é só ensaio

eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito
eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões
em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois.

En la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas

Não discuto
com o destino

o que pintar,
eu assino

duas folhas na sandália

o outono
também quer andar

beija
flor
na chuva

gota
alguma
derruba

Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão

Teses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração

 

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