“Carioba – As Tramas do Algodão”, de Gilberto Hackmann: uma viagem pelas tramas que o algodão deixou no interior de São Paulo

Em “Carioba – As Tramas do Algodão”, Gilberto Hackmann tece uma narrativa envolvente sobre a vila operária que moldou a região de Americana

Este livro é o primeiro volume de uma trilogia que narra a fascinante história de Carioba, uma vila operária que existiu em Americana (SP), entre 1902 e 1976, em torno da Fábrica de Tecidos Carioba.

Acompanhamos as histórias de Beppe, Fortunata, Diogo e Carmela, abandonados na porta da igreja do pequeno povoado ainda bebês. Suas vidas se entrelaçam com a poderosa família Donner – dona da Fábrica e dos destinos de quem orbitava nela – principalmente das famílias imigrantes da Itália que encontraram trabalho na tecelagem. 

O que Hackmann faz é criar uma envolvente relação entre personagens fictícios e reais, a vida íntima e as relações sociais da vila que hoje pode parecer esquecida em meio ao desenvolvimento de outras cidades no interior de São Paulo. Com sensibilidade, alguns temas profundos são atravessados, como as diversas formas de amor e ódio, os jogos de poder, o racismo, a desigualdade social que sempre ditaram as regras do jogo no Brasil.

Carioba não é apenas um cenário, mas um personagem vivo na trama. A vila, reconhecida por sua modernidade e ousadia para a época, deve grande parte de seu desenvolvimento ao modelo social-democrata introduzido pelo industrial alemão Hans Müller. A trajetória de Carioba é pontuada por eventos históricos importantes, como a Crise de 1929, a 2ª Guerra Mundial e os movimentos comunista e anarquista, que moldaram intensamente a vida de seus habitantes. 

“Era interessante como Carioba parecia um lugar intocado pelas inquietações que ocorriam no mundo e em nosso país. A comunidade vivia suas festas, suas vidas em família, seu trabalho na fábrica, mas tudo poderia ser abalado por um leve chacoalhar da história, naqueles anos de turbulência em tantos países. E a cancela na entrada de Carioba não iria impedir que essas vozes perturbassem o povoado.” 

Seguindo o melhor da tradição literária do gênero de ficção histórica, os leitores vão encontrar uma narrativa que parte de fatos reais e ricas descrições que dão contorno a um arco de emoções, encontros e desencontros dos personagens. A obra conta com uma pesquisa minuciosa que traz à tona detalhes pouco conhecidos sobre a vida na vila. 

Hackmann, inspirado por suas visitas ao Casarão Hermann Muller, destaca a importância de valorizar a memória de Americana. “Nossa história é rica em personagens e acontecimentos que precisam ser enaltecidos para fortalecer a autoestima da nossa comunidade e os laços de afeto a essa terra”, afirma o autor.

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As historiadoras Márcia Juliana Santos e Tatiana Marchette elogiam a obra: “Carioba é um romance histórico necessário, especialmente no contexto dos 200 anos da imigração alemã no Brasil. O autor se mostra promissor na escrita desse gênero, ao oferecer ricas imagens e boa contextualização.” Paralelamente, a imigração italiana para o interior de São Paulo se deu há 150 anos. 

“Carioba – As Tramas do Algodão” é uma leitura imperdível para quem deseja mergulhar na história de uma comunidade que moldou a identidade de Americana e continua a inspirar gerações. Com personagens bem construídos e      um enredo envolvente o livro quer deixar sua marca na literatura histórica brasileira.

CONTEXTO HISTÓRICO

A Fábrica de Tecidos Carioba deu origem à vocação têxtil da cidade de Americana SP, que veio a ser conhecida como a “Princesa Tecelã” pela importância e destaque na produção de tecidos que teve e tem no Brasil.

Carioba foi uma vila que se desenvolveu em suas características de modernidade e arrojo para sua época, graças ao modelo social-democrata que o industrial alemão Hans Muller, proprietário da Fábrica de Tecidos Carioba a partir de 1901, empregou na formação da vila.

Por conta de consequências da 2ª. Guerra Mundial e das restrições financeiras, econômicas e políticas impostas pelo Governo brasileiro aos imigrantes alemães, a fábrica se viu em graves dificuldades e a família Muller vendeu a fábrica e todas as terras que envolviam a vila de Carioba ao grupo JJ Abdalla, no ano de 1944.

Entre os anos de 1940 a 1944 a fábrica foi administrada por funcionários administrativos, nomeados como representantes da família Muller, que já ao final de 1939 tais familiares se viram compelidos a saírem de Carioba em busca de refúgio e proteção por temores das consequências da guerra.

Esse importante grupo industrial que adquiriu a fábrica e as terras em 1944 administrou a fábrica até o ano de 1976, quando a fábrica foi fechada e a vila de operários desfeita e destruída.

A trilogia que se inicia pretende contar a história de Carioba, em ficção histórica, destacando três períodos:

De 1902 a 1940 — Carioba — As tramas do algodão

1940 a 1944 — Carioba — As correntes de vento

Até 1976 — Carioba — As ruínas de um mundo imaginário (título provisório)

FICHA TÉCNICA:

Título: Carioba – As Tramas do Algodão

Subtítulo: As Tramas do Algodão

Autor: Gilberto Hackmann

Editora: Oito e Meio

ISBN: 978-8555470974

Páginas: 309

Onde encontrar:

Papelaria Tamoio R$58,90

Editora Oito e Meio R$61,90

Amazon 31,90 (eBook) disponível no Kindle Unlimited

Sobre o autor:

Gilberto Hackmann nasceu em 1964, Americana SP e desde criança gostava de matemática e português. Escreveu muitas poesias e crônicas publicadas nos jornais de sua cidade e cinco romances, tendo lançado O Fruto Disso Tudo em 1987.

Após casar-se, criar os filhos e fazer muitas contas em sua profissão de Contador na área pública, voltou a escrever em 2020. Criou o www.blogdohackmann.com,  publicou nova versão para o Fruto Disso Tudo em 2022 e lançou o romance de autoficção Seria Para Você em 2023, além de participações em coletâneas de contos. 

Com “Carioba – Tramas do Algodão”, Gilberto inicia uma série de romances históricos para contar sobre a vocação têxtil de sua cidade, surgida na vila operária de Carioba no começo do século XX.

Redes Sociais:

Instagram: @gilhackmann

Newsletter: https://gilbertohackmann.substack.com/

Facebook: gilberto.hackmann

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