E se Oxum fosse uma nadadora universitária? E se Psiquê estivesse à espera de uma promoção na gigante publicitária onde trabalha? E se no meio de tudo isso tivesse um carinha que dispensasse apresentações? Essas são algumas das propostas do livro “Amor em Cores”, escrito pela nigeriana-britânica Bolu Babalola e publicado pela Harlequin Books, com tradução de Bruna Barros. Através de dez contos inspirados em variadas mitologias, a jovem escritora reimagina protagonistas femininas para estes clássicos que se fazem ainda mais fortes por meio do amor romântico que vivem nas histórias.
Formada em Direito e Mestre em Política e História Americana pela University College London, Babalola não tem medo de desconstruir a falsa-dicotomia imposta à mulher, na qual ela deve escolher entre ser bem-sucedida na vida profissional ou no amor. Nessa antologia, elas podem ter tudo.
Além da evidente homenagem ao gênero romcom, que fez sucesso nos anos 90 e 2000 ao misturar romance e comédia nos cinemas, os contos voltados ao público jovem de Bolu Babalola, trazem algo consigo, além do romance e da sensualidade desse tipo de narrativa: um sincretismo perfeito para o público brasileiro. A mistura de épocas, culturas e religiões desse livro não será uma surpresa para os leitores daqui que, em sua grande maioria, fazem oferendas à Iemanjá no Ano Novo, utilizam o alfabeto grego diariamente e frequentam mercearias árabes, por exemplo.
É claro que essa é uma grotesca simplificação da tradição e das dificuldades de um país tão miscigenado como o nosso, e nem de longe abarca todas as vivências daqueles que cultuam os orixás ou são descendentes de povos que imigraram para o Brasil. Porém, também nisso “Amor em Cores” acerta, porque ele propõe uma série de histórias leves e curtas, feitas para nos deliciarmos com os personagens e elementos culturais que porventura conheçamos, inseridos em contextos diferentes, sem desrespeitar suas formas originais.
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Além do tom de fascínio com que Babalola apresenta cada mitologia, os amantes de romance, de certo, vão reconhecer as tropes utilizadas nos contos. Sejam elas friends to lovers ou enemies to lovers, por exemplo, elas trazem consigo todas as vantagens e desvantagens do uso dos clichês. Que fique claro, que os clichês são populares há centenas de anos por um motivo, eles apelam para algo quase universal em todos nós e, por isso, não são algo necessariamente ruins para uma história. No entanto, seu mecanismo depende de um equilíbrio preciso entre a previsibilidade do enredo e a originalidade dos personagens para que funcione. O leitor deve se importar, para que o desfecho seja satisfatório.
Nesse sentido, um dos possíveis problemas que o leitor pode encontrar nesta antologia é que apesar de fortes e independentes, as personagens femininas caíram em um lugar-comum que as tornou quase que indistinguíveis umas das outras, no que diz respeito à caracterização e personalidade. Por isso, as histórias foram se tornando repetitivas e o estilo de escrita viciado em frases de efeito, que tentavam abreviar a profundidade que os contos não tiveram tempo de desenvolver.
Mesmo assim, a engenhosidade com que Bolu Babalola reimagina os mitos que existem no nosso cotidiano, abrindo espaço para o amor na vida de cada protagonista, é como uma reparação histórica, na qual a escritora liberta essas personagens de desempenhar o mesmo papel trágico ou enfadonho para sempre e permite com que elas amem e se divirtam pelo menos por algumas páginas.