Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, é o livro sensação da literatura brasileira dos últimos anos. Mas será que o livro é tudo isso? Merece ter o sucesso de crítica e vendas que tem? O livro conta a história do sertão baiano em que as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas — a ponto de uma precisar ser a voz da outra.
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O NotaTerapia separou as 14 melhores frases do livro:
O chão das nossas casas e dos caminhos da fazenda era de terra. De barro, apenas, que também servia para fazer a comida de nossas bonecas de sabugo, e de onde brotava quase tudo que comíamos. Onde terrávamos os restos do parto e o umbigo dos nascidos.
De tudo que vi meu pai bem-querer na vida, talvez fosse a escrita e a leitura dos filhos o que perseguiu com mais afinco.
Havia sido parido pela terra. Achava engraçado vê-lo utilizar essa imagem para afirmar sua aptidão para a lavoura. Nunca havia pensado que tinha sido parida pela terra. A terra “paria” plantas e rochas. Paria nosso alimento e minhocas.
Aprendia que tudo estava em movimento – bem diferente das coisas sem vida que a professora mostrava em suas aulas. Meu pai olhava para mim e dizia: “O vento não sopra, ele é a própria viração”. E tudo aquilo fazia sentido. “Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta não tem vida”, ele tentava me ensinar.
Mulher do campo, éramos um tanto maltratadas pelo sol e pela seca. Pelo trabalho árduo, pelas necessidades que passávamos, pelas crianças que paríamos muito cedo, uma atrás das outras, que murchavam nossos peitos e alargavam nossas ancas.
Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.
O sofrer vinha das coisas que nem sempre davam certo, me fazia sentir viva e unida, de alguma forma, a todos os trabalhadores que padeciam dos mesmos desfavorecimentos.
Sua raiva dizia muito das dores da alma – e sobre estas ela não falou -, aquelas que demoram a curar, as que no meio das lembranças precisamos afastar com um gesto de negação para que não se abata sobre nós o desanimo.
Era o que nos contavam. O medo atravessou o tempo e fez parte de nossa história desde sempre.
Se não pudéssemos deitar nossos mortos na Viração era porque, em breve, também não poderíamos estar sobre a mesma terra.
O diamante se tornou um enorme feitiço, maldito, porque tudo que é bonito carrega a si a maldição.
A luta era desigual e o preço foi carregar a derrota dos sonhos, muitas vezes.
O sangue do passado corre feito um rio. Corre nos sonhos, primeiro. Depois chega galopando, como se andasse a cavalo.
Por que sempre queremos as coisas que parecem estar mais distante de nós?
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Foto Djair Galvão
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