Lançado em 2021 pela editora Suma, traduzido por Regiane Winarski, este romance de King conta a história de James Conklin, um garoto que vê gente morta. Quando ele vê? Todo o tempo? Não exatamente: diferente do filme com Bruce Willis, James nem sempre sabe quando as pessoas que ele vê estão realmente mortas, a não ser que tenham sofrido uma morte violenta, que tenha deixado marcas físicas. Em geral, o que o ajuda a identificar os mortos é apenas o fato de estarem vestindo as mesmas roupas de quando morreram. Outro fato importante é que os mortos, quando interrogados, não podem mentir. E é isso o que torna a vida de James ainda mais complicada: a mãe de James é uma agente literária e, de repente, seu cliente mais famoso, um autor de uma série best-seller, acaba morrendo antes de escrever o livro final da série. James tem a missão de entrar em contato com o escritor morto para ajudar com o trabalho de sua mãe, pois a renda da família dependia muito do trabalho deste escritor. Porém, isso é apenas o início, pois James acaba por ser envolvido em questões bem mais complicadas e perigosas quando a parceira de sua mãe, a policial Liz Dutton, precisa da sua ajuda para arrancar verdades de criminosos mortos.
A narrativa, como a maioria dos trabalhos de King, é escrita de forma bastante direta, uma escrita quase informal, com diálogos contendo palavrões e gírias, de forma que, apesar do elemento sobrenatural, tudo soe incrivelmente realista. As relações entre os personagens, James e sua mãe e Liz, são bem desenvolvidas, o que faz com que os leitores consigam se importar, se envolver emocionalmente com seus conflitos e se chocar com as revelações que surgem conforme segue a trama.
O narrador personagem, que é o próprio James Conklin, conta a história depois de adulto, então muitas coisas que acontecem ele diz que “depois fiquei sabendo que era diferente”, ou “depois descobri mais sobre isso”, o que explica o motivo de o livro se chamar “Depois”: estamos lendo uma história narrada por um homem de vinte e poucos anos, sobre a sua infância, sobre como ele descobriu seu dom de ver mortos e como isso o envolveu em sérios riscos. Também vemos James buscar saber de onde veio esse seu dom macabro, e algo que ele desconfia que seja a causa acaba por ser uma grande reviravolta revelada nas páginas finais sobre a origem de James.
Enfim, esta é uma leitura rápida e envolvente, uma história que, como diz o narrador diversas vezes, é uma história de terror (prepare-se para algumas cenas fortes com mortos desfigurados), mas também é uma história sobre família, é um drama sobre relações humanas e uma jornada de crescimento e busca de compreender melhor a si mesmo e aos outros, estejam eles vivos ou mortos.