Com equipe técnica e dramaturgia afinadas, Balada Acima do Abismo faz jus ao legado de Clarice Lispector.
Ao iniciar a peça Balada Acima do Abismo, percebemos logo de cara um preenchimento do silêncio através da performance com gestos sutis de Maria Fernanda Candido. O encanto já começa na abertura de sua homenagem à Clarice Lispector.
Maria Fernanda Cândido estreou a peça Balada Acima do Abismo, sobre a vida de Clarice Lispector, em 2021. A peça foi apresentada na Embaixada do Brasil em Paris, em comemoração ao centenário da escritora. Com inspiração em contos de Clarice Lispector como “Restos de Carnaval” e “Visão de Clarice Lispector”, de Carlos Drummond de Andrade, a dramaturgia concebida por Catarina Brandão encontra o tom necessário para comover a plateia com um olhar quase biográfico sobre Clarice Lispector.
A atuação de Maria Fernanda Cândido é consistente, mas falta o risco. Ela consegue criar excelentes imagens ao narrar o texto, mas passado o meio da peça ficamos sentindo falta de uma interpretação mais visceral, ficamos sentindo falta da dor, do medo, por exemplo, na possível perda da mãe.
Há também uma tentativa de performance entre as cenas, que no começo funciona muito bem, por termos um tempo contrário ao da música, mas que ao decorrer da peça não evolui. Maria Fernanda Cândido possui um total domínio de sua expressão corporal, e isso é nítido nas execuções das performance, mas acredito que ela pode entregar mais. Isso aparece, mas em algumas poucas cenas, como quando Cândido se torna gigante e desce do palco, interpretando o texto e performando enquanto caminha entre o público.
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Não há como não falar sobre a qualidade técnica da peça que contribui para toda performance de Maria Fernanda Cândido. A iluminação de Caetano Villela provê brilhantemente para toda a narrativa, muitas vezes nos inserindo no mar de Clarice. A pianista Sonia Rubinsky com sua maestria desenvolve uma trilha sonora que permite a Cândido desenhar no palco. Já o figurino de Fábio Namatame é simplesmente genial, através da luz e os movimentos de Cândido, percebemos ondas em seu vestido, além de uma extrema versatilidade de transformação em cena, permitindo que o mesmo vestido possa construir não uma, mas uma série de imagens diferentes.
Em minha conclusão, vejo Balada Acima do Abismo como uma boa peça, por todo seu universo criativo, mas eu gostaria de ver Maria Fernanda Cândido ousando mais em cena. acredito que pelo histórico de Cândido e pelo carinho que o público tem dela, ela pode arriscar mais em suas criações, porque estar no palco é um ato de coragem. Coragem de se expor, de se confrontar, de se transformar.
Serviço:
Peça – BALADA ACIMA DO ABISMO.
Estreia – dia 25 de janeiro, sábado, 20 horas.
Temporada – até 9 de fevereiro de 2025.
Sessões – quintas, sextas e sábados, às 20h e domingos às 19h.
Local – Teatro-D-Jaraguá. Rua Martins Fontes, 71,
Anhangabaú, Centro, fone 11-2802-7075.
Duração: 75 minutos.
Classificação Indicativa: livre.
Ingressos: R$ 150,00 (inteira), R$ 75,00 (meia) e R$ 60,00 (promocional)
Ficha Técnica:
Atriz: Maria Fernanda Cândido
Pianista: Sonia Rubinsky
Direção: Gonzaga Pedrosa
Concepção e adaptação de textos de Clarice Lispector: Catarina Brandão
Cenário e figurino: Fábio Namatame
Iluminação: Caetano Villela
Hospedagem Oficial Nacional Inn Jaraguá
Direção de produção: DR Produções Teatro-D-Jaraguá.
Um projeto idealizado e realizado por Darson Ribeiro.
Assessoria de Imprensa – Arteplural / M Fernanda Teixeira, Macida Joachim, Maurício Barreira.