Escrevo essa crítica de modo mais pessoal do que as outras. O primeiro Extermínio fez parte da minha formação cinéfila, quando eu o assisti cedo demais, com meus 10 ou 11 anos, e ver os infectados correndo representou uma enorme mudança de paradigma para uma criança acostumada com a lentidão dos zumbis de Resident Evil e dos filmes de George Romero. É um filme que assisti tantas vezes que sei algumas falas de coração.
Logo, dizer que eu estava ansioso para Extermínio: A Evolução é um eufemismo, mas também cético diante do que o material publicitário apresentava, com um excessivo destaque para a tal “evolução” dos infectados algo que, apesar de certamente ser um chamariz, nunca foi o foco da franquia, sempre com um olhar para as vivências humanas dentro da inimaginável tragédia vivida pelos personagens daquele universo.

“Os verdadeiros monstros são os humanos!” nessa altura do campeonato, já é um clichê que os dois filmes prévios não se furtaram de explorar, e isso está presente no terceiro capítulo também, é claro, mas neste novo momento, o diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland estão menos interessados na capacidade humana de infligir crueldade uns aos outros, do que pela nossa capacidade de amar, apesar de tudo.
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É isso que torna Extermínio: A Evolução uma sequência completamente diferente do que se espera, ao mesmo tempo que se mantém fiel ao primeiro filme, que sempre buscou um olhar para a beleza diante da destruição.
No centro da narrativa está Spike (Alfie Williams), que irá realizar um teste de maturidade. Ao lado do seu pai, Jamie (Aaron Taylor Johnson), ele deverá passar algumas horas fora da comunidade isolada que habitam, no território britânico cheio de infectados. A passagem para a vida adulta é dolorosa para o jovem, mas nem tanto por ter que lidar com a violência necessária para viver nesse mundo, mas sim por conflitos bem mais mundanos, um deles sendo a doença de sua mãe, Isla (Jodie Comer), que ninguém sabe diagnosticar o que pode ser.

A busca de Spike por respostas o leva de volta para Inglaterra destruída, ao lado de Isla, encarando as criaturas transformadas pelo vírus. Assim como no primeiro filme, Extermínio: A Evolução é uma espécie de road-trip, com o par cruzando a Inglaterra devastada, encontrando violência e beleza no caminho.
Não falo de “beleza” só no sentido estético da palavra, apesar do filme ser, com frequência, belo, e destaco uma cena de perseguição sob um céu estrelado que é simultaneamente estonteante e tensa, mas também no emocional. Essa emoção que vem de lugares nem sempre óbvios, como uma surpreendente cena envolvendo uma infectada, que ressignifica a relação entre as partes, e aponta caminhos interessantes para as vindouras sequências.
Assim, Extermínio: A Evolução propõe um fascinante caminho para o futuro da franquia, um que se baseia não em reiterar a dor e sofrimento presentes naquele universo, como em Extermínio 2, mas sim em buscar novas maneiras de viver, mesmo quando tudo parece perdido.