As aventuras de Pi é um livro escrito pelo canadense Yann Martel, publicado em 2001 e vencedor do Booker Price de 2002. Seu protagonista, Piscine Molitor “Pi” Patel, é um garoto tâmil de Pondicherry, Índia, que desenvolve uma aproximação com três correntes religiosas desde muito cedo – o hinduísmo, o islamismo e o cristianismo.
Sua fé é então colocada à prova quando vive 227 dias em alto-mar, na companhia de um tigre de bengala chamado Richard Parker, após um naufrágio do navio em que estava com toda a sua família, rumo ao Canadá. Sua história tornou-se célebre com a adaptação de Ang Lee para os cinemas em 2012.
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É verdade que as pessoas que conhecemos podem nos modificar, e, às vezes, de uma forma tão profunda que, depois disso, não somos mais os mesmos, nem com relação ao nosso nome.
Preciso dizer uma coisa sobre o medo. Ele é o único adversário efetivo da vida. Só o medo pode derrotá-la. É um adversário traiçoeiro, esperto… Como eu sei disso! Não tem nenhuma decência, não respeita leis nem convenções, não tem dó nem piedade. Procura o nosso ponto
mais fraco e o encontra com a maior facilidade. Começa pela mente, sempre. Num momento, estamos nos sentindo calmos, confiantes, contentes. Aí o medo, disfarçado sob a capa de uma ligeira dúvida, se infiltra na nossa mente como um espião.
Escolher a dúvida como filosofia de vida equivale a escolher a imobilidade como meio de transporte.
A dúvida vai ao encontro do descrédito e o descrédito tenta expulsá-la dali. Mas ele não passa de um soldado de infantaria com armamento deplorável. Sem maiores problemas, a dúvida consegue vencê-lo. Começamos a ficar ansiosos. A razão entra em cena para lutar por nós. Ficamos mais tranquilos. Afinal, ela está inteiramente equipada com armamentos da mais avançada tecnologia. Mas, para nossa surpresa, apesar da superioridade das suas táticas e de uma quantidade inegável de vitórias, a razão é derrotada. Nós nos sentimos enfraquecidos, hesitantes. A nossa ansiedade se transforma em pavor.
Porque, se não fizermos isso, se o nosso medo se tornar uma escuridão indescritível que evitamos a todo custo, algo que talvez até possamos esquecer, estaremos abrindo a guarda para sofrer novos ataques, já que nunca enfrentamos para valer o adversário que nos derrotou.
O medo, o medo de verdade, aquele que abala até mesmo os nossos alicerces, aquele que sentimos quando nos vemos cara a cara com o nosso fim mortal, se instala na nossa memória como uma gangrena: trata de estragar tudo, até mesmo as palavras que usamos para falar dele. Portanto, é preciso um esforço enorme para expressá-lo. Temos de lutar bravamente para lançar a luz das palavras sobre ele.
A vida é tão linda que a morte se apaixonou por ela, e é um amor ciumento, possessivo, que tenta controlar o que pode. Mas a vida escapa a esse controle com a maior facilidade, perdendo apenas uma coisinha ou outra sem grande importância e, para ela, a tristeza nada mais é que a sombra passageira de uma nuvem.
Quando já se passou por muita coisa ruim na vida, cada dor adicional acaba sendo, a um só tempo, insuportável e insignificante.
Na vida, é importante concluir as coisas do modo certo. Só então a gente
pode deixar aquilo para trás. Caso contrário, ficamos remoendo as palavras que podíamos ter dito, mas não dissemos, e o nosso coração fica carregado de remorso.
É difícil acreditar no amor. Perguntem a qualquer apaixonado. É difícil acreditar na vida. Perguntem a qualquer cientista. É difícil acreditar em Deus. Perguntem a qualquer crente. Qual o seu problema com as coisas difíceis de acreditar?
Nunca o esqueci. Será que posso dizer que sinto saudade dele? Pois sinto. Sinto mesmo. Até hoje sonho com ele. Na maior parte das vezes, são pesadelos, mas pesadelos com um toquezinho de amor. Como é estranho o coração humano… Ainda não consigo entender como ele pôde me abandonar daquele jeito, com tamanha facilidade, sem qualquer tipo de despedida, sem olhar para trás uma vez sequer. Essa dor é como um machado que me corta o coração.
Os hindus, na capacidade que têm para o amor, são efetivamente cristãos carecas, exatamente como os muçulmanos, no sentido em que veem Deus em tudo, são hindus barbudos, e os cristãos, em sua devoção a Deus, são muçulmanos de chapéu.
Perder um irmão é perder alguém com quem se pode compartilhar a
experiência de crescer; alguém que pode teoricamente lhe dar uma cunhada e sobrinhos, criaturas que vão povoar a árvore da sua vida e lhe dar novos ramos. Perder o pai é perder aquele cuja orientação e cuja ajuda procuramos; aquele que nos apoia como o tronco apoia os ramos. Perder a mãe, bom, é como perder o sol acima de nós. É como perder — desculpem, prefiro parar por aqui.
Duvido que alguém que compreenda o islã, o seu espírito, não venha a amá- lo. É uma bela religião de fraternidade e devoção.
O mundo não é apenas do jeito que ele é. É também como nós o compreendemos, não é mesmo? E, ao compreender alguma coisa, trazemos alguma contribuição nossa, não é mesmo? Isso não faz da vida uma história?