No dia 29 de março de 2017, o escritor gaúcho Gustavo Melo Czekster lançou seu segundo livro de contos. Autor também de O Homem Despedaçado (2011), Czekster foi o vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura 2017, na categoria conto, prêmio este mais do que merecido, pois este é um escritor que inova a literatura nacional, tornando-a uma arte exemplar que convida o leitor a refletir sobre a literatura e sua relação com o mundo e com a mente humana. Czekster escreve narrativas que misturam visões realistas e fantásticas do mundo, entrelaçando sonhos e realidade, em obras nas quais notamos um quê de influências que vão desde Borges, até Dostoiévski, Shakespeare e Poe. Por meio de metáforas líricas e repletas de referências literárias, os contos do autor evidenciam as questões mais essenciais e profundas da existência, principalmente seu aspecto efêmero (tanto é que quatro dos vinte contos desta obra são chamados Efemeridade e todos eles completam uns aos outros, apesar de poderem ser lidos individualmente). A resenha completa já foi publicada aqui no NotaTerapia, escrita por Marina Franconeti. No entanto, ainda pode ser interessante para o leitor, após ler a resenha de Marina, dar uma olhada nas 20 frases marcantes as quais selecionei para esta lista.
O livro é uma incrível viagem lírica ao subconsciente, ideal para leitores vorazes que gostam de ver como a literatura é um universo incessantemente expansível, pois as citações a clássicos literários, tanto direta quanto indiretamente, são um dos diferenciais destes contos, como por exemplo, no conto Mercúrio deve Morrer, narrativa esta que só pode ser considerada uma obra prima da literatura contemporânea nacional: o conto trata-se de uma criativa reflexão sobre as motivações existenciais humanas, ao mesmo tempo em que reúne em uma peça fictícia diversos ícones literários os quais morrem em suas respectivas obras.
Diversos são os contos deste livro os quais podem ser mencionados como destaques, mas se eu fosse mencionar todos, acabaria tendo que contar sobre o livro todo, pois a obra é impressionante pelo conjunto completo. Porém, os contos que mais me marcaram, particularmente, foram Os que se arremessam (uma reflexão sobre viver no limite, se arremessar, de maneira a tornar-se eterno, ter a experiência completa da existência através do ato de quase destruí-la). Outro conto que posso destacar (e limitar-me-ei a estes dois para não alongar por demais esta introdução da lista de citações) é A Passionalidade dos Crimes, o qual mostra o poder de um texto.
Enfim, para uma análise mais aprofundada e mais detalhada da obra, leia a resenha de Marina Franconete aqui.
Veja abaixo uma lista com 20 das mais marcantes citações encontradas em Não há amanhã (seleção difícil de fazer para chegar a somente 20!) e, caso você também já tenha lido o livro, comente sugerindo mais citações dele. Caso ainda não tenha lido-o, estas citações podem dar alguma ideia do que esperar quando ler a obra (ou não, pois a leitura dos contos completos ainda pode surpreender muito mais).
“Pesadelos caminham nos limites não traçados do absurdo.” – página 13
“Os demônios estavam fugindo pelo buraco aberto na sua cabeça.” – página 14
“[…] sua obsessão: a última palavra. O gatilho. Aquilo que algumas pessoas iluminadas conseguem descobrir, mas não suplantar. O nome secreto que cada alma possui.” p.31
“Não existe texto inocente, o que implica em dizer que todo texto é um crime passional. Escrevemos procurando a vítima, procurando a morte que desliza entre as linhas, sempre próxima, sempre neblina.” – p.33
“Da tristeza nasce um sentido possível para a vida. A música nunca me deixa só, é quem me acompanha nos prados infinitos, é quem preenche meus passos com ruídos invisíveis, é minha amiga nas noites repletas de parafina escorrendo.” – p.37
“Não sei o motivo pelo qual faço isso. Não sei o motivo de tanta dor. Seria tão simples não criar, sufocar a voz que nunca se cala, manter a música presa dentro do corpo.” – p. 39
“A música toma forma na minha frente, e sei, no meu mais íntimo, que hoje todos irão entender. Que eu não sou um homem, mas uma música que anda.” P.39
“Quando falo em se arremessar, estou falando sobre o correr e se jogar, impulsionar-se, perder os limites e, por breves, inebriantes segundos, tornar-se eterno. […] Engana-se quem pensa que arremesso é sinônimo de morte. O grande objetivo é chegar perto e não morrer, apesar de acidentes acontecerem.” – p. 43
“Palavras são ervas daninhas capazes de derrubarem a mais resistente das sanidades.” – p.45
“O mundo é formado por um sem-fim de eventos apavorantes” – Efemeridade, várias páginas.
“[…] talvez o ato de buscar algo seja inerente a todo ser humano[…].” – p. 67
“É divertido imaginar-se anônimo, sem cargas, sem experiências, sem temores ou paixões, uma tábua em branco a ser preenchida pelo mundo.” – p.79
“Somos nada que um dia retorna ao nada, e o sentido final de tudo é desaparecer no vazio. Afinal, se um livro pode morrer, qualquer coisa pode morrer.” – p.83
“O desejo de destruição pelo simples prazer de destruir é o mais humano de todos.” – p.113
“Andaríamos no meio de indefinições e incertezas, rodeados por um mundo que se constrói e se desvanece dentro de cada olhar.” – p.114
“A cidade sonhava os homens no seu interior. Não éramos reais, somente partes minúsculas de um tudo que não compreendemos.” – p.115
“O autor é falível e frágil, o texto não, e o sonho de cada escritor deveria ser morrer tão logo a obra venha ao mundo, pois nada mais deveria ser dito.” – p. 118
“O único sentido da existência é esperar o fim; somos meras vírgulas, nunca pontos finais.” – p.119
“Assim como a borboleta, a vida inteira não passa de um prenúncio da morte. O personagem só existiu para deixar de existir […].” – p.130