Traduzido de Taste of Cinema
A semente do existencialismo é comumente remetida ao filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, que descreveu a condição humana como um esforço individual contra o tempo. Desde Kierkegaard, muitos filósofos tentaram estudar a condição humana pela filosofia e entender a natureza do sofrimento, do senso de realização, etc. Quando o cinema se tornou uma forma de arte madura, também começou a expor essa preocupação filosófica por meio das experiências dos personagens e pela maneira que eles se comunicam.
Filmes que exibem um indivíduo e sua luta subjetiva contra a sociedade e a verdade são exemplos da profundidade que os filmes podem atingir com o retrato da condição humana. As obras seguintes são todas de diferentes estilos e tratam de diversas temáticas, mas há sempre o constante questionamento da realidade e da sua relação com o indivíduo.
1- Hamlet Vai à Luta (1987), dirigido por Aki Kaurismäki
O quarto filme de Aki Kaurismäki é uma adaptação da tragédia shakespeariana, realizada com muita consciência da forma particular do cinema, dispensando os clássicos diálogos e monólogos para apostar muito mais na contemplação silenciosa e em gestos para exibir as crises internas do personagem. O filme mostra os clássicos personagens numa ambientação contemporânea e demonstra o dilema e a transformação de Hamlet sem nenhum monólogo.
2- A Doce Vida (1960), dirigido por Federico Fellini
Foi em 1960 quando Federico Fellini exibiu seu estilo altamente pessoal e hipnotizante com a primeira de suas obras-primas, A Doce Vida. O filme trata de uma semana na vida de Marcello Rubini (Marcello Mastroianni), um jornalista mergulhado no mundo glamoroso e excêntrico da Roma moderna. O personagem está na busca constante de uma realização, tentando se satisfazer de diversas maneiras, mas não conseguindo afastar a doença existencial da “doce vida”. O filme culmina no final memorável em que Marcello se relaciona com uma jovem e inocente personagem, que permanece inalcançável para ele por conta dos diferentes mundos em que vivem.
3- Verdades e Mentiras, dirigido por Orson Welles
30 anos depois de Cidadão Kane, Orson Welles provou ao mundo que ainda era capaz de produzir filmes únicos e originais com o seu inclassificável filme Verdades e Mentiras. Com retratos do forjador de arte Elmyr de Hory, dele mesmo e de Picasso, Welles medita sobre a condição humana e sua relação com a arte. Ele questiona o verdadeiro valor da arte e da autoria à medida que tenta revelar onde ele reside. Guiado pela personalidade de Welles, o expectativa entra numa crise existencial enquanto nossa concepção de arte, autoria e verdade é desafiada pela “mágica” que o cineasta executa com a linguagem de seu filme.
4- O Que São As Nuvens?, dirigido por Pier Paolo Pasolini
Nessa adaptação em curta-metragem de Otelo presenciamos uma montagem de marionetes que interagem atrás do palco para questionar as decisões de seus personagens. A marionete de Otelo questiona tanto seu personagem quanto a realidade de sua representação, sendo assim uma crise existencial que extrapola os ciúmes do personagem shakespeariano.
5- Monty Python – O Sentido da Vida, dirigido por Terry Jones
Os filme de Monty Python são tão aprazíveis não apenas por seu cinismo ou inventividade do grupo, mas também pelo profundo entendimento da sociedade e de problemas filosóficos que o grupo exibiu no cinema. O Sentido da Vida é um grupo de esquetes temáticas que se debruçam sobre diferentes aspectos da existência humana, como o crescimento, a sexualidade, e a religião (com um senso de humor agudo). O filme revela o absurdo e as contradições das diversas maneiras com que a humanidade lida com esses assuntos.
6- A Eternidade e Um Dia, dirigido por Theo Angelopoulos
É por meio do seu relacionamento com o tempo que o indivíduo se compreende. O que foi, o que é e o que será são questões respondidas com a meditação da nossa memória; um assunto que Angelopoulos escolheu para guiar seu personagem no filme de 1988, A Eternidade e Um Dia. Um escritor chamado Alexander começa uma jornada pessoal ao tentar encontrar um novo dono para seu cachorro. Além disso, ele acaba salvando um jovem imigrante e percorre um nostálgico caminho em que seu relacionamento com o passado (e o passado da própria Grécia) são revelados pela linguagem hipnotizante do mestre Angelopoulos.
7- O Show de Truman, dirigido por Peter Weir
Este é outro filme em que um personagem é colocado num dilema existencial e acaba duvidando da realidade do mundo. Lançado em 1998, o filme dirigido por Peter Weir, escrito por Andrew Niccol e estrelado por Jim Carrey apresenta um personagem chamado Truman, que faz parte de um dos projetos de TV mais ambiciosos de todos os tempos: um programa que é exibido ao vivo pelos vários anos vividos por Truman, em que toda uma cidade é simulada para fazer com que o personagem acredite ser real.
8- Blow-Up – Depois Daquele Beijo, dirigido por Michelangelo Antonioni
Em 1966, depois dos quatro filmes que Antonioni realizou sobre as dinâmicas dos relacionamentos nos tempos modernos, o diretor lançou uma película que lidava com uma temática completamente diferente: Blow-Up. Baseado no conto “Las Babas del Diablo”, do escritor argentino Júlio Cortázar, o filme conta a história de um fotógrafo de moda que mergulha na investigação de um crime que ele acredita ter descoberto.
O fotógrafo descobre e investiga o crime apenas pelos fragmentos de realidade que ele capturou com sua câmera; portanto há uma constante barreira entre ela e si mesmo. Ele é somente capaz de descobrir a realidade por meio de fragmentos, fazendo com que o mistério que tenta desvendar persista.
9– Morangos Silvestres, dirigido por Ingmar Bergman
Depois do profundo pessimismo de O Sétimo Selo, em que Bergman se aprofundou na relação de um homem com a morte, e também depois de um longo período de reclusão e doença, o diretor sueco realizou um dos filmes mais otimistas de sua carreira, tratando da morte de uma maneira diferente.
Morangos Silvestres foi lançado em 1957, estrelado pelo pioneiro do cinema sueco Victor Sjöström, e pelos muitos colaborador de Bergman. Nesse filme, Bergman apresenta um homem velho e amargurado que decide fazer uma viagem de carro para Universidade de Lund, para receber um prêmio. Enquanto isso, tenta compreender sua vida e seu valor.
10- O Sacrifício, dirigido por Andrei Tarkovski
Durante o filme um ator aposentado precisa lidar com uma atmosfera apocalíptica, com a explosão da Guerra Fria e com Argameddon nuclear tomando conta da terra. A maior parte do filme se passa numa ilha em que o personagem vive com a família e amigos, onde eles só sabem do que está acontecendo por meio do rádio, de comentários e de mudanças na atmosfera.
O personagem principal, Alexander, enfrenta uma profunda crise existencial à medida que presencia o mundo chegando ao seu fim, e tenta compreender suas escolhas na vida. No final do filme, ele confronta uma decisão que envolve um ato de confiança que apenas ele pode realizar, desvinculado da razão, o que resultado em um dos finais mais belos e ambíguos da história do cinema.
Fonte: http://www.tasteofcinema.com/2018/10-best-movies-about-existential-crisis/http:/www.tasteofcinema.com/2018/10-best-movies-about-existential-crisis/