Após o rebuliço das declarações de Lula, sobre o processo em curso na Palestina ser um genocídio e da nomeação do presidente como persona non grata, Israel bloqueou a ajuda humanitária do Brasil em Rafah. As 30 caixas de insumos incluindo filtros de água e freezers, foram bloqueados pelas forças militares israelenses, alegando que a entrega que estava junto com outros 400 pacotes, seria “incompatível e perigosa para a segurança do Estado de Israel”. Os insumos foram retidos e enviados para um galpão da Cruz Vermelha em Atish, outras ajudas também têm sido bloqueadas.
Apesar das declarações de Lula tensionarem o debate internacional, o movimento brasileiro pró-palestina gostaria de ver Lula avançar em ações concretas. Com isso, destaca-se o abaixo assinado enviado ao governo – e ainda aberto para novas assinaturas – que tem como signatários políticos: mandatos ativos de esquerda como a Bancada Feminista, cantor Emicida, o Movimento sem Terra e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
Dentre as exigências que foram mencionadas nessa articulação nacional, encontra-se a suspensão imediata de todos os acordos de importação e exportação comercial, o fim das relações militares e de compra de equipamentos de guerra, e também, que todas as pessoas brasileiras com envolvimento em crimes de direito internacional relacionado ao genocídio sejam processadas, julgadas e responsabilizadas judicialmente.
Compreende-se que o genocídio palestino em curso, também possui uma singularidade, por ser caracterizado como um processo de “limpeza étnica”, conforme indica a historiadora Débora Frias. Essa classificação seria feita pois, além da violência, expulsões e massacres exercidos por Israel, existe uma intenção de silenciar as vozes dos palestinos no território, “além de empregar formas de apagá-los de uma memória e história oficial” e “desarabizar” o território.
A retórica de Lula seria suficiente? São necessárias ações concretas para fortalecer a mobilização contra Israel, será que o companheiro está disposto de abrir mão dos acordos comerciais? Pelo visto, não.
Sobre a autora:
Priscilla Marques, historiadora pela UFRJ e mestre em História da África. Atualmente, é membra do NEHAC/UNIFESP e tradutora da Revista Jacobin. Além disso, ela comanda o excelente perfil @historiadoraobstinada
Artigo completo: https://africasacountry.com/2024/05/retorica-nao-e-suficiente