Havia tornado-se de caráter público e notório o episódio em que a editora letras e companhia tomara, por carta, uma terminante recusa formal do grande escritor fulano de tal, cujo nome não vale a pena dizer a fim de manter o caráter plenamente ficcional e distanciado desta narrativa, pontuação válida tendo-se em vista que pode qualquer um pensar que estaria esta narradora com medo de qualquer trâmite judicial em decorrer de um nome citado. O caso fora publicado há menos de um dia no twitter, no qual a editora revelou a carta, e veja bem que nem era e-mail, deu-se a formalidade tamanha que gastaram-se até obsoletas tarifas de correios, na qual o grande fulanão desculpava-se, dizendo não achar a editora comercialmente viável para seus fins pessoais e recomendando-lhe outros autores. O caso arrematou comoções de todo o público, ao qual nunca faltou admiração para com o trabalho da letras e companhia, sempre dedicada a publicar as melhores obras, obstinada em fazer do trabalho editorial um verdadeiro ode ao ofício do livro impresso. Apesar disso, viu-se renegada pelos interesses comerciais e certamente duvidáveis do autor que, esquecendo-se de que precisava de uma editora que lhe contribuísse artisticamente com a impressão da obra, prestigiando assim seu trabalho com a honra de um artista dedicado, deixou-se levar entretanto aos rumos do dinheiro, às facilidades do mercado e aos pedidos febris de um público que não necessariamente parecia saber o que queria.
Antes que ache o leitor uma unicidade inexistente na situação e que apenas uma editora, hoje consagrada e muito bem posicionada no mercado, foi rejeitada por outros autores de médio e grande porte, é preciso dizer que o furor instaurado na internet trouxe outras companhias a abrir seus arquivos e a publicar as inúmeras cartas e e-mails de recusa recebidos de tantos autores e autoras, todas estas editoras hoje famosas e já reconhecidas pelo trabalho excepcional que realizaram na literatura. A aleatoriedade da recusa dos escritores, que nem por um momento pareceram avaliar seriamente o material que lhes fora enviado, e quando muito ainda deixando-o à mercê de interesses financeiros rasos e instantâneos mostrou não um quadro nacional, mas ligado a vários e vários países, nos quais os escritores deixaram sua arte literária tornar-se fúnebre mostruário de livrarias. A moral das acusações públicas, contudo, nem sempre mostraram-se contrariadas ao giro de verbas editoriais, sendo que muito do pedido da opinião geral era cobrança aos autores para que investissem no potencial artístico de cada editora, trabalhando num conjunto que visasse o lucro a partir de bom trabalho e grande investimento, além de compromisso ético com a arte. Talvez nem seja preciso me ocupar em dizer que os autores em nada se manifestaram sobre o assunto, exceto o grande fulanão, esse sim, que evidenciou a polidez de sua carta, ótima educação dirigida a uma editora que, à época, era pouco mais que um nada e bem menos que alguma coisa. Alguns poucos alegaram que tinham processos metodológicos e bem profissionais para avaliar os materiais enviados por cada editora, mas amigos próximos desmentiram em segredo, revelando que, se não eram lidos por assistentes de cada autor, os materiais eram descartados a uma simples olhadela no nome da editora, seguindo uma lógica relacionando-se a um renome de sua marca ou não.
Assim, contudo, como deu-se essa revolução das editoras a partir de um pequeno episódio, no caso o de uma famosa companhia que revelou a recusa de grande autor, voltaram-se as coisas a seu devido normal com outro pequeno acontecido, assim como devem ser as coisas, roda-se o mundo e mantém-se o estado de fluxo de acontecimentos da história a partir das pequenas coisinhas que fazem-se agigantar para todos os lados, como a recusa que um escritor, belo dia, recebeu na porta de casa, numa carta curta e precisa de editora, redimindo o sentimento de todas elas, suas vergonhas, suas sujeições às boas vontades dos autores e de suas comprometidas ganâncias ao mercado.