Talvez você já tenha percebido, mas aqui vai uma verdade: raramente escrevo sobre curtas-metragens. Muitos deles dariam textos igualmente curtos – o que não é de se dispensar no mundo virtual do Tik Tok, com conteúdos cada vez mais diminutos – mas existem aqueles curtas diferentes, que conseguem fazer caber em poucos minutos histórias complexas ou bastante singelas. Um exemplo da primeira é “Firmina”, sobre violência contra a mulher, e da segunda é “Ponto e Vírgula”, sobre romance LGBTQ+ na terceira idade – um tema cada vez mais relevante.
Para Beto (Rocco Pitanga), filho de Vitor (Wilson Rabelo), João (Buda Lira) se apresenta como amigo “das antigas” dos pais do rapaz. Conheceram-se em Pernambuco, pois João tem um restaurante em Olinda. Vitor e João são mais que amigos, na verdade, pois mal chegaram à casa de Vitor no Rio e, aos beijos guardados por trinta anos, já foram para a cama. Em meio a conversas e lições de culinária, João busca, mesmo sem saber, a aprovação de Beto, que não há muito tempo perdeu a mãe.
Há algum tempo, vi um post no Tumblr que celebrava o fato de que, num futuro próximo, vovôs gays e vovós lésbicas serão uma realidade. Mas idosos queer já são, com a diferença de que muitos viveram muitos anos dentro do armário. Eles já estão representados inclusive no cinema: tome como exemplo o papel que deu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Christopher Plummer em 2011, no filme “Toda Forma de Amor”, ou o brasileiro “Greta” (2019), com um romance LGBTQ+ intergeracional entre os personagens de Marco Nanini e Démick Lopes.
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Vencedor do Prêmio do Júri entre os curtas-metragens no Festival de Cinema de Gramado, bem como os galardões de Melhor Ator e Melhor Trilha Musical no mesmo festival, “Ponto e Vírgula” fala com delicadeza do amor maduro e queer, bem como deixa uma mensagem sobre a possibilidade de recomeçar, que todos nós temos. A trilha é assinada por Liniker, com uma música bastante importante para embalar e levar adiante a narrativa.
O roteiro e a direção ficaram a cargo de Thiago Kistenmacker, que já tem sete filmes na carreira. Estima-se que, antes da pandemia, eram feitos 500 curtas por ano no país, e o número só aumentou desde então. Curtas sempre serviram de trampolim para os mais arrojados longas, funcionando como escola e experimentação para criativos diversos.
E o que eu temia aconteceu: ficou um texto relativamente curto sobre um curta. Dizem que nos menores frascos estão os melhores perfumes – e os piores venenos, mas vamos esquecer essa parte – e é na rica produção audiovisual brasileira de curtas que encontramos pérolas como este “Ponto e Vírgula”.
Assista ao trailer:
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