Quando eu era criança, queria ser paleontóloga. A ideia de escavar ossos de dinossauros, extintos há milhões de anos, era uma das coisas mais encantadoras do mundo para mim. Essa vontade foi intensificada – ou produzida, a memória já não me é mais tão clara, mas isso não importa – por Jurassic Park. Quem foi criança ou adolescente nos anos 90 deve ter assistido ao filme de Steven Spielberg, que marcou uma geração e fez com que meninos e meninas andassem pelos seus jardins cutucando a terra e tendo certeza que aquela pedra era, na verdade, um fóssil.
Ao ler o livro de Michael Crichton que inspirou a versão do cinema, fui retomando todas essas memórias da época em que me juntava com amigos e olhava cada pedacinho de pedra no microscópio em busca de algo incrível e da vez em que podíamos jurar que, na quadra de futebol da escola, havia um fóssil inteiro de um Tiranossauro Rex. O livro relata a história da misteriosa ilha comprada pelo milionário John Hammond na Costa Rica e que se revela, então, como o local escolhido para seu parque dos dinossauros. Usando tecnologia genética de ponta, Hammond e sua equipe recriaram os dinossauros. Modificação e manipulação genética, criação de ovos semelhantes aos “naturais”, ambientes (supostamente) controlados… tudo para trazer de volta à vida estes seres gigantescos que encantam o mundo – e vão, segundo Hammond, encantar mais e mais pessoas agora que estão novamente habitando o planeta (além de, é claro, gerar um lucro inimaginável).
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São convidados para conhecer a ilha o paleontólogo Alan Grant, a paleobotânica Ellie Sattler, o matemático Ian Malcolm, o programador Nedry e o advogado Gennaro, todos participantes, de um modo ou de outro, do projeto inicial do parque. Alguns que sabiam que se tratava da (re)criação de dinossauros, outros não. Hammond convida, também, seus netos, Timmy e Lex – o menino, fanático por dinossauros. Tudo está planejado para correr bem e os convidados devem aproveitar o tour que irá mostrar, pela primeira vez, a incrível invenção de Hammond. Até que a energia cai. E o carro elétrico para. E as redes eletrificadas de proteção são desativadas. E o grupo se vê desamparado, numa ilha, no meio de uma tempestade… Com dinossauros à solta.
A habilidade de Crichton em criar personagens complexos e intrigantes é estonteante. A trama se desenrola de um modo que faz com que seja impossível largar o livro. As cenas são, certamente, muito mais sanguinolentas e assustadoras do que aquelas retratadas pelas telas do cinema. A tensão aumenta a cada página.
Crichton consegue criar um thriller aterrorizante e que, além de captar o leitor por sua temática fantástica – a volta dos dinossauros à Terra, agora coexistindo com os seres humanos – também o faz a partir de uma séria e contundente crítica ao uso descabido dos avanços tecnológicos. Tal crítica se dá, principalmente, através do matemático Ian Malcolm, que pela Teoria do Caos aponta para os riscos de nós, humanos, acreditarmos que porque temos capacidade científica para fazer algo, necessariamente devemos fazê-lo. É um livro brilhante, talvez um dos melhores de Crichton, que consegue reunir dinossauros e dilemas bioéticos com a maestria de um gênio.