Desde que o pai de Evie Riski a presenteou com um diário, uma semana antes de seu aniversário de onze anos, ela nunca mais parou de escrever. O intuito do pai era que ela registrasse as ocorrências de sua cidade natal, Niagara, Dakota do Norte, nos EUA. Hoje, aos cem anos, Evie mantém o hábito de anotar o dia em seu diário antes de dormir.
“Hoje em dia, quando tudo se resume a polegares e mensagens de texto, é bom sentar, escrever e refletir em letra cursiva. Tornou-se uma arte perdida.”
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Em um baú de cedro, estão as dezenas de volumes nos quais estão registrados as décadas de vida: tarefas agrícolas, paixões da adolescência, o nascimento de seus três filhos e a morte do seu marido. “A vovó esteve em nossa casa. Clarence veio a pé da casa da tia Alma esta manhã”. Escreve Evie, sempre em letra cursiva. De acordo com especialistas, a letra cursiva traz inúmeros benefícios, incluindo melhores habilidades motoras e desenvolvimento cognitivo.

Todas as noites, quando acabo de escrever, olho sempre para trás um ano para ver o que estava fazendo no ano anterior […] Não é preciso muito tempo todos os dias, e é um hábito maravilhoso para se adquirir.
Evie quase nunca separou-se de seu diário, com exceção dos dias em que teve filhos ou quando precisou ficar internada. Até em viagens, ela escrevia. “Escrevi em papel de rascunho e transferi para o diário quando cheguei em casa”, ela lembra. “Realmente não tinha desculpa para não escrever”.
Sua devoção ao papel e a caneta não cessaram nem mesmo durante a criação de seus filhos. A filha, Michelle Locken, de 59 anos, lembra que todas as noites, a mãe sentava-se à mesa da cozinha e escrevia, não importava o que estava acontecendo: “Mesmo com três crianças nascidas durante um período de quatro anos, ela continuou escrevendo”.

Evie tentou passar adiante a tradição do diário por meio dos filhos, assim como seu pai tinha feito. “Ela me comprou um diário quando eu tinha 10 anos, mas eu estava mais interessada em andar de bicicleta e correr com meu cachorro”, Michelle diz. “Foi só quando eu tinha 30 anos que decidi retomá-lo, e estou muito feliz por ter feito isso”.
Além de registros da cidade da Dakota do Norte, nos EUA, os diários de Evise também ajudam a resolver problemas familiares. “Se alguém discorda sobre a data de nascimento de uma pessoa ou o quanto nevou em algum ano específico, tudo o que precisamos é dar uma olhada nos diários dela”, revela Locken. “Minha mãe tem uma memória ótima. Está tudo lá”.

Atualmente, Riski reside no centro de vida independente Good Samaritan Society – Prairie Rose. Segundo a administradora do local, Anna Halvorson, a senhora de cem anos é uma inspiração para aqueles que estão à sua volta.
Fonte: Estadão/ Matéria original Washington Post