Essa caracterização de Kafka no ensaio que marca os dez anos de sua morte é uma verdadeira obra-prima da crítica literária de língua alemã, ainda que tenha encontrado seu reconhecimento somente após a morte de Benjamin.
Trecho do prefácio
Kafka em quatro ensaios-relâmpago, com tradução de Gustavo de Carvalho e publicado pela editora 100/cabeças, é um retrato do encontro entre duas grandes forças pensantes do século XX: o crítico literário alemão Walter Benjamin e o escritor Franz Kafka, um dos maiores escritores de seu tempo, mais conhecido pelos romances A Metamorfose e O Processo. Os ensaios que compõem a obra foram produzidos entre os anos de 1925 e 1939.
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O livro conta com prefácio e notas do tradutor, que contextualiza historicamente a obra, além de tecer comentários sobre os textos presentes na coletânea: “A Moral Cavalheiresca” , “Franz Kafka: Na construção da muralha da China”, “Franz Kafka: por ocasião do 10o aniversário de sua morte” e “Max Brod: Franz Kafka. Uma biografia (lembranças e documentos)”.
Para Carvalho, a seleção dos textos e o conjunto da obra não se propõem a serem um livro de história literária, e, sim, “um verdadeiro monumento ensaístico em homenagem a um dos grandes clássicos da literatura mundial”, referenciando-se à rara profundidade da leitura de Benjamin em comparação à abundante fortuna crítica produzida a respeito de Kafka.
Vale ressaltar que os quatro ensaios escolhidos possuem variedade no que diz respeito à forma como foram publicados em sua época. “A Moral Cavalheiresca” foi originalmente veiculada em 1929 como artigo de opinião de caráter satírico, mais conhecido como Glosse. Já “Franz Kafka: Na construção da muralha da China” foi produzida e publicada como leitura pública, tendo sido transmitida como ensaio radiofônico em 1931, pela emissora Frankfurter Rundfunk.
“Quem, afinal, foi Kafka? Ele fez de tudo para obstruir o caminho rumo a essa resposta. De um modo inconfundível, ele se coloca no centro de seus romances, mas o que neles se passa é elaborado de tal forma a torná-lo mais indistinto, abstraindo-o de forma a ocultar no cerne da banalidade. A cifra K., com a qual se caracteriza o protagonista de O castelo, revela tão somente algo que podemos encontrar numa inicial costurada num lenço ou no forro de um chapéu, não permite que reconheçamos a pessoa que se oculta por trás dela. Em todo caso, poderíamos criar uma lenda em torno desse Kafka (…)”
Trecho de “Franz Kafka: na construção da muralha da China”
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“Franz Kafka: por ocasião do 10o aniversário de sua morte” foi definido por Carvalho como “o texto crítico e de longe o mais complexo tanto do ponto de vista interpretativo quanto do ponto de vista filológico” de Benjamin, cujo alcance frustrado levou ao retrabalho do texto, que contou com a leitura de Gershom Scholem, Theodor Adorno e Bertold Brecht. Mais tarde, Scholem, que também era seu amigo, solicitou uma resenha crítica de “Franz Kafka. Uma biografia (lembranças e documentos)”, de Max Brod, na tentativa de convencer o editor Schocken a publicá-lo, o que não ocorreu. Na realidade, “Max Brod: Franz Kafka. Uma biografia (lembranças e documentos)” só foi publicado postumamente, em 1966.
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Além da seleção, estudo e tradução minuciosa, Kafka em quatro ensaios-relâmpago também se destaca pelo projeto gráfico, que foi desenvolvido por Daniel Justi, finalista do Prêmio Jabuti 2024 na categoria Capa com o livro Antologia de mitos, lendas e contos populares da América, de Benjamin Péret, também publicado pela 100/cabeças. Neste livro, se destacam principalmente tons terrosos e avermelhados, com o texto em terracota.
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