Aos 35 anos, William Silva Placides realizou o sonho de se tornar diplomata. Além de ser bastante disputado, o concurso para ingressar na carreira de diplomata do Ministério das Relações Exteriores (MRE) é considerado um dos mais difíceis do país.
Natural de Itapecerica da Serra, em São Paulo, ele veio com a mãe e mais dois irmãos para o Distrito Federal (DF) em busca de melhores condições quando ainda era criança. Até os 19 anos, morou no Sol Nascente, periferia do Distrito Federal. Desde a infância enfrentou inúmeros desafios, mas não deixou de acreditar que poderia trilhar outro caminho com os estudos nem desanimou frente às adversidades.
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Trajetória
Com empenho e dedicação, foi aprovado em 2007 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por meio de uma bolsa integral pelo ProUni, formou-se em Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília. Após, foi selecionado para participar do programa Brasília Sem Fronteiras, fazendo intercâmbio na Áustria, e mais tarde, para uma experiência na Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra (Suíça).
Ainda durante o período da universidade, prestou concurso para o sistema penitenciário, emprego que permaneceu por 14 anos. Mesmo trabalhando e dividindo o tempo entre outras atividades para complementar a renda, encontrava tempo para estudar: “Eu estudei das 3h às 7h da manhã por anos. Era o único tempo que eu tinha entre o trabalho, o comércio e a responsabilidade com a família.”
“Minha história é diferente da de muitos dos meus colegas de profissão. Eu venho das periferias, conheci de perto a pobreza, a violência e as dificuldades de quem luta diariamente pela sobrevivência. Mas isso também me deu uma perspectiva única, uma sensibilidade necessária para entender o Brasil em sua complexidade”, disse em entrevista.

No Centro de Línguas do DF, também de iniciativa pública, aprendeu inglês, francês e espanhol. Depois de 7 anos e 6 tentativas, chegando até o final em cinco delas, William conseguiu a tão sonhada aprovação no final do ano passado e tomou posse em janeiro.
“Eu sonhei mais alto. Demorou um pouco, mas chegou o momento. E para os jovens daquela idade, eu acho que replicaria esse conselho. Se eles sonharem e, assim, acreditarem, forem dedicados, poderão ser o que eles quiserem, como minha mãe repetia. Não é a condição social da pessoa ou a origem que determina até onde podemos chegar: realmente, é o esforço. É claro que a caminhada vai ser mais longa e temos que estar preparados para isso. É muito diferente para quem teve todo o acesso, todas as condições, porque demora menos tempo para chegar até onde quer. Mesmo assim, nada é empecilho para ninguém. Vai chegar“, comentou.
Embora o concurso para o Itamaraty parecesse algo muito distante, foi a partir de 2017 que voltou a estudar com determinação para alcançar seu objetivo. Atualmente, está no Instituto Rio Branco (IRBr), academia que forma os diplomatas do Brasil.
“A gente estuda quatro idiomas estrangeiros ao mesmo tempo: espanhol, francês e o inglês, e tem que escolher entre árabe, chinês e russo, que foi a minha escolha. Depois de três anos em Brasília, eu vou ser desdobrado e vou passar provavelmente 10 anos servindo entre países diferentes, representando a nossa nação”, concluiu William.
Convidado para palestrar nas escolas públicas do Distrito Federal, comentou se sua história poderia inspirar outras pessoas: “É bom que essas histórias existem para inspirar, de alguma maneira. Eu me lembro que eu adorava ler uma história de um médico que saiu de tal lugar e passou em Medicina, assim como o cara que foi gari e virou juiz. Eu achava maravilhoso. Eis que, de alguma maneira, a minha história poderá ser usada para inspirar de alguma forma essa juventude”.