Dado o momento de Força Bruta – Condenação, quarto episódio da franquia sul-coreana, Ma Seok-do (Don Lee) proclama para seus colegas policiais que “caras maus” nunca se contentam com somente uma vítima: “Precisamos pegá-los antes que mais pessoas morram”. Uma frase simples que revela a alma igualmente simples da obra dirigida por Heo Myung-haeng: os caras maus existem, e Seok-do irá socá-los.
Há certa coragem em assumir essa postura tão preto no branco e nunca se desviar para qualquer tipo de comentário social ou tentativa de aprofundar os personagens. Seok-do é somente um policial que protege a população desferindo murros devastadores em seus oponentes, ou em quem ele precisar convencer a se tornar um aliado. Tenho para mim que parte da graça do cinema é um diretor fazer o mesmo filme várias vezes, com mudanças sutis. Força Bruta destila isso para fazer a mesma cena várias vezes, com mudanças ainda mais sutis.
É meu primeiro contato com a franquia, mas já deu para perceber o quanto a fisicalidade de Seok-do é o destaque da obra, não somente pelo fato de seu punho ter um espaço de destaque no pôster do filme, mas também por essa atenção especial aos socos e suas consequências. É uma câmera que não se cansa de exaltar o movimento fluido de Don Lee enquanto ele se esquiva de um ataque para, logo em seguida, conectar o golpe no maxilar de algum figurante sem nome, além do impacto no corpo com uma sonoplastia própria, característica. Ninguém bate como Seok-do bate. Seus aliados são competentes o bastante para não morrer nas lutas, mas é sempre ele que as encerra, de preferência mandando seu oponente voar pelo recinto, movimento que também é acompanhado pela câmera, sem falta.
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Para um herói tão simples, um vilão igualmente simples, mas com uma mudança importante: no lugar do punho, uma faca. Toda cena em que Baek (Kim Moo-yul) aparece, a morte de alguém é garantida. Sua motivação é igualmente clara: ele quer mais dinheiro que todos os outros caras maus que o cercam, um grupo envolvido num esquema de apostas online e criptomoedas.
Se não expandi a história neste texto é porque, francamente, ela pouco importa. Como abordei acima, para entender o mundo de Força Bruta – Condenação basta saber que há mocinhos e bandidos, e que o primeiro grupo até usa a violência, mas não mata; ao contrário do segundo, que assassina pessoas sem pestanejar. Abraçar essa binaridade é o maior trunfo do filme. Não precisamos pensar na violência policial diante de vilões tão claros, basta admirar os belos socos que os atingem.
Texto de cobertura do Festival do Rio 2024