“O Conde de Monte Cristo” é um clássico que existe em uma condição muito particular: embora conhecido e amado ao redor do mundo, e tendo sido objeto de adaptações para os palcos e telas desde sua criação, não houve ainda uma versão da história que tenha sido satisfatória enquanto adaptação mais ou menos fiel do texto de Dumas. Mesmo o conhecido e muito amado filme de 2002 – excelente em muitos sentidos, mas tão diferente de seu material original que mal consegue-se reconhecer a história após a marca dos trinta ou quarenta minutos – não alcança o objetivo. A obra prima de vingança ainda não tem uma adaptação que chegue perto de ser definitiva.
Isso, é claro, pode mudar em breve. Afinal, 2024 verá não uma, mas duas novas versões da história de Edmond Dantès: o filme francês estrelando Pierre Niney, que chega aos cinemas no final de Junho, e a série de Bille August protagonizada por Sam Claflin, que ainda não tem data de estreia, mas está prevista para o segundo semestre. Esse renascimento da obra de Dumas – que de fato vem recebendo novas adaptações mais ou menos uma vez a cada dez ou vinte anos – pode finalmente resultar no que leitores apaixonados vem desejando à anos: uma adaptação de Monte Cristo que faça jus ao brilhantismo e drama do romance. Para que isso aconteça, porém, alguns erros, invariavelmente cometidos por seus predecessores, devem ser evitados.
Em primeiro lugar, é necessário dizer que “Monte Cristo” precisa de tempo. Um romance de mais de 1.500 páginas nunca é fácil de adaptar – é só olhar para um colega, também vítima de muitas adaptações malfeitas, embora com considerável mais sorte que Monte Cristo em algumas poucas, “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, para ver que o problema é universal -, e especialmente quando tantas narrativas menores e personagens secundários existem, e são necessários para que a trama se desenvolva da maneira correta, é imprescindível que haja tempo.
Nesse ponto, é possível que as duas novas versões tenham alguma vantagem: o filme com Niney terá três horas de duração, enquanto a série com Claflin terá, no total, pouco menos de sete horas – é dividida em oito capítulos de mais ou menos cinquenta minutos cada.
Tempo, detalhes, personagens e nuances
“Monte Cristo” depende de seus muitos detalhes. Dumas estrutura sua narrativa de maneira que até os mais insignificantes eventos e minúsculos personagens sejam fundamentais para o funcionamento da história. São 1.500 páginas, mas, ao contrário da obra prima de Hugo, cujos capítulos com frequência são imensamente necessários para o enriquecimento intelectual e moral de seus leitores, mas pouquíssimo relevantes para a história de seus protagonistas, cada uma delas conta para o resultado da narrativa.
Muitas das pessoas que povoam o livro – Haydée de Janina, Eugenie Danglars, Maximilien Morrel, Luigi Vampa, Bertuccio, Edouard de Villefort, Benedetto, Caderrouse, Heloise de Villefort, o senhor Noitier, Hermine Danglars, Valentine de Villefort, Franz D’Epinay– são tragicamente ignoradas, muitas vezes em consequência da falta de tempo, embora vez ou outra por motivos mais complexos (a serem mencionados em breve), em versões para filme e TV (para palco, nem se fala). Esses sumiços tem consequências gigantescas para o enredo, que tem que ser desenvolvido de maneira totalmente diferente para acomodar a falta de certos personagens.
O caso mais óbvio, é claro, é o da exclusão de Haydée, a princesa grega que auxilia Monte Cristo em sua vingança contra Fernand Mondego, e por quem o Conde eventualmente se apaixona. Quase sempre ausente de adaptações, Haydée é uma personagem que altera fundamentalmente a maneira como o Conde de Morcefencontra sua ruína, e sem ela, não apenas a vingança que talvez seja a mais dramática de todas tem que ser totalmente modificada, mas também o personagem de Fernand precisa, necessariamente, sofrer alterações – sempre para pior, pois qualquer nuance que o personagem tenha acaba por ser jogada no lixo, nascendo um vilão de cartoon em seu lugar.
Outros desaparecimentos, porém, também tem um impacto imenso na narrativa: sem Heloise de Villefort, Hermine Danglars, Noitier, Edouard, Valentine e Benedetto, como se vinga Monte Cristo de Gerard de Villefort? O filme de 2002 resolve que com uma sauna, uma acusação de corrupção e um revólver descarregado, mas é uma solução no mínimo deselegante quando comparada à sofisticação e ao verdadeiro drama familiar que o Edmond de Dumas engendra, envolvendo venenos, assassinatos em série, uma falsa morte, um filho fora do casamento, um criminoso italiano, um bebê enterrado vivo e um julgamento público de alto calibre, resultando no enlouquecimento do juiz, que começa a cavar seu quintal em busca do filho que teria enterrado duas décadas antes. De maneira semelhante, o que leva Monte Cristo à refletir sobre a justiça de sua vingança se não existe ali o pequeno Edouard? Nada, a maior parte das adaptações dizem. O Monte Cristo das telas não tem a mesma complexidade de sua contraparte literária. Ele dificilmente tem qualquer dúvida a respeito da correção de suas ações.
As mulheres de Monte Cristo
Uma outra particularidade de “O Conde de Monte Cristo” – e essa, realmente, é inexplicável – é que a obra original, escrita na primeira metade do século XIX, trata infinitamente melhor suas mulheres que qualquer uma das adaptações posteriores. Dumas, que tem um rol de mulheres fortes e controversas em seus livros, desde Milady de Winter até Margarida de Valois, escreve um verdadeiro elenco de personagens femininas brilhantes em “Monte Cristo”, apenas para tê-las totalmente apagadas, seja literalmente ou em termos figurativos, de todos os filmes, peças, musicais e seriados que recontaram seu romance. Há nada mais nada menos que seis personagens femininas fundamentais para o enredo, mas o público que nunca leu o livro provavelmente seria capaz de citar apenas uma, Mercedes Mondego ou Mercedes de Morcef(née Herrera). Nas mãos de produtores, diretores e roteiristas, Haydée, Heloise, Hermine, Valentine e Eugenie são, na melhor das hipóteses, personagens secundárias para serem vistas, e não ouvidas, e na maioria das vezes inexistentes por completo.
Isso, é claro, é uma pena, pois as mulheres de Dumas são personagens brilhantes que rivalizam com suas contrapartes do século XXI em termos de agência e complexidade. Haydée é uma jovem vingativa e dissimulada, determinada, em muitos aspectos tão maquiavélica quanto o Conde, e exatamente por isso é seu par perfeito, sem, contudo, deixar de ser uma menina doce, sonhadora, jovem e apaixonada;
Heloise é nada mais nada menos que uma serial killer, uma personagem nos moldes de Cersei Lannister e Alicent Hightower como uma mulher que faria qualquer coisa – inclusive matar – para beneficiar seu único filho; Hermine envolve-se romanticamente não com um, mas com dois dos inimigos do Conde, sendo esposa de Danglars – e tendo um amante, com o conhecimento dele e de toda a Paris, que a visita em casa todos os dias e leva-a e sua filha ao teatro – mas tendo sido, antes, amante de Villefort, com quem teve um filho bastardo que foi enterrado vivo.
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Eugenie é lésbica – embora Dumas, obviamente, não coloque a coisa em termos tão claros, as incessantes comparações com Safo, a poeta grega tão conhecida por sua sexualidade que originou o termo “sáfico”, e Diana, a deusa caçadora que desprezava homens e vivia na companhia exclusiva de mulheres, a maneira como ela elogia outras mulheres, a forma como ela não apenas não dá atenção a homens como efetivamente os despreza e, é claro, o fato de que seu final feliz consistiu fugir, vestida de homem (tendo Dumas feito um ponto de dizer que ela o fazia tão bem que certamente não tinha sido a primeira vez), de seu casamento para viver com sua melhor amiga (com quem ela constantemente se tranca em seu quarto), e que o autor faz questão de especificar que as duas foram encontradas dormindo na mesma cama quando a polícia passou no hotel onde estavam hospedadas certamente deixa as coisas suficientemente explícitas – e uma mulher independente, com fortuna própria, que faz negócios com seu pai, nunca deixa de falar o que pensa e quer ser artista.
Mesmo Valentine, que é certamente a menos “moderna” de suas companheiras, é impressionante em seus próprios termos. Ela desenvolve um sistema de comunicação extremamente complexa que torna-a a única pessoa capaz de compreender seu avô paralítico e aceita forjar a própria morte para escapar de sua família.
E, é claro, há Mercedes. Mercedes Herrera, a catalã que passa de peixeira à condessa – é comparada inúmeras vezes à uma rainha -, que desde o princípio é vista vivendo sozinha, que espera por seu noivo que passa meses no mar com plena confiança de que ele retornará. Essa mesma Mercedes que, depois, convencida que Edmond jamais sairá de If, passa por seu luto, e então se casa e tem um filho.
Uma mulher forte, inteligente e corajosa, composta, digna e alvo de admiração geral, Mercedes é reduzida, em quase todas as suas versões para os filmes, para a Tv e para o teatro, a uma mulher triste e sofrida, que ainda sente pelo noivo que acha que morreu, que é maltratada pelo marido, e que está pronta para fugir em uma aventura romântica na primeira oportunidade. Um mundo de diferença em relação à Mercedes de Dumas, que está disposta a pedir a Edmond que morra para salvar a vida de seu filho, Albert; que confronta o homem que teve sua vida destruída por seu marido, e que em troca destruiu a dela, e lhe oferece compreensão, mas não o perdão completo, e certamente não seu amor; que aceita o suicídio do marido, a desgraça de seu nome, tornar-se pobre mais uma vez, ver o filho se alistar para lutar na África e perder tudo aquilo que lhe era querido com a graça e impassibilidade que apenas ela é capaz de reunir; que se resigna a terminar seus dias em um convento, aceitando como dote o dinheiro que tinha sido economizado por Edmond Dantés, o marinheiro de Marselha, para sua noiva, mas nenhum centavo vindo do Conde de Monte Cristo, um homem que ela não mais reconhece.
É essa a Mercedes magnífica de Dumas, que é repetidas vezes sacrificada no altar de um insistente romance hollywoodiano com seu amor da juventude que é enfiado goela abaixo da audiência uma vez, e outra, e outra.
Os vilões de Dumas e os demônios de Dantès
Não são apenas as mulheres de Monte Cristo as vítimas dessa romantização cinemática, porém: vai embora também boa parte da nuance que faz do livro mais do que uma simples aventura melodramática de folhetim. Isso pode ser percebido em vários momentos, mas duas ocasiões são exemplos bons o suficiente: as vinganças de Monte Cristo e sua visita a If. Por falta de tempo, sem dúvida, mas igualmente por falta de imaginação e compreensão do texto, são muitas as adaptações da obra que alteram tão fundamentalmente os planos de Dantès que, para justificar a maneira como acontecem, é necessário tornar os três vilões – Villefort, Danglars e Mondego – pessoas tão desprovidas de qualquer característica humana que é quase possível ouvir o eco de uma risada maligna toda vez que um deles entra na sala.
Os personagens de Dumas são homens que podem ser encontrados em qualquer salão da alta sociedade nos dias de hoje, como poderiam ter sido em sua época: homens de família, com diferentes graus de amor por seus filhos e esposa e envolvimento na vida doméstica; homens de negócios, com diferentes graus de competência e probidade; homens bem-quistos, muito agradáveis e por vezes até simpáticos demais. Homens, enfim, comuns, porém com mais de um segredo terrível. Homens que tem suas qualidades, mas sucumbem às suas fraquezas – ambição, ganância, paixão, bajulação, instintos de sobrevivência e autopreservação – por demais vezes. São essas as nuances que os tornam tão reais, tão críveis, e tão desprezíveis, sem que, em um momento ou outro, deixemos de sentir algum grau de simpatia por um ou dois deles.
E If. Não há nada mais absurdo que a decisão do filme de 2002 de mostrar Edmond Dantès comprando o Castelo de If para destruí-lo, quando Dumas escreveu a brilhante cena do retorno do Conde à prisão num momento de dúvida. Quando pensa que foi longe demais – uma criança inocente morreu em consequência de um de seus planos -, Monte Cristo se volta para o passado para decidir se está ou não justificado em suas ações. E prevalece. A dor foi muita, ele se lembra; a justiça exige ser feita. A exclusão dessa cena – e, de fato, de qualquer indício de dúvida no coração do protagonista – é um dos erros fatais de muitas adaptações, pois tira de Dantès sua humanidade.
Ele sempre tem certeza, e não há espaço para qualquer questionamento ou reflexão. Isso não é um homem, é uma entidade da Providência; e Dumas sempre fez questão que, embora o Conde se referisse a si mesmo nesses termos, ele não tivesse tanta certeza assim quando tudo estivesse terminado. Que isso seja ignorado é mau o suficiente; que Monte Cristo decida destruir If – o único lugar do mundo que lhe serve como âncora, pois o recorda da justiça das ações que ele perpetra e que o assombram – é um absurdo que teria o autor se revirando em seu túmulo no Panteão – e não podemos aceitar isso, já que seu vizinho, Victor Hugo, certamente há de se incomodar.
“AuthorIal Intent”: uma questão de compreensão e respeito
Há uma infinidade de outras considerações a serem feitas quando se fala de uma adaptação apropriada de “O Conde de Monte Cristo”, e poderia falar-se disso por páginas sem fim. São muitas as coisas que faltam nos filmes, séries, musicais e peças que existem hoje: a riqueza estética, vinda diretamente do orientalismo romântico do século XIX, do qual o livro é um forte representante; as tiradas de Monte Cristo, com frequência arrogantes ou politicamente incorretas, mas perfeitas para sua persona; a função que cada um dos filhos dos inimigos do Conde tem na trama, e o relacionamento muito particular de Monte Cristo com cada um deles; a personalidade da protagonista, seu amor por viagens, sua paixão por barcos, sua extravagância, seu humor, seu comportamento. Mas o traço comum entre essas muitas coisas, que constituem as falhas que – espera-se – deve consertar agora ao menos uma das duas novas adaptações desse romance épico tão amado (a aposta dessa autora está na série estrelada por Sam Claflin) é o respeito. Respeito pela obra, respeito por Dumas, e respeito pela história que ele pretendia contar.
Em muitos casos, a culpa é pura e simplesmente da falta de compreensão do texto. “O Conde de Monte Cristo” se tornou tão conhecido como “a maior história de vingança de todos os tempos” que, para muitos, foi reduzido à isso de fato. Não deve-se compreender mal: Monte Cristo é, de fato, uma história de vingança, e possivelmente a mais essencial de todas elas na medida em que influenciou definitivamente o gênero como um todo. Mas o ponto da história, para Dumas, nunca foi a vingança. Essa é a parte divertida, é claro.
Quem não sente satisfação pessoal quando os homens que mandaram um inocente para a prisão para garantirem seu amor, seu dinheiro e sua reputação acabam morto, falido e desgraçado, respectivamente? São essas as narrativas que mantiveram a história, publicada em capítulos ao longo de um ano em um jornal, interessante para o público por tanto tempo. Mas quando chega-se bem no fim – naqueles derradeiros capítulos depois que tudo está acabado – é que percebe-se que o autor tinha algo mais importante para dizer. Essa não é somente uma história de vingança. É a história da queda e ascensão de um homem que era jovem, e não é mais. Que era inocente, e não é mais. Que era bom, e que não tem mais certeza se ainda o é.
Quando o Conde retorna à Ilha de Monte Cristo pela última vez, dois homens e um menino estão mortos, outro está louco, e tantos outros, com seus filhos e suas mulheres, estão falidos, presos ou, de uma maneira ou de outra, arruinados, e ele está vingado. E, ainda assim, ele não está plenamente feliz. Edmond Dantès foi um rapaz bom, mas Edmond Dantès não existe mais. Ele envelheceu décadas em anos. Ele está exausto, se tornou cínico, calculista, frio, amargo. Quatorze anos de sua vida lhe foram tirados, aqueles de quem ele mais gostava morreram ou estão além de seu alcance e de qualquer afeição que poderia ter-lhe sobrado. Ele já sofreu muito. E não há vingança ou fortuna no mundo que possa curar sua alma, não por completo. E é assim que tem que ser.
O grande erro de adaptadores de Monte Cristo ao longo da história dessas adaptações tem sido dar a ele um final feliz tão açucarado que há de incomodar pelo menos um pouco qualquer pessoa que tenha prestado um pouco de atenção, por que não é verdadeiro. Filmes, séries e peças continuam acreditando que o único final apropriado para uma história tão emocionante e sofrida, que nos faz simpatizar tanto com a causa de seu protagonista, há de ser que ele recupere tudo aquilo que ele perdeu. Mas é impossível.
É impossível, pois o homem que termina o livro não é mais Edmond Dantès – ou, ao menos, não por completo. As coisas que o satisfaziam já não alcançam as necessidades do Conde. Mercedes, sobretudo, já não é mais o par perfeito para Monte Cristo, como havia sido para Dantès, e ele tampouco – e muito menos – o é para ela. A insistência romântica que junta os dois no final, contrariando a intenção do autor e apagando, em seu rastro, algumas das mais brilhantes e humanas cenas com as quais ele nos presenteou, é a mesma que destrói o Castelo de If, que descaracteriza vilões complexos, que tira de Dantès qualquer dúvida ou reflexão moral e que, vez por outra, põe em cheque a paternidade de Albert, e ela compreende mal ou deliberadamente ignora tudo aquilo que Dumas pretendeu dizer ao escrever o livro que é, indubitavelmente, sua maior obra.
Quando Edmond Dantès diz “Não existe felicidade nem infelicidade neste mundo, existe apenas a comparação de um estado com o outro e mais nada. Só aquele que experimentou o extremo infortúnio se encontra apto a experimentar a extrema felicidade. É necessário ter querido morrer para saber como é bom viver” ele resume todo o propósito de sua história, e todas as intenções de Dumas. Monte Cristo não é uma história sobre recuperar aquilo que um dia lhe pertenceu; é uma história sobre o efeito do infortúnio extremo na vida de um homem, e sobre como é possível sair do fundo para chegar ao topo. É uma história sobre resiliência.
Mas, acima de tudo, é uma história sobre mudança. O homem que sobreviveu a If não é o mesmo que foi preso lá catorze anos antes. Ele é muito mais rico, muito mais duro, mais ambicioso, mais sofisticado. Também é muito mais cínico, calejado e frio. Teria sido melhor ter sido para sempre o marinheiro de Marselha, sem jamais passar por tanto sofrimento, mas sem conhecer, também, as muitas possibilidades que o tesouro e o conhecimento do Abade Faria possibilitaram? Ou valeu a pena os anos de dor pelas décadas de maravilhas? Isso cabe ao leitor decidir, embora o Conde nos dê a sua resposta. Qualquer que seja a opinião pessoal de quem lê, porém, uma coisa há de ficar bem clara: não se pode ter os dois – da mesma forma que o final feliz de Monte Cristo não pode ser o mesmo de Dantès. E é por isso que o final de Dumas, embora menos idealizado, é tão mais satisfatório: por que é apropriado, é humano e, sobretudo é real.
São os votos dessa autora que pelo menos uma das versões de O Conde de Monte Cristo de 2024 tenha tido esse discernimento.