“A irresponsabilidade ambiental beira a insanidade”, afirma o indígena Ailton Krenak. Como alguém cujo povo, habitante da margem direita do Rio Doce, sofre diariamente com o rio que foi transformado em espaço de lama e dejetos tóxicos, Krenak mais do que ninguém vive e sofre os efeitos da destruição do meio ambiente pela ferocidade do capitalismo. Mas…seria a sustentabilidade possível nesse capitalismo?
Diante dessa extensa discussão dos efeitos do capitalismo Selvagem sobre nossos recursos naturais, muito se tem dito e, acredito, quanto mais diversidade nas variadas formas de escuta, maiores e melhores serão as soluções para um futuro que, obviamente, deve incluir a existência de todos nós, seres do planeta, incluindo animais, plantas, povos, etnias, afinal parafraseando Darvin, não adianta ser um tiranossauro rex ou um Albert Einstein, se não nos adaptarmos sucumbiremos.
Uma dessas perspectivas é o ponto de partida de Luiz Henrique Corrêa Ferreira e Pedro Luiz Sarro, na obra “Sustentabilidade Empresarial é Possível? – A Experiência e a Visão de Futuro de um Empresário e um Executivo de Sucesso”, publicada em 2022.
Dividido em três capítulos: “Criando a Consciência”, “Sustentabilidade no Mundo Corporativo” e ”Um Novo Mundo Novo”, o livro busca justamente mergulhar na pergunta sugerida trazendo desde informações históricas sobre o tema, reflexões a respeito das principais questões levantadas e até a abertura de novas perguntas e novas perspectivas para o mundo novo.
No primeiro capítulo, “Criando a Consciência”, os autores abordam o tema da sustentabilidade a partir de uma pergunta norteadora: “necessitamos salvar o planeta? ”. A partir dessa provocação, a abordagem, um tanto quanto irônica e perspicaz, mostra que, de certa maneira, não é o planeta que está em risco, mas a própria humanidade. Partindo da ideia de que “o homem é habita a terra”, e o planeta prosseguirá vivo enquanto a raça humana e outras espécies poderão ser extintas.
Fazendo uma retrospectiva para a criação do nosso mundo, eles trazem a ideia de que ele é, um planeta cujos recursos são finitos, ou seja, ou tratamos a terra através de uma “pegada ambiental” ou, muito em breve, não haverá recursos para o básico da existência humana. Ainda segundo eles, a humanidade, atualmente, utiliza mais recursos do que é capaz de produzir:
“há um déficit ecológico de 0,9gha/cap, o que significa dizer que a humanidade precisaria de um planeta e meio para permanecer com o consumo atual. ”
A partir daí a discussão ganha tons mais filosóficos, mas não menos interessantes. Luiz Henrique e Pedro Sarro vão mergulhar fundo no antagonismo entre sustentabilidade e capitalismo, tentando ver como esses dois elementos podem se harmonizar. Uma discussão interessante está na possibilidade de pensar a nossa relação com o planeta através de seus recursos, o que necessitaria de uma nova visão da utilização destes sobre a terra. Outro ponto interessante está na oposição entre “capitalismo selvagem” e “capitalismo consciente”.
Embora alguns teóricos reflitam que é impossível um capitalismo totalmente “sustentável”, já que quando o homem deixou de ser um caçador e coletor, e passou a fixar-se na terra, ele inevitavelmente a transforma, e na sua evolução para o capitalismo, este requer a utilização em massa de matéria prima e este recurso não pode ser tratado como infinito, se não haverá a escassez para produzir e amplificar os lucros, os autores propõem então, que é preciso colocar a mão na massa para produzir uma reforma na cadeia de produção, como por exemplo a “economia circular”. Que de certa forma, propõe a ideia de reciclar ao máximo os recursos utilizados numa cadeia de produção, diminuindo assim seu impacto no meio ambiente, e não influenciando na sobrevivência humana, e na deterioração do planeta.
Assim, a sustentabilidade se torna um fator essencial. É ela quem surge como uma ideia de promover por dentro do mesmo sistema modos não apenas mais naturais e mais saudáveis de consumo, mas também a possibilidade de aumentar ganhos abrindo novas frentes de mercado. Há neste capitalismo consciente a ideia de que a sustentabilidade não é jamais inimiga do lucro, pelo contrário, ela se volta contra também formas arcaicas e ultrapassadas de produção.
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É neste momento que os autores passam para o segundo capítulo, “Sustentabilidade no Mundo Corporativo”. A proposta inicial é, partindo de alguns autores, compreender que a construção do mundo se dá entre alguns pilares – ambiental, social e econômico -, mas que estes estão organizados de forma desigual:
“O pano de fundo para a nossa existência é o meio ambiente, portanto o pilar ambiental é maior que o social, que por sua vez é maior que o econômico. Nada acontece sem que haja um impacto ambiental; tudo tem um efeito, então não adianta achar que uma ação não gera uma consequência. ”
Assim, eles se voltam para as proposições da ONU a respeito das transformações do planeta, das mudanças climáticas e das 30 metas que devemos atingir até 2030. Com isso, os autores conseguem clarear um pouco os caminhos que precisam ser trilhados não apenas pelos cidadãos e governos, mas principalmente pelas grandes, médias e pequenas empresas.
Para isso, eles vão contar alguns casos: a experiência de Pedro Sarro na Leroy Merlin vai servir de referência de como podemos elevar uma empresa a ser reconhecida como sustentável em pouco tempo, utilizando as certificações de construção sustentável, de uso e operação AQUA de suas lojas, como ferramenta básica para uma gestão mais sustentável, através da conscientização de todos os stakeholdes envolvidos. Outros modelos também serão contemplados, como o caso da TEGRA Incorporadora e a CASACOR.
Mas nem só de presente vive a sustentabilidade, grande parte do assunto precisa estar contemplando uma possibilidade de futuro. É neste momento que entramos no capítulo 3 do livro: “Um Novo Mundo Novo”. O ponto de partida é deixarmos de valorizar o “ter” do capitalismo contemporâneo, que visa a acumulação, o egoísmo, a ganância, para o “ser” que valoriza o altruísmo, a empatia, a responsabilidade social, assim respeitando e contribuindo para um mundo melhor e mais justo. Se uns tem o privilégio de ter muito mais do que necessitam, outros sofrerão com o que restou e, ainda para ser dividido com a maior parte da população, gerando a degradação humana e ambiental.
Ainda temos uma nova conjunção mundial, onde os problemas ambientais não são mais localizados nos países que o geraram, e assim afetam o mundo todo, veja a questão do aquecimento global, das ilhas de plástico, dentre outras.
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Assim citam os autores, vários casos de ricos que em vida fizeram doações de parte significativa de suas fortunas para a filantropia ou limitaram a passagem delas para seus familiares, diminuindo assim a acumulação de riqueza e gerando valor para a sociedade.
Neste ponto, eles chegam até a vislumbrar a superação deste modelo capitalista que só visa o lucro, para acrescer nele o servir a todos e ao planeta, ao mencionar que “o modelo vigente não atende mais à humanidade, em seu contexto atual, como deveria – e por isso novos formatos precisam ser urgentemente pensados”. Um exemplo é o que se chama de “Empresa B” que, em linhas gerais, são:
“Negócios que atendem critérios de transparência e responsabilidade legal, equilibrando lucro e propósito, nos mais altos padrões de desempenho social e ambiental” (…) São empresas que operam num formato rentável, evidentemente, capitalista, porém tem outras maneiras de medir seus resultados, por exemplo, considerando também aspectos socioambientais, não exclusivamente aspectos financeiros. ”
Por fim, o livro faz uma convocação a uma mudança, uma transformação na forma de vermos o mundo. Os autores reconhecem que há muita coisa errada nele, mas também lançam uma garrafa no mar de esperança de que, se juntarmos forças, podemos sim transformar nossos horizontes, pois se queremos mudar o todo, primeiramente temos que mudar a nós mesmos. Então, voltando a pergunta: “Sustentabilidade Empresarial é Possível? ” Talvez não totalmente, talvez não seja fácil, mas não é por isso que grandes homens e mulheres não possam tentar. Afinal a esperança é verde.
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Sobre os autores:
Luiz Henrique Corrêa Ferreira é engenheiro civil e fundador da Inovateh Engenharia, responsável por mais de 300 empreendimentos sustentáveis e idealizador da Casa24h, conceito de construção de casas com foco na sustentabilidade. Por sua vez, Pedro Luiz Sarro é arquiteto e Urbanista, e com especialização em sustentabilidade e responsabilidade social, com atuação como Diretor de Projetos e Obras e membro fundador do Comitê de Sustentabilidade da Leroy Merlin.