Ninguém acendia as lâmpadas, do contista uruguaio Felisberto Hernández. Inédito no Brasil e publicado originalmente em 1947 pela editora Sudamericana em Buenos Aires, na Argentina, este foi o livro que colocou o autor em outro patamar, propagando-o além das províncias interioranas do Uruguai para um universo de leitores muito mais amplo e crítico.
Podemos dizer que, em Ninguém acendia as lâmpadas, há um protagonismo de objetos e elementos inanimados. Eles gravitam pelas histórias e ganham papéis importantes nas tramas, como se tivessem uma vida secreta. Temas como nostalgia e sonhos se destacam e, muitas vezes, a realidade é fantasiada e distorcida pelos personagens excêntricos. Existe uma delicadeza, uma mágica, uma força estranha entre eles. Não é incomum que os objetos apresentem características humanas, como se tivessem alma.
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Nestes contos, o cotidiano e o sonho coexistem, rompendo com tudo aquilo que encaramos como normal. A penumbra e a luz sob objetos e cenários são descritos recorrentemente nas narrativas e corroboram para a sensação de mistério que existe nas histórias. Segundo Jorge Monteleone (2015), a estratégia de Felisberto em seus contos era de apenas “revolver” o mistério, e não resolvê-lo. Normalmente os finais apresentam mistérios ainda maiores do que o mistério inicial, causando assim, nas palavras de Monteleone, “a inefabilidade de uma epifania poética”. Felisberto Hernández era obcecado pelo mistério. Aproveite-o.
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O AUTOR
Felisberto Hernández (1902 – 1964) foi um pianista e escritor uruguaio, conhecido por suas obras surreais e fantásticas. A escrita introspectiva e singular de Felisberto deixou uma marca indelével na literatura latino-americana. Grandes escritores, como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Italo Calvino, foram influenciados pelo estilo original do autor. Não é à toa que Felisberto é considerado um dos principais nomes do conto latino-americano: suas palavras mágicas continuam a inspirar e a fascinar leitores e escritores em todo o mundo.
Título original: Nadie encendía las lamparas.
Tradução de Hugo L. Netto e Laura Rossini dos Santos.
Prefácio: Luana Biondo.
Posfácio sobre o autor: Fabio B. Pinto.
Capa: Sabina Viñas.
Preparação e revisão: Paloma Coitim.