Luakam Anambé, costureira e artesã de 54 anos, e a filha, Átina Anambé, de 34 anos, resolveram criar as bonecas Anaty como uma forma de quebra de tabu e de preconceito ao representar os povos originários.
Luakam decidiu resgatar um sonho de infância após o nascimento da neta. A marca já é patenteada e futuramente pretende também exportar seus produtos. “Toda criança que tem uma boneca nossa entende que não existe só a Barbie ou as bonecas negras. Ainda não vendemos para fora do Brasil, mas pretendemos um dia chegar lá.”
A família é descendente de Anambé, povo indígena que vive próximo ao município de Moju, no Pará, no entanto, elas moram no Rio de Janeiro há 12 anos.
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A artesã foi vítima do trabalho infantil, começando a trabalhar aos 7 anos de idade como empregada doméstica e babá para uma família de fazendeiros. Ao visitar com a família o Arraial de Nazaré, festa típica do Pará, ela quis uma boneca da exposição e teve uma resposta negativa. “Era uma boneca de uns 30 centímetros de altura, de plástico, com saia de franjas e uma fita na cabeça. Pedi pra minha patroa comprar para mim e ela não quis, disse que eu tinha que trabalhar, e não brincar. Eu tinha que ser babá do filho dela”, revelou Luakam. Depois de enfrentar inúmeras dificuldades, trabalhou como doméstica e costureira. Foi nesse contexto que ela deparou-se com a violência doméstica e só pensava em ajudar outras mulheres.
As primeiras vendas da marca aconteceram em 2015, no Rio de Janeiro. Em 2020, o negócio alcançou maiores proporções divulgando as bonecas nas redes sociais. “Fomos convidadas a dar entrevista para o Fantástico em dezembro de 2020 por conta da repercussão”, contou a artesã. Após a dificuldade inicial para estabelecer o negócio, conseguiram contornar a situação com as vendas online.
As roupas das bonecas são feitas de tecido cru e algodão antialérgico e pintadas a mão pelas artesãs. As bonecas possuem duas versões: para público infantil os olhos são pintados e o cabelo é feito de lã; e outra, para adultos, tem olhos de bolinha e cabelo de fita, podendo servir como peça decorativa. As principais bonecas da marca são: Anaty (que quer dizer “menina”) e Mayauê, o guerreiro. Além disso, também são criados bonecos inspirados em outras etnias, como Caiapó, Craô e Yawalapiti.
O projeto foi bem recebido pela comunidade quando retornaram ao Pará, inclusive elas começaram a organizar uma associação para capacitação de mulheres com cursos de costura e artesanato. Além da capacitação, a instituição pretende receber psicólogos e assistentes sociais para auxiliar mulheres vítimas de violência doméstica.
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