Você conhece os melhores poemas de Paul Verlaine? Paul Verlaine (1844-1896) foi um importante poeta francês da segunda metade do século XIX. Seu lirismo musical exerceu influência decisiva no desenvolvimento do simbolismo e abriu novos caminhos para a poesia francesa. Não raro, os temas de seus poemas têm uma conotação mórbida e uma nota de melancolia. Paul Verlaine nasceu em Metz, França, no dia 30 de março de 1844. Filho de um militar com boa situação financeira estudou no Liceu Bonaparte (hoje Liceu Condorcet) de Paris. Posteriormente, conciliou o trabalho em uma companhia de seguros com a vida boêmia nos círculos literários parisienses.
O NotaTerapia separou os melhores poemas de Paul Verlaine. Confira:
A Angústia
Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.
Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.
Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.
Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.
Paul Verlaine, in “Melancolia”
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Meu sonho familiar
Muitas vezes, o sonho estranho me surpreende
de uma ignota mulher que eu amo e que me adora,
e que a mesma não é, certamente, a toda hora,
não sendo outra, porém, e me ama e me compreende.
Todo o meu coração deixo que ela o desvende.
Ela somente o faz transparente e o avigora,
E se eu sofro, se a dor minha fronte descora,
ela é o consolo ideal que sobre mim se estende.
É ela trigueira, ou loira, ou ruiva? – Eu o ignoro.
Seu nome? Apenas sei que ele é doce e sonoro
como o de quem se amou e da vida fugiu.
Seu olhar, como o olhar de uma estátua, é sem alma,
e tem na sua voz, grave, longínqua e calma,
a inflexão de uma voz cara que se extinguiu.
tradução de Onestaldo de Pennafort

I
No ermo da mata o som da trompa ecoa,
Vem expirar embaixo da colina.
É uma dor de orfandade se imagina
Na brisa, que em ladridos erra à toa.
A alma do lobo nessa voz ressoa. . .
Enche os vales e o céu, baixa à campina,
Numa agonia que à ternura inclina
E que tanto seduz quanto magoa.
Para tornar mais suave esse lamento.
Através do crepúsculo sangrento,
Como linho desfeito a neve cai.
Tão brando é o ar da tarde, que parece
Um suspiro do outono. E a noite desce
Sobre a paisagem lenta que se esvai.
II
As mãos que foram minhas, mãos
Tão bonitas, mãos tão pequenas, A
pós tanto equívoco e penas,
Tantos episódios pagãos,
Após os exílios medonhos,
Ódios, murmurações, torpezas,
Senhoris mais do que as princesas
As caras mãos abrem-me os sonhos.
Mãos no meu sono e na minh’alma,
Pudera eu, ó mãos celestes,
Adivinhar o que dissestes
A est´alma sem pouso nem calma!
Mente-me acaso a visão casta
De espiritual afinidade,
De maternal cumplicidade
E de afeição estreita e vasta?
Caro remorso, dor tão boa,
Sonhos benditos, mãos amadas,
Oh essas mãos, mãos consagradas,
Fazei o gesto que perdoa!
III
Chora em meu coração
Como chove lá fora.
Que desconsolação
Me aperta o coração!
Oh a chuva no telhado
Batendo em doce ruído!
Para as horas de enfado,
Oh a chuva no telhado!
Chora em ti sem razão,
Coração sem coragem.
Se não houve traição,
Teu luto é sem razão.
Certo, é esse a pior dor:
O não saber por que
Sem ódio e sem amor
Há em mim tamanha dor.
Tradução dos 3 poemas de Manuel Bandeira
A uma Mulher
Pra vós são estes versos, pla consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pla vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora.
Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento,
Multiplica-se como um cortejo de lobos
E enforca-se com o meu destino que ensanguenta!
Ah! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido
Desse primeiro homem expulso do Paraíso
Não passar de uma écloga à vista do meu!
E os cuidados que vós podeis ter são apenas
Andorinhas voando à tarde pelo céu
— Querida — num belo dia de um Setembro ameno.
Paul Verlaine, in “Melancolia”
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
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Canção de outono
Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.
E soluçando,
Pálido quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doudos
De outrora.
E vou à-toa
No ar mau que voa,
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
tradução de Guilherme de Almeida
LUAR
Tua alma é uma paisagem de outros dias
por onde, ao som de alaúdes, vão passando,
quase tristes nas suas fantasias,
bergamascos e máscaras dançando.
E cantando em surdina a doce vida
e o amor vitorioso, eles têm o ar
de quem de tudo e até de si duvida,
me o seu canto mistura-se ao luar,
ao calmo luar cheio de encanto e mágoa
que faz sonhar aos pássaros nas árvores
e soluçar de êxtase os jorros d’água,
os grandes jorros d’água esveltos entre os mármores.
OS INGÊNUOS
Com as saias longas os tacões altos lutavam.
De modo que, ao sabor do terreno ou do vento,
as meias — e isso bem que era um divertimento —
ocultas quase sempre, às vezes se mostravam.
Também, às vezes, sob os ramos, se uns insetos,
pousando-lhes no colo, as belas surpreendiam,
uns súbitos clarões de alvas nucas se viam,
e isso nos regalava os olhos irrequietos.
Caía a tarde, tarde outonal e adequada.
E, pelo nosso braço, as belas, divagando,
iam tais cousas, tão sutis, nos sussurrando,
que desde então nossa alma ainda treme, espantada.
O amor por terra
O vento derrubou ontem à noite o Amor
Que, no recanto mais secreto do jardim,
Sorria retesando o arco maligno, e assim
Tanta coisa nos fez todo um dia supor!
O vento o derrubou ontem à noite. À aragem
Da manhã gira, esparso, o mármore alvo. E à vista
É triste o pedestal, onde o nome do artista
Já mal se pode ler à sombra da ramagem.
É triste ver ali de pé o pedestal
Sozinho! e pensamentos graves vêm e vão
No meu sonho em que a mais profunda comoção
Imagina um porvir solitário e fatal
É triste! – E tu, não é?, ficas emocionada
Ante o quadro dolente, embora olhando à toa
A borboleta de oiro e púrpura que voa
Sobre os destroços de que a aléa está juncada.
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O Amor no Chão
O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!
O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,
É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.
É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada.
Paul Verlaine, in “Festas Galantes”
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Fonte:
https://www.citador.pt/poemas/o-amor-no-chao-paul-verlaine
https://escamandro.wordpress.com/2013/03/30/8-poemas-de-paul-verlaine-em-3-tradutores/
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/paul_verlaine.html
https://www.ebiografia.com/paul_verlaine/

