A história em quadrinhos do premiado cartunista André Diniz, lançada pela editora DarkSide Books, tem como pano de fundo o período de 1904, resgatando o movimento denominado Revolta da Vacina, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro.
O livro narra a trajetória de Zelito, um jovem ilustrador cearense, que parte para o Rio de Janeiro em busca de trabalho como cartunista nos jornais da cidade. Com o prazo de seis meses para provar ao pai que poderia construir uma carreira promissora, ele acaba se envolvendo nas manifestações populares.
Nesse período, o Brasil passava pela mudança de Império para República, quando ocorreu uma crise social e sanitária. Pela precariedade do saneamento básico e a proliferação de mosquitos e ratos, as doenças como varíola, febre amarela e peste bubônica começaram a ser constantes. O centro da crise foi o Rio de Janeiro, capital do país, no entanto, as doenças começaram a se espalhar para outras regiões.
A situação da cidade foi ficando cada vez mais caótica, pois a população aumentava significativamente. Uma reforma geral foi proposta para que a crise urbanística e sanitária fosse solucionada. Diante disso, os moradores de cortiços e hospedarias foram forçados a se instalarem em regiões mais afastadas e periféricas. Para controlar a epidemia, a vacina idealizada pelo sanitarista Oswaldo Cruz, foi obrigatória, o que acabou gerando uma rebelião, visto que não se tinha conhecimento nem esclarecimento sobre a eficácia, além de impor restrições para quem não se vacinasse.
O livro, em capa dura, traz também uma ampla seleção de charges da época a respeito da vacinação obrigatória, além do posfácio do historiador Luiz Antônio Simas:
“Sem qualquer esclarecimento sobre a eficácia da vacinação, a população sabia apenas que brigadas de vacinadores, acompanhadas por policiais armados, teriam autorização para violar residências, vacinar as pessoas e prender os que se recusassem a tomar a danada. Até mesmo Rui Barbosa declarou que ninguém teria o direito de contaminar o próprio sangue com um vírus. Imaginem então o que achava a população mais pobre e afastada da educação formal.”
Na pandemia da Covid-19, verifica-se a efervescência de movimentos negacionistas, influenciados por mentiras e boatos, e grupos contrários à vacinação, porém isso é danoso e não se justifica, pois atualmente se constata grandes avanços da ciência e se dispõe de uma vasta quantidade de informação e de conhecimentos difundidos em todos os meios de comunicação confiáveis e comprometidos com a saúde dos cidadãos. Além disso, foi através da vacinação, que até pouco tempo o Brasil era referência mundial, tornou-se possível erradicar inúmeras doenças que no passado levaram à morte milhares de pessoas.
Vale lembrar ainda que em menos de cinco anos após a Revolta, a vacinação alcançou o recorde devido à epidemia de varíola em 1908. No entanto, esse episódio serve como alerta de que, em situações de crise, a atuação da ciência é fundamental, mas ela deve contar também com lideranças políticas confiáveis, comunicação clara e eficiente e campanhas de incentivo à vacinação.
Fontes:
Correio do Cidadão
Aventuras na História