Liliane Prata é uma escritora, filósofa e jornalista mineira. Quem foi leitora da revista Capricho até uns anos atrás provavelmente a conhece por suas crônicas; mas foram alguns (e significativos!) anos para a autora que, nos últimos anos, publicou vários livros de ficção, foi editora de comportamento da revista CLAUDIA e hoje mantém um canal do Youtube.
O mundo que habita em nós é um dos seus últimos livros publicados e o primeiro de não-ficção. Nele, Liliane Prata tece uma colorida colcha com pensamentos de filósofos, monges, psicanalistas e escritores para investigar o mais profundo do nosso si mesmo. Há generosidade de autoria nesse ensaio, que bebe de várias fontes do Mundo para provocar abalos sísmicos no nosso ser mais atrofiado.
Confira abaixo alguns fragmentos de “amor respirado em corpos atentos”:
Concebamos a verdade não como uma palavra que vem de fora, desse idioma apreendido; a verdade não como mais uma narrativa à qual tentamos no acoplar, mas como uma força muito maior do que uma palavra, uma força que brota da nossa interioridade ao ser animada pelo que vem de fora.
Quais narrativas estão nos aproximando de uma sensação libertadora e vital e quais estão nos lançando para uma sensação angustiante e desvitalizada?
Penso que a idealização excessiva tem nos atirado para longe da experiência de estar vivo. Muitas e muitos de nós estão na maior parte do tempo trancados numa espécie de espiral mental, um redemoinho invisível e voraz no qual giram em alta velocidade as coisas que queremos, os nossos milhões de expectativas, ambições, ressentimentos e frustrações, e nos esquecendo do mundo.
Quando usamos lentes muito grossas entre nós e uma coisa, até que ponto estamos abertos para reconhecer a existência dessa coisa? Até que ponto estamos de fato enxergando o mundo e nos relacionando com ele?
Sintamos quando os veículos do mundo vêm pela contramão e batem frontalmente no nosso desejo.
Ter consciência de que as coisas guardam em si mesmas algo que escapa à imagem – ou seja, ter a consciência de que nós, os outros e o mundo não se reduzem à imagem de que há todo um ser ali para além dela – anda fazendo falta nos dias de hoje. Precisamos nos lembrar de olhar as pessoas, as flores, o mar e as coisas do mundo, reconhecendo que há algo que escapa ao nosso olhar.
Dedicação requer amor. E amor só respira bem em corpos atentos.
O aprendizado e o crescimento pessoal que decorrem das experiências vividas no mundo dão talvez mais “sustância” à vida, mais agarramento à existência, mais sensação de preenchimento do que uma existência que se alterna entre o hedonismo e o receio.
Não sabemos definir o nosso si mesmo, mas sabemos que ele está lá e que o distanciamento entre nós e ele é angustiante.
As narrativas que nos lançam para dentro da existência acompanhada são aquelas que passam por uma via amorosa.
PRATA, Liliane. O mundo que habita em nós: reflexões filosóficas literárias para tempos (in)tensos. São Paulo: Instante, 2019.