É comum que os desfiles de carnaval apresentem referências culturais e literárias. No ano passado, várias escolas do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) utilizaram publicações ou adaptaram obras literárias contemporâneas aos seus enredos.
Este ano, além de homenagearem artistas como Benito de Paula (Águia de Ouro), Milton Nascimento (Portela), Cazuza (Camisa Verde e Branco), também apostaram em diferentes obras, desde clássicas até acadêmicas, e/ou personagens da literatura. Essa proposta tem se repetido, demonstrando que, além de entretenimento, a época da folia pode ser também de revisitar ou explorar outras histórias e novos estudos em diferentes áreas.
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Pérola Negra, escola de samba de São Paulo, apresentou o enredo Exu-Mulher, inspirado no livro Exu-Mulher e o matriarcado nagô: masculinização, demonização e tensões de gênero na formação dos candomblés, escrito pela jornalista, pesquisadora e especialista em cultura afro-brasileira e religiões de matrizes africanas Cláudia Alexandre. A obra, resultado de sua tese de doutorado, recebeu o Prêmio Jabuti Acadêmico em 2024. A autora aborda a representação e as complexidades em torno do orixá Exu, como a exclusão dos traços de feminilidade e sua consequente demonização, além de apresentar um debate inédito para o estudo das tradições e das religiosidades afro-brasileiras. Foi com esse samba-enredo que a escola venceu o Grupo de Acesso 2.

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Império de Casa Verde, escola de samba de São Paulo, apresentou o tema “Cantando Contos. Reinos da Literatura”, inspirada em clássicos da literatura, contos de fadas, histórias em quadrinhos e produções contemporâneas, revisitando os mundos de fantasia, aventuras épicas e histórias que atravessaram gerações.

O enredo, de Leandro Barboza e Thiago Freitas, buscou descontruir e questionar as versões, em especial a de contos de fadas e a dos clássicos, sem deixar de exaltar a literatura como forma de despertar a imaginação e o aprendizado, reforçando, ainda, a importância do hábito de ler e de inspirar novos leitores.

O desfile apresentou a literatura clássica com obras como Romeu e Julieta e Dom Quixote; os heróis e mitos com personagens lendários da literatura universal, desde os contos de fadas até epopeias mitológicas; o universo mágico com Harry Potter; o Sítio do Picapau Amarelo; os quadrinhos e mangás, entre outros.
Já o perfil no Instagram da Estação Primeira de Mangueira, escola do Rio de Janeiro, publicou indicações de livros que inspiraram o enredo do Carnaval 2025. Este ano foi celebrada a herança bantu e suas influências na formação cultural e social do Rio de Janeiro: “À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões”. Confira:
O negro visto por ele mesmo, de Beatriz Nascimento
Através das águas: os bantu na formação do Brasil – Para download gratuito em Livros Abertos da USP – Clique AQUI!
Novo dicionário banto do Brasil, de Nei Lopes
O livro africano sem título, de Bunseki Fu-Kiau
A flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro, de Júlio César Medeiros da Silva Pereira
História dos Candomblés do Rio de Janeiro, de José Beniste
Umbandas: uma história do Brasil, de Luiz Antonio Simas
Camões com Dendê: O português do Brasil e os falares afro-brasileiros, de Yeda Pessoa de Castro
