A data de 20 de novembro marca o Dia da Consciência Negra no Brasil, um dia para celebrar a rica e vibrante cultura afro-brasileira e refletir sobre a importância da luta contra o racismo. A partir de 2024, essa data se torna ainda mais significativa, sendo reconhecida como feriado nacional, um passo importante na luta por igualdade e justiça social.
A cultura brasileira é um mosaico vibrante, e a presença negra é um dos fios mais fortes e coloridos que compõem essa tapeçaria. É impossível imaginar o Brasil sem a música, a dança, a culinária, a religiosidade e a arte que vieram da África e se enraizaram em solo brasileiro, transformando e enriquecendo nossa identidade nacional.
A história do povo negro no Brasil é marcada pela resistência. Da força dos quilombos à criatividade que floresceu em meio à opressão, a população negra lutou para preservar sua cultura e construir um espaço de dignidade. E essa luta se expressa de diversas formas, inclusive através da arte.
Artistas negros têm sido vozes poderosas, usando seus talentos para denunciar injustiças, celebrar a beleza da cultura afro-brasileira e inspirar a luta por um futuro mais igualitário. Através da música, da literatura, da pintura e de outras formas de expressão, eles contam suas histórias, compartilham suas perspectivas e nos convidam a construir um Brasil mais justo.
Nascido em 1898, dez anos após a abolição da escravatura, Heitor dos Prazeres foi um artista multifacetado que imortalizou cenas do cotidiano carioca, com ênfase na cultura afro-brasileira. Influenciado pelo ambiente musical da Praça Onze, onde cresceu, Prazeres destacou-se como músico, compositor e pintor. Suas pinturas, vibrantes e dinâmicas, celebram o samba, o carnaval e a vida social do Rio de Janeiro, retratando a cultura popular com um toque de sofisticação. Prazeres teve papel fundamental na formação das primeiras escolas de samba, consolidando seu nome como um dos grandes expoentes da arte brasileira.
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora que, com a força de sua escrita, expôs a realidade crua da favela do Canindé em São Paulo. Seu livro “Quarto de Despejo”, um diário pessoal, tornou-se um marco da literatura brasileira, retratando a luta diária contra a pobreza, a fome e o racismo. Sua obra transcendeu o papel, alcançando o teatro e a música, demonstrando a potência de sua voz e a urgência de sua mensagem. Carolina, com sua escrita visceral, tocou em temas universais como a solidão e a busca por realização, revelando a complexidade da experiência humana em meio à adversidade.
Uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea, Conceição Evaristo, através do conceito de “escrevivências”, convida-nos a reler a história brasileira a partir da perspectiva negra. Sua escrita, poética e engajada, ecoa as experiências de mulheres negras, revelando a força e a resistência que marcam suas trajetórias. Evaristo defende a importância da autoria negra na produção literária, argumentando que a experiência e a perspectiva negra trazem novos elementos e questionamentos à narrativa brasileira
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Um dos maiores nomes da música brasileira, Gilberto Gil, com sua musicalidade contagiante, transcendeu fronteiras, levando a cultura brasileira para o mundo. Sua obra, rica e diversa, incorpora elementos do reggae, do samba e de outras tradições, criando uma sonoridade única que celebra a riqueza da cultura afro-brasileira. Para além da música, Gil também é reconhecido por seu ativismo social, tendo participado de movimentos como o “SOS Racismo” e engajando-se na luta por igualdade racial.
Lélia Gonzalez, uma intelectual e ativista incansável, dedicou sua vida à luta contra o racismo e o machismo, desconstruindo estereótipos e abrindo caminho para a igualdade. Sua obra, marcada pela crítica social e pela defesa da cultura negra, influenciou gerações de ativistas e intelectuais. Lélia teve papel fundamental na criação de organizações como o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN-RJ) e o Movimento Negro Unificado (MNU), demonstrando seu compromisso com a transformação social.
Abdias do Nascimento, um visionário e um lutador incansável, dedicou sua vida à causa da igualdade racial no Brasil15. Através do Teatro Experimental do Negro (TEN), abriu espaço para a representatividade negra nas artes cênicas, desafiando o status quo e abrindo caminho para novas narrativas. Sua atuação política e acadêmica foi fundamental para a inclusão da história da África no currículo escolar e para a denúncia do genocídio da população negra no Brasil.
A música, a literatura, a pintura, a dança – todas as formas de arte se tornam instrumentos de luta e resistência nas mãos de artistas negros. O Dia da Consciência Negra, agora feriado nacional, é um momento para celebrarmos esses artistas, suas obras e suas lutas. É um dia para reconhecermos o valor da cultura afro-brasileira e reafirmarmos nosso compromisso com a construção de um Brasil mais justo e igualitário.
A luta contra o racismo é uma luta de todos nós. É preciso combater a discriminação em todas as suas formas, garantir a igualdade de oportunidades e celebrar a diversidade que faz do Brasil um país tão rico. Que o Dia da Consciência Negra seja um marco na construção de um futuro mais justo e fraterno, onde todos os brasileiros possam viver com dignidade e respeito, celebrando suas raízes e construindo juntos um país mais igualitário.