Premiada companhia franco-brasileira Cia. Dos à Deux encena “Enquanto você voava, eu criava raízes”
Nesse momento de instabilidade e fragilidade coletiva, os criadores mergulharam nos múltiplos medos que nos atravessam para, aos poucos, chegar a estados, sentimentos e emoções, a que deram o nome de “espaços íntimos de sensações”. Este trabalho, diferente dos outros, se manifestou de forma quase mitológica, recuperando o ritualístico, resgatando do teatro elementos fortes que são da tragédia – o ritual, a perda, a morte, a separação. Cada ‘quadro’, num primeiro instante, impõe uma leitura metafísica, revelando símbolos que reverberam no inconsciente. É um espetáculo para ver com os ouvidos e ouvir pelos olhos”, conta Artur Luanda Ribeiro.
Entre o onírico e a realidade, “Enquanto você voava, eu criava raízes” não tem uma dramaturgia linear. Os corpos ora se juntam, ora se separam. São duas sombras que se fundem – como um oráculo dos sonhos que revela corpos suspensos e invertidos no espaço à beira do precipício. Como não sucumbir ao vazio? Como não cair? “Para mim, nesse espetáculo, ficamos na beira do abismo desde o início”, diz André.
“São os abismos que temos dentro de nós, essa sensação de vazio permanente, de que há algo dentro se abrindo e um outro eu está caindo dentro da gente”, complementa Artur.
A Cia. Dos à Deux propõe que o público assista ao espetáculo como que através de uma lente de cinema. Por trás dessa tela que se assemelha a um portal, como se fosse um grande oráculo dos sonhos, Artur e André criaram narrativas visuais. Mas é por meio de seus corpos, da fisicalidade e da virtuosidade, que a ilusão acontece em cena. Criados pelo diretor de fotografia Miguel Vassy e pela artista plástica Laura Fragoso, as imagens projetadas em cena dialogam com a dramaturgia, assim como a música original criada por Federico Puppi.
A dupla de artistas continua sua pesquisa hibrida, criando interseções poéticas entre o teatro gestual, as artes plásticas, e o audiovisual. Uma experiência que nos convida a imergir em um caleidoscópio de sensações.
Veja também: 6 companhias de teatro do Rio de Janeiro para conhecer!
Enquanto você voava, eu criava raízes é a nossa dica pra você!
CIA. DOS À DEUX
Há 24 anos, André Curti e Artur Luanda Ribeiro iniciavam na França uma parceria artística com a criação da Cia. Dos à Deux. Eles se conheceram durante um festival em Paris e decidiram começar juntos uma pesquisa teatral e coreográfica, tendo como inspiração a obra “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. Em 1998, nascia o primeiro trabalho, “Dos à Deux”, peça que deu nome à companhia. Descobertos no Festival de Avignon com esse primeiro trabalho, os dois então jovens criadores tiveram um imediato reconhecimento pela critica e pelos curadores, lhes impulsionando pelas estradas de todos os países da Europa, além da África, América do Sul, Coreia do Sul e na Índia.
A premiada companhia franco-brasileira de teatro gestual arrebatou plateias em mais de 50 países, somando mais de 3 mil apresentações por toda a Europa, África Central, Ásia, Polinésia Francesa, Emirados Árabes e América do Sul. O repertório é formado por: “Dos à Deux” (1998), “Aux pieds de la lettre” (2002), “Saudade em terras d’água” (2005), “Fragmentos do desejo” (2009), “Ausência” (solo com Luís Melo, de 2012), “Dos à Deux – 2º ato” (2013) “Irmãos de sangue” (2013), “Gritos” (2016) e “Enquanto voce voava, eu criava raízes” (2022). Em 2021, sete espetáculos da companhia foram exibidos na mostra online “Dos à Deux – A Singularidade de uma Trajetória”.
Depois de mais de duas décadas instalada na França, desde 2015 a Cia. Dos à Deux passou a ter duas sedes: uma em Paris e outra no Rio de Janeiro. Para criar a sede carioca, Artur e André reformaram um antigo cortiço construído em 1846, no bairro da Glória. Além de abrigar a companhia, o espaço vem se estabelecendo como um local para oficinas e residências artísticas para outros grupos.
Site: www.dosadeux.com
Instagram: @ciedosadeux
Facebook: dosadeux
FICHA TÉCNICA
Direção, dramaturgia, cenografia, coreografia e performance: André Curti e Artur Luanda Ribeiro
Música original: Federico Puppi
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro
Cenotecnia: Jessé Natan e VRS
Assistentes de cenotecnia: Bruno Oliveira, Eduardo Martins e Rafael do Nascimento
Criação de objetos: Diirr
Criação videográfica: Laura Fragoso
Imagens: Miguel Vassy e Laura Fragoso
Figurino: Ticiana Passos
Operação de som e vídeo: Gabriel Reis
Operação de luz: Denys Lima
Contrarregragem: Iuri Wander
Preparação/criação percussiva: Chico Santana
Costura da caixa preta: Cris Benigni e Riso
Costura dos figurinos: Atelier das Meninas
Assessoria de imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha
Mídias sociais: Mariã Braga
Designer gráfico: Bruno Dante
Fotos: Nana Moraes e Renato Mangolin
Coordenação administrativo-financeira: Alex Nunes e Patrícia Basílio
Produção executiva: Ártemis e Alex Nunes
Direção de produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela – Galharufa Produções
Realização: Cia Dos à Deux