Em 2020, Suellen Tobler, estudante de antropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), começou a se interessar em aprender novas línguas. Numa de suas visitas a Santarém, no Pará, teve a oportunidade de passar uma semana na casa da professora de Nheengatu, Dailza Araujo, da escola indígena Suraraitá Tupinambá, da Aldeia São Francisco, baixo rio Tapajós.
“Enquanto eu ensinava algumas palavras em inglês para sua sobrinha Marcelinha, Dailza me ensinava algumas palavras em nheengatu, num processo colaborativo e desinteressado. Na despedida, Dailza me presenteou com o livro “Nheengatu Tapajowara”, produzido no “Projeto de Extensão Curso de Nheengatu UFOPA/GCI”. Em casa, ao folhear o livro, percebi certa semelhança entre o nheengatu e o alemão, língua que eu estudava naquele momento através do app DuoLingo, e aquilo que era apenas uma curiosidade tornou-se um interesse de fato, procurei cursos de nheengatu em aplicativos e sites, sem sucesso. Então busquei por outras “línguas maternas” e a única que encontrei foi Guarani Paraguaio. Assim surgiu a problemática: Por que não tem um app para aprender Nheengatu, Tikúna, Muduruku, ou outras línguas indígenas? De imediato não fiz nada a respeito, pois eu não tinha recursos disponíveis”, contou a universitária.
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No entanto, em 2021, teve a oportunidade de viabilizar o desenvolvimento por meio do edital de Cultura Digital, da Lei Aldir Blanc, ao inscrever seu projeto e ser contemplada. Ela criou o Nheengatu app, aplicativo que auxilia no ensino-aprendizagem de uma das línguas indígenas ameaçadas de extinção. O projeto, ao aliar tecnologia e conhecimento, colabora para a preservação da língua e também para a sua propagação.
Suellen, além de cursar bacharelado em Antropologia pela UFOPA, trabalha no segmento de tecnologia da informação há mais de 10 anos, é formada em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (2009), e também atua em projetos de pesquisa de extensão de outra universidade. Descendente de guaranis, ela conhece a região do Amazonas e Pará, inclusive já ministrou oficinas em escolas municipais e aldeias e comunidades ribeirinhas.
NHEENGATU
Pertence ao tronco linguístico do tupi e tem sua origem no tupinambá. No século XVII, durante o processo de evangelização, os missionários jesuítas obrigaram os povos que falavam línguas de outros troncos linguísticos a utilizarem a língua nheengatu, tornando-a como a principal língua falada na região, por isso ficou conhecida como “Língua Geral Amazônica“. Após a guerra da Cabanagem, começou a perder espaço, porque muitos falantes foram dizimados e, posteriormente, ela foi proibida. No entanto, o nheengatu não deixou de existir, e muitas palavras continuaram a ser utilizadas no cotidiano dos moradores locais até hoje. Atualmente, o maior número de falantes de nheengatu está localizado no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Na região de Santarém, a mobilização de 10 anos dos indígenas conseguiu que a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) formasse professores de nheengatu e incluísse a língua na grade escolar das escolas indígenas.
O Nheengatu app pode ser acessado através de qualquer navegador e instalado em qualquer dispositivo Android, IOS, Microsoft, Linux e Chromebook. Acesse AQUI para conhecer.
Confira a história completa: