Em narrativa autobiográfica, autora Camila Sosa Villada, uma das principais vozes da nova narrativa latino-americana, transforma a vergonha, o medo e a intolerância em alta prosa
A marginalização da população LGBTQIA+ precisa, mais do que nunca, ser encarada e discutida. A comunidade travesti e trans, em especial, é a que mais sofre com o descaso das autoridades e o desprezo da população em geral. Uma das principais vozes trans latino-americanas, Camila Sosa Villada se destaca no cenário literário ao tratar a questão com a profundidade de quem viveu na pele a vergonha, a intolerância e a incompreensão ao mesmo tempo em que apresenta uma narrativa repleta de magia e afeto ao contar a história da irmandade de travestis em Córdoba. O parque das irmãs magníficas, obra aclamada pela crítica e vencedora de prêmio da Feira do Livro de Guadalajara, chega ao Brasil pelo selo Tusquets da editora Planeta com tradução de Joca Reiners Terron.
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Na apresentação, Camila conta que provavelmente não teria conseguido se tornar uma atriz e escritora se não tivesse recebido o amparo e a proteção de travestis da lendária zona vermelha do Parque Sarmiento, na capital Córdoba, que ela foi espiar em uma noite de muito medo, recém-chegada da sua cidadezinha para estudar jornalismo na universidade. Observando a vulnerabilidade de Camila, as travestis a adotaram na mesma noite.
“Aprendi quanto valia meu corpo e qual era o preço que devia colocar nele. Com elas, aprendi a me defender e a olhar duas vezes uma pessoa antes de emitir um julgamento. Eu não estaria aqui, hoje, se elas não tivessem me defendido dos policiais e dos clientes de merda. Com certeza, estaria numa vala”, Camila conta.
A obra é um romance autobiográfico que homenageia esse período da vida da autora. O enredo gira de torno de um casarão, que recebe de braços abertos as travestis de Córdoba. Marginalizadas pela sociedade, muitas delas acabam oferecendo-se pela noite aos clientes em um parque. Em uma dessas madrugadas, encontram um bebê abandonado. Tia Encarna, dona da pensão, e o grupo adotam ele e o batizam de O Brilho dos Olhos.
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“O parque das irmãs magníficas é um relato de infância e um rito de iniciação, um conto de fadas e de terror, um retrato de grupo, um manifesto político, uma memória explosiva, uma visita guiada à fulgurante imaginação de sua autora e uma crônica diferente de tudo, que vem polinizar a literatura. Em seu DNA convergem as duas facetas do mundo trans que mais repelem e aterrorizam a boa sociedade: a fúria travesti e a festa de ser travesti”, escreve Juan Forn no prefácio. “Para falar francamente, é esse tipo de livro que, quando terminamos de ler, queremos que o mundo inteiro o leia”.
SOBRE A AUTORA
Camila Sosa Villada nasceu em 1982, na cidade de La Falda, Argentina. Formou-se em Comunicação Social e Teatro na Universidade Nacional de Córdoba. Em 2009, como atriz, estreou seu primeiro espetáculo, Carnes tolendas, retrato escénico de un travesti. Em meio a diversos trabalhos nos palcos, no cinema e na televisão, passou a dedicar-se à escrita.
É autora do livro de poemas La novia de Sandro, do ensaio El viaje inútil e dos romances Tesis sobre una domesticación e O parque das irmãs magníficas. Sucesso de público e aclamada pela crítica, esta obra foi traduzida para vários idiomas e agora é publicada no Brasil pelo selo Tusquets da Planeta.
Em 2020, O parque das irmãs magníficas recebeu o prestigioso prêmio Sor Juana Inés de la Cruz, outorgado pela Feria Internacional del Libro de Guadalajara (FIL).
FICHA TÉCNICA
Título: O parque das irmãs magníficas
Autora: Camila Sosa Villada
Tradução: Joca Reiners Terron
Páginas: 208
Preço: R$ 49,90
Selo Tusquets
Editora Planeta
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