Conheça a história inspiradora de Ingrid Silva: a bailarina brasileira que se tornou conhecida mundialmente ao pintar as sapatilhas com a cor da sua pele
A dança conseguiu motivar meu irmão e eu e nos levar a outras áreas que nos fizeram crescer não só como profissionais, mas como seres humanos. Este livro não fala apenas sobre balé. Ele relata a minha vida, o que me levou a ser essa mulher que, hoje, não tem dúvidas sobre a sua importância, sobre o seu lugar no mundo
Há 13 anos, Ingrid Silva saía de Benfica, subúrbio do Rio de Janeiro, para uma das maiores companhias de balé dos Estados Unidos, a Dance Theatre of Harlem, onde hoje ocupa o posto de primeira bailarina. Em A sapatilha que mudou meu mundo, Ingrid divide com o leitor sua trajetória desde que entrou no projeto social que mudaria sua vida até se tornar referência para tantas meninas e mulheres e alçar o destaque de um dos corpos de dança mais importantes do mundo.
Ainda muito jovem, Ingrid praticava natação e outros esportes na Vila Olímpica da Mangueira, que atendia as crianças das comunidades do entorno e, aos 8 anos, conseguiu uma vaga no Dançando pra não dançar, projeto social que leva aulas de balé para as comunidades do Rio de Janeiro, idealizado por Thereza Aguilar. Trocou a natação pelo balé, calçou as sapatilhas e nunca mais as deixou. Sempre incentivada pelo projeto, Ingrid fez audições para outras companhias e chegou a integrar o Centro de Movimento Deborah Colker e o Grupo Corpo.
Bethânia Gomes, primeira mulher negra brasileira a ser primeira bailarina na Dance Theatre of Harlem, visitou o Dançando pra não dançar quando Ingrid tinha 17 anos e a incentivou a fazer um teste para a companhia americana. Ingrid passou para um curso de verão e ao chegar em Nova Iorque se deparou com algo que nunca havia vivido no Brasil: a representatividade. “Lembro até hoje da sensação de abrir a porta e ver todos aqueles bailarinos. Pela primeira vez, depois de ter dançado em várias escolas, estava em uma sala de aula que refletia o que eu tanto esperava, foi magnífico!”, comenta. A companhia, fundada em 1969 por Arthur Mitchell, primeiro afro-americano a assumir o posto de bailarino principal do New York City Ballet, é a única companhia no mundo a ter mais bailarinos negros em seu corpo de balé.
Mas mesmo assim, ao entrar para a Dance Theatre of Harlem, Ingrid se deparou com mais um grande problema: a cor da sapatilha. Como o balé nasceu na Europa e foi idealizado predominantemente por pessoas brancas, as sapatilhas rosas sempre foram adotadas como um padrão. Ingrid, então, passou onze anos pintando os próprios calçados até conquistar sapatilhas fabricadas com a cor da sua pele. Um ano após a transformação estrutural que causou, um par das sapatilhas que Ingrid pintava virou peça do Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian, nos Estados Unidos.
Ao longo de sua vida, Ingrid venceu obstáculos, sofreu preconceito e narra no livro toda a sua caminhada até aqui. “A dança conseguiu motivar meu irmão e eu e nos levar a outras áreas que nos fizeram crescer não só como profissionais, mas como seres humanos. Este livro não fala apenas sobre balé. Ele relata a minha vida, o que me levou a ser essa mulher que, hoje, não tem dúvidas sobre a sua importância, sobre o seu lugar no mundo. Espero que você possa se redescobrir e se inspirar por meio da minha trajetória”, conta a bailarina.
Sobre a autora:
Ingrid Silva começou a estudar dança em um projeto social no Rio de Janeiro e, hoje, é a Primeira Bailarina do Dance Theatre of Harlem – companhia de dança conhecida mundialmente por priorizar dançarinos afro descendentes em seu casting. Em 2017 fundou a EmpowHer NY, entidade sem fins lucrativos que atua como um catalisador social estimulando o diálogo entre mulheres para que rompam os paradigmas impostos pela sociedade e vivam de acordo com a própria verdade. Em 2020, durante as discussões do movimento Black Lives Matter, ela co-fundou o Blacks In Ballet – uma rede digital que funciona como uma biblioteca, cujo objetivo é destacar bailarinos negros no mundo da dança e compartilhar suas histórias. Em 2020, as sapatilhas que costumava pintar no tom de sua pele, ao longo de sua carreira, passaram a integrar o acervo do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana Smithsonian, nos Estados Unidos. Este ano entrou para a lista das 20 Mulheres de Sucesso da revista Forbes Brasil. Também palestrou na 14° LEAD Conference na Universidade de Harvard, conferência de empoderamento e desenvolvimento de mulheres latino-americanas e no Festival Cannes Lions.