As línguas de sinais têm uma história de resistência no Brasil. Além da Libras (Língua Brasileira de Sinais), que é a mais usada pela população surda dos centros urbanos (e que tem reconhecimento oficial do governo), há diversas línguas de sinais em território brasileiro, sobretudo onde o português não é a língua corrente. Em comunidades indígenas de diferentes etnias, há sistemas linguísticos autônomos que compõem diferentes línguas de sinais. Uma delas é a da etnia terena. De forma pioneira, o graduando Ivan de Souza da UFPR (Universidade Federal do Paraná) realizou, para seu trabalho de conclusão de curso em licenciatura Letras-Libras, uma história em quadrinhos (HQ) que aborda a língua de sinais utilizada pelos surdos da etnia terena.
A HQ também é ilustrada por Julia Alessandra Ponnick, acadêmica do curso de Design Gráfico da UFPR, autora, ilustradora e roteirista de histórias em quadrinhos. Segundo a universidade, a obra tem o propósito de fortalecer o reconhecimento e a preservação das línguas de sinais indígenas e é apresentada em formato plurilíngue, sinalizada também na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
A HQ se chama Sol: a pajé surda ou Séno Mókere Káxe Koixómuneti, em língua terena. Conta a história de uma mulher indígena surda anciã chamada Káxe, que exerce a função religiosa de pajé (Koixómuneti) em sua comunidade. Ao ser procurada para auxiliar em um parto e após pedir a benção dos ancestrais para o recém-nascido, o futuro do povo terena é revelado e transmitido a ela em sinais. “A história mostra um pouco da rica cultura desse povo, as situações, consequências e resistência após o contato com o povo branco”, revela Souza. Inspirada na história real do povo terena, a narrativa apresenta a comunidade em uma época em que ela ainda vivia nas Antilhas e era designada pelo nome Aruák. A pajé Káxe, procurada por uma mulher em trabalho de parto, ajuda no nascimento do pequeno Ilhakuokovo.
O trabalho de Ivan de Souza iniciou em 2017 com o seu projeto de iniciação científica, que pesquisava a história dos surdos no Paraná. De acordo com a UFPR, o processo foi acompanhado por pesquisadoras que já desenvolviam trabalhos com os usuários da língua terena de sinais, e que a comunidade indígena também teve participação ativa no desenvolvimento e na validação da obra junto ao seu povo.
O lançamento da HQ está previsto para o final de março, com a defesa da monografia de Ivan de Souza na UFPR.
Fonte: UFPR
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