Michel Foucault é um dos mais importantes filósofos da contemporaneidade. Nascido na França, tem inúmeros livros publicados, inclusive livros que contemplas cursos dados por ele como professor no College de France.
Com uma vasta obra acerca da punição, do poder, da segurança, da loucura, da sexualidade, dentre outras, o que une os temas que Foucault investiga é sua concepção do poder como algo que produz, e não apenas reprime: produz relações, produz subjetividades, produz modos de funcionamento.
No livro O Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari – outros dois importantes pensadores contemporâneos a Foucault, ele foi convidado pelos colegas a escrever a introdução. O livro, nas palavras de Foucault, é “um livro de ética, o primeiro livro de ética que se escreveu na França depois de muito tempo”. Escrito no caldo efervescente de Maio de 68, O Anti-Édipo reúne e propõe conceitos de diversos campos de conhecimento para pensar uma nova proposta radical para compreender o inconsciente. Tecendo importantes críticas à cultura e aos modos como a psicanálise teorizou a respeito do inconsciente, Foucault acredita que o livro enfrenta três grandes inimigos:
1) Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2) Os lastimáveis técnicos do desejo – os psicanalistas e os semiólogos que
registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3) Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do AntiÉdipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini – que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.
É sobre o terceiro ponto, principalmente, que Foucault se debruça no decorrer da introdução, que leva o nome de “Para uma vida não fascista”. Ele, assim, faz um compilado de 7 conselhos para uma vida não fascista, ou seja, uma vida que combata o fascismo para inventar-se como uma vida livre. Confira, abaixo, os 7 princípios essenciais de que fala Foucault:
- Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;
- Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;
- Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o
que é produtivo, não é sedentário, mas nômade; - Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;
- Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;
- Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um
constante gerador de “desindividualização”; - Não caia de amores pelo poder.