As 14 melhores frases de O Destino da Carne, de Assis Brasil

Toda coisa que acontece é intrinsecamente semelhante ao homem a quem ela acontece.
Aldous Huxley

Amor Maldito. Sexo diletante. Feminismo. Ócio da burguesia privilegiada. Choque de gerações. Falsos valores sociais. Mediocridade e intelectualismo. A arte como via e conhecimento e esperança. Todos esses temas abrem um novo e revolucionário ciclo de romances de Assis Brasil. Esta é a sinopse da quarta capa de mais um livro de Francisco de Assis Almeida Brasil, o incrível escritor do Piauí que já publicou mais de 130 livros na carreira.

O Destino da Carne, de Assis Brasil, conta a história de uma família típica da burguesia carioca, moradora de Copacabana, em todas as suas potências e contradições. O foco da narrativa está na figura de Celina, filha mais velha, desbocada, rebelde, com forte caráter de desbunde advindo de um pensamento de contracultura que rejeita o status das instituições, principalmente da família e do papel da mulher, tais como eles são. No entanto, ambivalentemente, mantém uma relação quase obsessiva com um pintor estranho e conservador que lhe fascina pela estranheza e lhe traz o desejo de ser uma mulher tradicional.

Ao lado dela, sua mãe Carmem, uma mãe de família como qualquer outra, mas que, em segredo, frequenta um prostíbulo em que cobra para fazer sexo com homens aleatórios, dando-lhe um pouco de aventura secreta para a sua vida mulher “de casa”. Do outro lado, seu pai, que frequenta a casa de um rico poderoso apenas para se relacionar com sua esposa, uma mulher sensual que, casada por dinheiro, vive para trair o marido rico. Além disso, há também Orlandinho, irmão, Orlandinho, que namora uma moça ingênua, mas vive uma sexualidade conflituosa entre a hétero e a bissexualidade em festas com uso de drogas, nudez e sexo casual.

Trata-se de um romance que retrata toda a hipocrisia e demagogia de uma classe média que planeja sua vida a partir de planos ideias, mas utiliza seus privilégios e confortos para cobrar dos outros aquilo que lhes escapa. Como todo desejo controlado, extrapola para todos os lados, impondo um forte teor de ruptura o corpo e impulso para, a partir daí, romper toda e qualquer regra. Um livro que faz par com outra obra de Assis Brasil, Deus, o Sol, Shakespeare, que incorpora o melhor dos traços de uma contracultura, chegando a roçar de leve com a cultura beat americana e os poemas mais urgentes de Pasolini.

O NotaTerapia separou as melhores frases da obra:

A dúvida maior: por que estudar literatura? Aqueles pobres homens todos mortos – alguns pomposos, outros ridículos perseguindo a fama, como um cão persegue o osso – o cheiro longínquo da fêmea no cio – a gloriosa Glória, uma mulher sem dentes, de seios postiços / os tuberculosos românticos aceitando o mal como uma dádiva: tudo como um tributo de sangue à arte / pela posteridade / o mortal está morto, viva o imortal.

Servir é um caminho, Celina, seja no amor ou na morte.

Há momentos assim, quero dizer, um dia a gente acorda e acha que tudo é um nada absoluto, e a vida da gente é limitada e mesquinha.

Um minuto de silêncio para a morte.

Estas sofrem mais, são mais lúcidas, ou terra-a-terra. E sofrem ainda mais porque não sonham. E não sendo artistas, são parasitas a “linguagem do poder”. O caminho da liberdade é a “trapaça salutar” da linguagem artística.
Você não sabe o que é o nada? Você morre e acaba é enterrada para o banquete os vermes, mas isso ainda não é o nada. No dia seguinte você é esquecida, não mais lembranças, não mais memórias, o nada está engrossando o seu caldo do nada – as gerações vão passando por cima do seu corpo de nada, por sobre a sua alma de nada, por sobre o nada da recordações e dos sonhos. – Aí o sol começa a inchar e a crestar e a crosta corrompida do planeta, até tudo explodir e viver nas cinzas e isto é o nada total e único. Isto é o que a espera.

Olhe: não faça concorrência com a vida. Não faça concorrência com a vida.

O importante é viver, nem que seja por um eles momento.

A medida que o enjôo passava, era substituído por uma pequena euforia, uma alegria firme de viver, de viver.

O palavrão às vezes é necessário…como a poesia.

Sabe por que eu durmo de bruços com os braços em volta do travesseiro? É um sintoma de que estou só e necessito de ternura, de carinho. Nenhum animal pode fugir a isso. A solidão da obra de arte é diferente. Quero dizer: o sentimento solitário da criação. Horas e horas transpondo para a tela, projetando, rabiscando, experimentando: é a mesma solidão que sente o corredor da maratona, dentro de um tempo em que só ele existe.

Só mais tarde, muito mais tarde, eu compreenderia que é preciso um freio para todos os nossos atos: o ser livre é um condenado, eu concordo. Lançado ao mundo, sem se ter criado a si próprio, é responsável por tudo quando fizer.

Somos uma coisa que pensa, infelizmente – uma coisa que duvida, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente.

A mulher sempre foi inspiração, mas é um trambolho quando desce do pedestal.

Edição: Editora Nórdica, 1982

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