“Onde estavas quando lancei os fundamentos da terra? Fala, se estiveres informado disso.”
Livro de Jó, 38, versículo 4.
Destino Implacável já se inicia nos apontando para a via crucis que seu personagem principal vai passar: uma citação ao Livro de Jó, da Bíblia. Para quem não conhece, Jó é aquele em quem Deus e o Diabo fazem uma espécie de aposta de fidelidade e que, lançado a todos os horrores da terra como o assassinato dos filhos, a perda de toda riqueza e uma imensa quantidade de feridas na pele, ainda assim resistiu a renúncia de Cristo. Os sofrimentos da figura de Destino Implacável não serão diferentes.
Destino Implacável, de Ateneia Araújo, conta a história de João Pedro, um sujeito que na infância foi abandonado pelo pai e teve de ver, ao lado do irmão, a mãe ser espancada por longos anos e, por fim, ser assassinada pelo seu novo marido. Porém não para por aí: quando adulto, durante um mesmo breve de tempo, teve de suportar a morte frequente de seu irmão e a perda da esposa, por traição. Entretanto, diante de um cemitério, ele conhece uma mulher, alguém com quem faz amizade. Até onde esta amizade pode levar?
Eu comparei o destino a uma aranha, que nos devora no final. Agora sei que meu destino é sobreviver e ficar sozinho.
A obra de Ateneia circula por diversos gêneros: desde o drama pessoal, na grande batalha interior de João Pedro e seus problemas com alcoolismo, tabagismo e uma vida desregrada no que se refere a saúde, passando pelo suspense/thriller com a estranha morte de pessoas na cidade, principalmente aquelas com vidas similares a de João e, finalmente, a ficção científica, por conta de um livro que a personagem lê que alega que há ou haveria vida em outro planeta. Será?
Entretanto, o que se destaca em Destino Implacável é a vida que João Pedro precisa suportar após tantos sofrimentos. O abuso de álcool faz com que ele, de certa forma, perca o controle de seus atos e pensamentos, sendo expulso de bares após vômitos e desmaios, além de, possivelmente, o causador dos pesadelos e visões que ele recebe de seu irmão. O alcoolismo, tratado de modo sério, é talvez, a grande tônica do livro cuja ideia se dá ao redor da pergunta: como suportar um sofrimento que ultrapassa o nosso corpo? Como continuar vivendo quando a dor não dói entre a pele e os órgãos, mas em um espaço inexistente que chamamos de alma?
Nada é fatalidade do destino. Só fracassa quem desiste de lutar. Quem luta sempre chega a algum lugar. O mundo pode ser uma merda, só que eu não vou permitir que os problemas me vençam. Lutar foi o que nos ajudou a sobreviver a merda em que vivemos.
Atenéia vai tentar responder estas perguntas. Em alguns momentos, faz de forma niilista: o destino é mesmo implacável e vai nos levar aos mesmos fins de sempre. Em outros, tende à esperança: vê nos encontros e nas pequenas coisas da vida uma saída para a grande morte. Em outros, esbarra em questões morais: fazer o que é reconhecidamente ruim pela sociedade, mesmo que isto tenha sido decidido arbitrariamente, vai te levar à ruína. Além, claro, de um pequeno traço do pensamento cristão: é preciso um pouco de sacrifício para que a felicidade venha.
Apesar disso, trata-se de um livro de grande velocidade, com grandes reviravoltas e um final absolutamente surpreendente. É impossível não acompanhar a saga de João sem querer em alguns momentos dar a mão a ele e suportar todo o sofrimento que a vida lhe impôs. A pergunta que fica é: diante da vida, o que escolhemos? Viver aos poucos, viver rapidamente ou morrer, já que só se morre de um jeito e apenas uma vez?
Sobre a autora:
Atenéia Rocha França de Araújo, licenciada em Letras com habilitação em Língua Inglesa pela UEPB , nasceu e vive em Campina Grande, PB, e escreve desde pequena, tendo nas letras e na escrita sua forma de se expressar em relação ao mundo. Já publicou , além de Destino Implacável, A princesa e o dragão prateado, também pela Garcia Edizioni e costuma participar de antologias poéticas. Entre os seus autores preferidos estão Edgar Allan Poe, Mary Shelley e Stephen King.
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