Laura Palmer é uma das personagens mais famosas da teledramaturgia mundial. A protagonista morta da série Twin Peaks, de David Lynch, até hoje paira sobre os fãs da série como uma figura sombria, ambígua e que pouco se sabe. Na série, ela é encontrada morta e, aos poucos, vai se descobrindo que por trás da aparência de boa moça, há muito mais a se revelar. Pensando nisso, Jennyfer Lynch, filha de David e co-diretora da série, resolveu escrever um diário íntimo para sabermos o que se passa por detrás desta menina bela, popular e conhecida na pequena cidade. O livro, um relato da moça ao comprar um diário e relatar sua adolescência, desde a descoberta do sexo, até a entrada no álcool e nas drogas, logo se tornou um best seller e serve genialmente como um apêndice da série. Leia mais na resenha do Indique um Livro!
No decorrer do livro, Laura resolve escrever alguns poemas para passar, de forma poética e indireta, eu sentimentos. O NotaTerapia separou esses poemas que você pode conferir logo abaixo:
Aqui vai um poema
Da luz que entra pela minha janela ele pode ver dentro de mim
Mas eu não o vejo até que se aproxime
Respirando, sorrindo à minha janela
Ele vem para me buscar
Girar, girar
Sair e brincar Vem brincar
Relaxe Relaxe Relaxe
Pequenas rimas e pequenas canções
Pedaços de floresta em meus cabelos e em minhas roupas
Eu o vejo às vezes perto de mim
quando sei que não pode estar lá
Eu o sinto ás vezes perto de mim
e sei que tenho de aguentar.
Quando chamo
Ninguém me ouve
Quando sussurro, ele acha que é uma mensagem
Só pra ele.
A voz pequena em minha garganta
Penso que sempre que devo ter feito alguma coisa
Ou que é algo que faço
Mas ninguém, ninguém vem ajudar,
Ele diz: Uma menina como você.
Algum dia crescer será mais fácil
Lá no fundo estão os desejos da mulher de sair
Ver o céu
Ver o sol e a lua
E as diminutas estrelas na noite da mão de um homem
Às vezes pela manhã
Olho através de mim
E vejo vales e montanhas
Imagino rios subterrâneos.
Fora de mim
Floresço
Dentro estou secando
Se eu pudesse entender
A razão do meu pranto
Se pudesse parar a razão deste medo
De sonhar que estou morrendo.
***
Dentro de mim há uma coisa
Que ninguém conhece
Como um segredo
Às vezes me domina
E eu sou arrastada
Para a escuridão.
Esse segredo me diz
Que nunca vou envelhecer
nunca vou rir com amigos
Nunca vou ser quem sou, se eu revelar
Seu nome.
Não posso dizer se é real
Ou se é sonho
Porque ele se eme toca
Eu sucumbo
Não há lágrimas
Nem choro
E eu sou envolvida
Por um pesadelo de mãos
E de dedos
E por pequeninas vozes da floresta.
Tão errada
Tão bela
Tão má
Tão Laura
Ouvindo a floresta
Acho que as árvores tem alma
Alma que cresce e que muda
No silêncio de cada folha
A memória de momentos que ninguém vê
E nenhum homem jamais ouviu
Pede um tempo para se pensar
Que as árvores tudo veem
E no jeito como sussurram
Indicam que querem falar.
Talvez tentem cochichar
Na palma da mão de alguém
que se lembram da garotinha
E que dentro dela há um vazio
E uma boca nova e bem menor
Mas ninguém as ouve ou se importa
Que talvez
As árvores saibam
Que há algo de muito errado
Que elas querem falar da tristeza
Vista durante tantas noites
Acho que o mundo inteiro
Deveria andar pelas florestas
Ouvindo atentamente,
As vozes das folhas.
Ver os detalhes, os minúsculos mapas
Das pegadas, e às vezes as nódoas
Devia ver que as folhas
Tem forma de lágrimas
Devia olhar o desenho das agulhas caídas
Talvez existam marcas no chão
Que conduzam o mundo
Àquele que tudo fez
Alguma coisa está pintando…
A memória de uma brincadeira
Eu era pequena, olhava para ele
E ele me manda deitar
Ou dizer coisas
Antes de falar
Que abrir a boca era ruim
Que tínhamos um segredo
Antes de ele começar a me virar do avesso
Com suas garras nojentas
Antes de eu me sentar no morrinho
Nós costumávamos brincar
De mãos dadas
Falar do que víamos
Ele me dizia que o via
Mas eu não podia ver
Estive cega
Acho
Desde que a brincadeira parou.
Aos olhos do visitante
Sou algo constante
Um animal de caça
Tanto faz quantas vezes
Me atacam
Volto ao ninho
Sangrando
Eu fico.
Eu sou o maior dos tolos.
Uma falha no ciclo da vida.
Uma criatura sem nenhum
Respeito
Pela vida
Por si mesma
Por ser inimigos
Estou sempre ali
No caminho do inimigo.
Eu fico.
Não tenho nenhum respeito
Nada sobrou
Para o inimigo
Para o ninho
Para a planta
Para a caça.
Espero
Sem nenhuma escolha
Enfrento sua ameaça
Para levar esta criança
Pela mão até a Morte.
Edição: Globo Livros, 2016. Tradução: Vera Caputo