O conceito de juventude mudou muito com o passar dos anos e mesmo em culturas diferentes encontramos maneiras distintas de caracterizar a “moçada”. Em geral, é depositada na juventude a fé para um futuro melhor. É na juventude que tomamos decisões cruciais e experimentamos a liberdade, a independência e o amor. Foi porque viu num espelho sua juventude se esvaindo que Stella, a protagonista do filme Jovens Amantes (2022), escolheu ser atriz. E, por causa dessa decisão, vai vivenciar experiências inesquecíveis.
É na escola de atuação que Stella (Nadia Tereszkiewicz) conhece e fica próxima de Adèle (Clara Bretheau), Étienne (Sofiane Bennacer) e Victor (Vassili Schneider), entre outros. Eles estão entre os doze escolhidos para fazer o curso, depois de um breve teste com quarenta candidatos. Após um estágio rápido no Actors’ Studio de Nova York, os doze voltam para a França para montar a peça Platonov de Tchekhov, escolhida pelo diretor Patrice (Louis Garrel) por tratar exatamente de… juventude.

De repente, os relacionamentos dentro da peça se confundem com os de fora. O aluno e o diretor de teatro compartilham um momento injetando drogas. Um diagnóstico coloca as meninas do grupo em desespero. E Stella tem seu coração partido.
Étienne usa drogas mas diz que “para quando quiser”. É um pensamento recorrente entre os que entram para este submundo: vício não existe ou “comigo isso não vai acontecer”. Aqui, é parte de algo maior: o mundo artístico, a glória e seu cortejo de horrores.

A peça Platonov foi escrita por Tchekhov quando ele tinha apenas 17 anos e foi oferecida exclusivamente para a atriz Maria Yermolova, que se recusou a fazer a peça. Isso fez com que o texto ficasse inédito até 1923, quase vinte anos após a morte de Chekhov. O personagem principal, comparado a Hamlet e Don Juan, se considera, como os jovens, inteligente e perspicaz, mas levará um choque de realidade. Concomitante à montagem de Platonov, em Jovens Amantes será montada Pentesileia, tragédia do dramaturgo alemão Heinrich von Kleist baseado no mito grego das Amazonas.
O título original do filme é “Les Amandiers”, fazendo referência ao teatro onde os jovens aspirantes a atores estrearão Platonov. Embora haja um romance como fio condutor, o título em português “Jovens Amantes” aponta para um romance mais tórrido, com complicações que aqui são quase alheias aos pombinhos. O título em inglês, por sua vez, vem ao encontro do tema que permeia este texto, a juventude: “Forever Young”.

O roteiro foi escrito a seis mãos, por Valeria Bruni Tedeschi, Agnès De Sacy e uma das minhas atrizes francesas favoritas, Noémie Lvovsky. O tom é semiautobiográfico, como a própria Valeria explica sobre suas inspirações:
“Não apenas minhas [memórias], mas também as de Noémie, Agnès e de outros ex-alunos da escola. Depois disso, nos damos total liberdade para retrabalhar, ficcionalizar, misturar, fundir e inventar. A imaginação precisa ter espaço para se divertir, sem autocensura ou tabus em excesso.”
Uma personagem muito interessante, porém subutilizada, é Adèle, inspirada na diretora de cinema Eva Ionesco, que foi modelo da própria mãe fotógrafa quando criança, aparecendo em uma série de fotos polêmicas. Mais tarde, Eva dirigiu um filme sobre essa experiência marcante, escalando Isabelle Huppert para viver um alter ego de sua mãe, Irina Ionesco.
Da família de Stella, não conhecemos ninguém. Sua figura de referência é o mordomo da mansão, Gaspard (Bernard Nissille). Ele e os diretores são as personagens mais velhas, o resto do elenco é todo formado por jovens. Mas isso não significa que o filme só possa ser apreciado por quem ainda não atingiu a maturidade. Jovens Amantes traz um relato quase nunca lisonjeiro, mas provavelmente muito fiel, de como era a porta de entrada do mundo artístico, mesmo que só ao final fiquemos a par de qual é a época em que se passa o filme.
Revisado por Mariana Perizzolo
“Jovens Amantes” estreia nos cinemas em 03 de julho. Confira o trailer:
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