Em Mulher de pouca fé, romance de formação com tintas autobiográficas, Simone Campos conta a jornada de uma menina carioca desde a infância, quando se converte a uma renomada denominação evangélica, até a vida adulta — momento em que rompe com a igreja. Uma história de amadurecimento, vínculos familiares e convicções que, muitas vezes, podem cair por terra.

Nascida em uma família católica nos anos 1980, a narradora de Mulher de pouca fé se converte, ainda criança, a uma influente igreja evangélica no Rio de Janeiro depois que o pai decide abraçar a doutrina pentecostal e se torna um fiel fervoroso. Para quem nunca se sentiu acolhida na escola, entre colegas, e pela sociedade de modo geral, a religião surge como resposta para a dor da solidão.
Fazer parte da igreja passa a ter muitos significados. Vestir o rótulo de “crente” num meio de classe média em que eles são minoria a enquadra em um estigma, mas por outro lado faz com que a menina se sinta parte de algo maior. Criança precoce, desde cedo é chamada a cumprir papéis importantes na comunidade religiosa: orar na rádio, cantar no púlpito e, já na adolescência, participar da campanha política de um candidato-pastor e trabalhar como sua ghost-writer.
Ao descrever o desabrochar da sexualidade e do interesse por música e por literatura, a protagonista relata seu percurso espiritual, afetivo e profissional desde a infância até o começo da vida adulta. O machismo aparece como plano de fundo imprescindível da trama, pelo olhar de uma narradora que sente na pele o peso dos comportamentos que a doutrina evangélica rotula como desviantes e condenáveis.
Leia também: 10 lançamentos literários de 2025 para ficar de olho
No auge da juventude, alguns episódios fazem com que a personagem passe a questionar as próprias convicções, e ela decide romper com a igreja. Já adulta, recebe o diagnóstico de autismo e busca se reaver com o passado a partir de novas interpretações para os momentos e as situações que a formaram. Mulher de pouca fé é uma obra de ficção que parte de um testemunho real para narrar uma trajetória pouco convencional, em que a religião se apresenta, num primeiro momento, como acolhimento e, mais tarde, como privação.
Sobre a autora:

Simone Campos nasceu no Rio de Janeiro, em 1983. É doutora em literatura pela UERJ e autora de No shopping (7 Letras, 2000), A feia noite (7 Letras, 2006), A vez de morrer (Companhia das Letras, 2014) e Nada vai acontecer com você (Companhia das Letras, 2021), entre outros livros.
Destaque: