“Os Observadores” (2024): fantasia apressada reflete sobre imagem e performance

É difícil fugir da sombra de M. Night Shyamalan ao pensar sobre Os Observadores, dirigido pela filha do divisivo cineasta, Ishana Night Shyamalan, especialmente quando o próprio filme não tem muito receio em trilhar os mesmos caminhos do pai, com suas referências bem mapeadas. Há um pouco de A Vila (2004) na ideia central, de pessoas isoladas na floresta tendo que lidar com monstros que se escondem entre as árvores, assim como um toque de A Dama na Água (2006), com um mundo fantástico entrando em conflito com o mundo moderno.

Não que seja raro, ou errado, os filhos trilharem caminhos similares aos dos pais. Brandon Cronenberg, filho de David Cronenberg, aborda as mesmas questões que o lendário diretor canadense, interessado em questões do corpo, identidade e sexualidade. Ishana aprendeu a dirigir sob a tutela do pai, trabalhando em Servant e Batem À Porta (2023), e é possível perceber em seu primeiro longa que o olhar para o suspense foi bem herdado.

Os Observadores faz bom uso do espaço limitado onde boa parte da ação se passa – um retângulo de concreto com uma parede de vidro espelhado – buscando metáforas visuais para ilustrar questões que estão no centro da narrativa, como performance, políticas do olhar e duplicidade. Logo no início da obra, somos apresentados a uma característica peculiar da protagonista, Mina (Dakota Fanning), sua tendência em assumir uma outra identidade e sair à noite, criando uma fantasia para si própria, e é comum ao longo do filme vermos sua imagem duplicada de diversas maneiras.

Assim, é bastante pertinente que o terror inicial do filme a coloque em uma posição similar. Ao ir parar na misteriosa estrutura de concreto, Madeline (Olwen Fouéré) a informa que, toda noite, as criaturas do título ficam do outro lado do espelho, observando os habitantes. Para sobreviver, é preciso seguir regras, e uma delas é: nunca fique de costas para o espelho.

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É uma relação muito similar com a audiência de um reality show, e para não deixar dúvidas disso, uma das distrações de Mina durante seu aprisionamento é justamente um desses programas, mas conforme a trama se expande, a dimensão da metáfora idem, abordando, por exemplo, a tendência da audiência em imitar as coisas que vêem na tela, uma ideia bastante pertinente em tempos de viralização e redes sociais, onde cada vez mais os influencers parecem intercambiáveis, e um público que, também, anseia se espelhar nessa figuras.

Mas Ishana, que também roteirizou o longa, não dá espaço para essas ideias se estabelecerem dentro do filme. Os Observadores têm um ritmo célere, que por um lado, o torna um filme bem ágil, mas por outro, seus conceitos acabam se tornando passageiros. Até mesmo elementos importantes a um nível mais imediato, como as regras ditas por Madeline, acabam ficando sem peso, pois o tempo que se passa entre o seu estabelecimento e a quebra das mesmas é tão curto, que a gravidade desse ato não é registrada.

Conforme se aproxima da conclusão, a obra envereda por outro caminho muito caro ao de M. Night: o sentimentalismo. Vale lembrar que em seus dois últimos filmes, Tempo e Batem à Porta, o amor é colocado no centro de tudo, com o filme de 2021 possuindo uma belíssima cena de despedida de dois personagens à beira mar, refletindo sobre a passagem do tempo. Os Observadores tenta algo similar, mas sem a construção prévia que tornaria o momento tocante. Cabe a Dakota Fanning dizer em detalhes tudo que é necessário para a conclusão funcionar emocionalmente, e busca se apoiar na mal desenvolvida fantasia de seu mundo, e descarta ideias mais centrais à trama. Faltou um pouco de costura e paciência para tudo ressoar com a força necessária.

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