Concebida a partir de uma viagem do autor por países da África Austral, “As mulheres do meu pai” conta a jornada de Laurentina em busca do passado do pai recém-descoberto
A cineasta portuguesa Laurentina descobre ser filha biológica do famoso compositor angolano Faustino Manso. Descobre, além disso, que esse pai acabara de falecer, aos 81 anos, deixando sete viúvas e dezoito filhos. Decidida a reconstruir a trajetória do pai recém-descoberto — posicionando peças de sua própria história e ancestralidade –, Laurentina viaja pelo continente africano, em busca de pistas sobre como foi a vida do músico. É esta jornada que o premiado escritor angolano José Eduardo Agualusa narra em seu sétimo romance As mulheres do meu pai, publicado originalmente em 2007, e agora relançado no Brasil pelo Selo Tusquets, da Editora Planeta.
— Luanda?! — Babaera riu quando lhe falei do meu desconforto. — A cidade capital é um horror, maninha. Primeiro Deus criou Angola, a seguir veio o Diabo e criou Luanda.
Na celebrada publicação, os limites entre ficção e realidade se misturam, se fundem e se confundem. Composto por diversos narradores, incluindo o próprio autor, o livro é fruto de uma viagem pela África Austral feita por Agualusa, pela documentarista britânica Karen Boswall e pelo fotógrafo espanhol Jordi Burch. É a partir desses territórios e da interação com seus colegas que o escritor concebe Laurentina, seus companheiro de viagem — Mandume, Bartolomeu e Pouca Sorte –, e até pontos de localização, como uma casa vermelha perdida em algum lugar entre Cidade do Cabo e Joanesburgo. Nos territórios que José Eduardo Agualusa atravessa, a realidade é quase sempre mais inverossímil do que a ficção.
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Os quatro personagens do romance vão, acompanhados pelo próprio escritor, de Luanda, capital de Angola, até Benguela e Namibe. Depois cruzam as vastas areias da Namíbia e as suas povoações fantasmas, alcançando, finalmente, a festiva Cidade do Cabo, na África do Sul. Continuam então rumo a Maputo, em Moçambique. De Maputo, seguem rumo a Quelimane, junto ao rio dos Bons Sinais — e dali até a Ilha de Moçambique, onde morreu o poeta brasileiro Tomás Antônio Gonzaga. Percorrem, nesta deriva, paisagens que fazem fronteira com o sonho, e das quais emergem, aqui e ali, as mais estranhas personagens.
Uma vez alguém perguntou ao escritor e jornalista polaco Ryszard Kapuscinski o que mais o impressionara de África. Kapuscinski não hesitou: “A luz!”. É isto: onde uns veem luz, outros apenas distinguem sombras. Os que veem sombras constroem muros para se proteger. Tendem a ser fanáticos construtores de muros.
Do sonho, aliás, veio algumas das inspirações para o livro: “Sonhei também com uma frase. Acontece-me frequentemente. Eis a frase: ’De quantas verdades se faz uma mentira?’”, afirma o autor em uma de suas entradas nesta publicação que funciona tal como um road movie. Nestas páginas, anuncia-se o poder cultural dos países africanos, territórios afetados por problemas terríveis, mas abençoados pelo talento da música, a determinação das mulheres e o secreto poder dos ancestrais. A reedição é acompanhada ainda pelo trabalho do artista Alex Cerveny, que assina a imagem de capa.
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“Não estamos nós, sempre, buscando um pai e um passado que, quando e se encontrado, se revela completamente diferente daquele que buscávamos? Mas o que mais importa nessa busca não são os segredos e as descobertas, e sim o próprio ato de buscar. Seguindo uma pergunta colocada no início do livro: ‘De quantas mentiras se faz uma verdade?’, descobre-se que a verdade, quando revelada, pode ser muito mais desinteressante do que as mentiras que se criam sobre ela e, como diz o romance, ‘nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado.”
– Noemi Jaffe, escritora
FICHA TÉCNICA
Título: As mulheres do meu pai
Autor: José Eduardo Agualusa
Páginas: 336 p.
Preço: R$ 76,90
ISBN: 978-65-5535-611-3
Editora Planeta | Selo Tusquets
SOBRE O AUTOR
José Eduardo Agualusa nasceu em Huambo, Angola, em 1960. Estudou silvicultura e agronomia em Lisboa, Portugal. Escreve crônicas para o jornal brasileiro O Globo. É membro da União dos Escritores Angolanos e já teve seus livros traduzidos para mais de 30 idiomas. Pelo selo Tusquets da Editora Planeta do Brasil, publicou O terrorista elegante e outras histórias, livro escrito a quatro mãos com o moçambicano Mia Couto, além de A sociedade dos sonhadores involuntários, Os vivos e os outros e O vendedor de passados, pelo qual Agualusa venceu o Independent Foreign Fiction Awards. Em 2017, recebeu o prestigiado International Dublin Literary Award pela edição em língua inglesa de Teoria geral do esquecimento, também finalista do Man Booker International Prize.
SOBRE O SELO TUSQUETS
Foi criado em 1969, na Espanha, pela brasileira radicada no país, Beatriz de Moura, e seu marido, Oscar Tusquets. Presente no Brasil desde 2016, este é o selo de ficção literária da Editora Planeta. Ao longo de sua história, foi responsável por lançar obras de Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, entre outros grandes nomes da literatura mundial.