Muitas vezes, a gente perde a dimensão do quanto a ditadura militar impactou a nossa sociedade. A censura da ditadura se alastrou por todos os aspectos da cultura, atingindo filmes, peças de teatro, danças, romances, contos, poesias e tudo que resolvia se manifestar com liberdade.
De acordo com levantamento do escritor Zuenir Ventura, apenas nos dez anos de vigência do AI-5 (13 de dezembro de 1968 a 31 de dezembro de 1978), foram censurados cerca de 200 livros, além de 500 filmes, 450 peças de teatro, dezenas de programas de rádio, 100 revistas, mais de 500 letras de música e uma dúzia de capítulos e sinopses e telenovelas. O Ato também atingiu diretamente mais de 1.607 cidadãos registrados, dos mais diversos setores e áreas, com punições – cassação, suspensão de direitos políticos, prisão e/ou afastamento do serviço público, sem contar a perseguição política e a tortura de centenas de outros, os dados não computados e os efeitos colaterais na sociedade brasileira. Além disso, há também uma lista com 88 livros teóricos que foram censurados, a maioria deles de teorias políticas.
A gente separou 10 autores e autoras que foram censurados pela ditadura militar. Confira:
Cassandra Rios
![Aventuras na História · Cassandra Rios: a autora que teve 36 livros censurados durante a ditadura militar](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/amazon/capturar_widelg.png)
Cassandra Rios foi a escritora mais censurada pela ditadura militar brasileira. Autora de livros eróticos, suas obras fizeram muito sucesso durante a década de 70. Embora a autora tenha sido duramente perseguida, isso não a impediu de publicar 36 livros e vender mais de um milhão de exemplares. Alguns dos livros censurados da autora foram Eu Sou uma Lésbica que conta a infância de uma jovem lésbica, durante os “anos de chumbo”, e Veneno.
Dias Gomes
![De marido de Janete Clair a autor de "Roque Santeiro": Há 20 anos morria Dias Gomes](https://imagem.natelinha.uol.com.br/grande/Dias_Gomes_d964a672d88219ec7976817739f8308c619b558d.jpeg)
A novela Roque Santeiro, da Rede Globo foi censurada em 1975. Por meio de grampos telefônicos, os militares descobriram que a trama se baseava em uma peça de teatro que já havia sido proibida, ou seja, a novela proíbe uma peça que já estava proibida. Apenas em 1985 a novela foi lançada, com somente o ator Lima Duarte representando o elenco original.
Nelson Rodrigues
![6 livros incríveis de Nelson Rodrigues | Estante Virtual Blog](https://blog.estantevirtual.com.br/wp-content/uploads/nelson-rodrigues2-800x445.jpg)
Nelson Rodrigues também foi um autor amplamente censurado pela ditadura militar. Um dos casos mais conhecidos foi o do livro O Casamento, um dos primeiros livros a ser censurado durante o regime, ainda em 1966, quando a repressão não era intensa. A obra foi censurada tendo proibida pelo Ministro da Justiça de então a comercialização e a impressão da obra, inclusive com a atuação de agentes do DOPS recolhendo exemplares em livrarias de diferentes estados. A obra foi considerada subversiva, indecorosa e uma afronta as famílias brasileiras. A narrativa aborda a história do casamento de Glorinha e Teófilo, em que o médico da família conta ao pai da noiva que viu seu futuro genro beijando outro homem.
Rubem Fonseca
![Aos 94 anos, morre Rubem Fonseca | Lauro Jardim - O Globo](https://s2.glbimg.com/LzA7VD3RJYfO6Rxu8m9g5e6H7uE=/640x424/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2019/03/20/rubem-fonseca-840x560_nmZ3jNj.jpg)
Apesar de ser um homem de direita e ter sido considerado, no mínimo, conivente com o regime vigente, Rubem Fonseca também foi censurado, como por exemplo com seu romance Feliz Ano Novo, publicado em 1975. O livro foi censurado um ano após seu lançamento e foi recolhido pelo Departamento de Polícia Federal sob a alegação de ser uma ameaça à moral e aos bons costumes da família brasileira. A obra é composta por contos que envolvem temas polêmicos, como sexo, violência e conflito entre classes sociais.
Ignácio de Loyola Brandão
O caso de Ignácio de Loyola Brandão é curioso. O seu livro passou pela censura prévia, foi publicado e chegou a atingir um bom público. Sua censura foi posterior. É o caso do romance Zero que, por causa de “dedos duros” que denunciaram a obra publicada, fez o regime rever sua autorização e proibir sua circulação. No caso, não foi uma censura prévia, mas uma censura tardia.
Aguinaldo Silva
![As pessoas querem ver novelões", diz Aguinaldo Silva | Exame](https://exame.com/wp-content/uploads/2020/05/aguinaldo-silva.jpg)
Aguinaldo Silva, ele mesmo, o autor de grandes novelas da televisão brasileira, também teve suas obras censuradas. Uma delas foi o caso de Dez Estórias Imorais que, de acordo com documentos do próprio estado: “Nos termos do parágrafo 8º do artigo 153 da Constituição Federal e artigo 3º do Decreto-lei no. 1077, de 26 de janeiro de 1970, proíbo a publicação e circulação em todo território nacional, do livro intitulado ―DEZ ESTÓRIAS IMORAIS (…) por exteriorizarem matéria contraria à moral e aos bons costumes”. Por isso fico sempre de cabelo em pé quando alguém grita em nome da moral e dos bons costumes. Aguinaldo, aliás, foi levado e interrogado nos porões da Marinha”
Darcy Ribeiro
![O Brasil de Darcy Ribeiro - Nossa Ciência](https://nossaciencia.com.br/wp-content/uploads/2018/10/darcy-ribeiro.jpg)
É óbvio que Darcy Ribeiro ia entrar nessa lista, né? Um dos grandes mestres da educação brasileira sempre será censurado em anos de repressão e veto às liberdades. No caso, estamos falando de uma das maiores referências sobre educação no Brasil: A Universidade Necessária. No total, as obras de não ficção e teórica também foram perseguidas pelos anos de chumbo que, ao seu final, embora proibiram pelo menos 200 livros censurados, tendo analisado quase 500 livros.
Renato Tapajós
![Renato Tapajós: Não éramos apenas artistas, éramos militantes políticos - Carta Maior](https://www.cartamaior.com.br/arquivosCartaMaior/FOTO/134/5415C97928881489341EC79B41EE20FDE67B3F34D089A936868E4EEA3C67DBEF.jpg)
No Brasil, embora os escritores não tenham sido tão perseguidos como os jornalistas, afinal a literatura sempre foi pouco lida no país e, por isso, corria menos risco de espalhar seus conteúdos “subversivos”, ainda assim foram muitas as obras que não puderam ganhar mundo. É o caso de Tapajós que não escapou das grades com sua obra censurada por representar “uma apologia do terrorismo, da subversão e da guerrilha em todos os seus aspectos”. Ele foi também o único autor a ser preso durante o regime pelo conteúdo de seu livro.
Adelaide Carraro
![Faces de uma capa: [Kuriozidades] - Adelaide Carraro e suas principais obras - Por: Aparecido Raimundo de Souza](http://4.bp.blogspot.com/-B6HENZjfG1c/VeSKb26CLnI/AAAAAAAADq8/pbSjmRQB15k/s640/adelaide.jpg)
Mais uma autora amplamente censurada pela ditadura, assim como Rios, Adelaide teve várias de suas obras na lista da tesoura dos milicos, e também rivalizava com ela em termos de vendas. Segundo Sandra Reimão as características das obras “eram livros “fortes” que misturavam política, “negociatas” e sexo, muito sexo”. Um exemplo de obra censurada é o caso de Carniça.
Álvaro Alves de Faria
![O POETA - Alvaro Alves de Faria | Entrementes - Revista Digital de Cultura](https://i1.wp.com/entrementes.com.br/wp-content/uploads/2018/05/alvaro-alves-de-faria.jpg?fit=801%2C600&ssl=1)
O caso de Álvaro Alves de Faria é, talvez, o que mais indica a falta de sentido da ditadura militar. No caso, ele resolveu enviar sua obra Contos de Pavor e Alguns Poemas Desesperados previamente para a censura, achando que se fizesse isso, teria mais chance de ser uma obra liberada. Pelo contrário, isso causou mais suspeitas e o livro acabou sendo proibido de qualquer jeito. Assim, foi mais um livro e autor proibido pelo regime.
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