Um dos momentos mais terríveis da história do Brasil foi a ditadura militar instaurada após um golpe civil militar em 1964. A ditadura foi se acentuando até o AI-5, instituído em 1969, em que congresso e senado foram fechados. Assim, tivemos um país que ficou quase 40 anos sem votar para presidente. Embora uma série de forças tentam fazer um revisionismo com o passado, os registros históricos dos horrores da ditadura, não só no Brasil, mas também na América Latina são extensos.
Como toda ditadura, eles instituíram a censura dos meios de comunicação e de imprensa, assim como perseguiram várias formas de manifestação cultural e artística, tendo muitos artistas sido exilados em diversos países do exterior. Na música brasileira, muitos foram os artistas que foram censurados e encontraram meios para “burlar” a censura em suas composições.
O NotaTerapia separou algumas dessas canções. Veja aqui:
1 – Cálice, Chico Buarque e Milton Nascimento
A canção escrita em 1973, foi alvo de censura e só foi lançado 5 anos depois, em 1978. Chico traça uma série de críticas ao governo autoritário, com citações a passagem bíblica de Marcos (14:36) que parecem comparar o sofrimento de Jesus no calvário com a da história do Brasil.
2- O Bêbado e a Equilibrista
O Bêbado e o Equilibrista foi escrita em 1979 por Aldir Blanc e João Bosco. O bêbado, “trajando luto”, reflete a confusão e a tristeza do povo brasileiro, que sofria com o final da liberdade. A Pátria chora junto com todas as mães, esposas, filhas e companheiras daqueles que estavam sendo levados pela polícia militar. Ao mencionar as nuvens como “manchas torturadas”, a letra denuncia os casos de tortura e morte que se multiplicavam pelo país inteiro.
Desabafando sobre o “sufoco” diário da “noite do Brasil”, uma grande metáfora para a ditadura, serve para lembrar de “tanta gente que partiu”, os exilados que fugiram para sobreviver.
3- Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré
Pra não dizer que não falei das flores foi escrita e cantada por Geraldo Vandré, um dos mais célebres hinos contra a ditadura militar brasileira. Também conhecida como “Caminhando e cantando”, a música foi apresentada no Festival Internacional da Canção de 1968. Após isso, o cantor foi exilado e, após retornar o Brasil, nunca mais mencionou a ditadura. Este parece ser um dos casos mais célebres de músicos que foram perseguidos e tiveram suas vidas destruídas pela ditadura.
4- Apesar de Você, Chico Buarque
Apesar de você é uma das mais emblemáticas músicas sobre a ditadura militar. Escrita e gravada por Chico Buarque em 1970, a canção foi censurada na época, sendo liberada apenas em 1978. Com a repetição constante do primeiro verso, “Amanhã vai ser outro dia”, Chico relembra da nossa esperança do povo esperar a queda do regime.
5- Sinal Fechado, Paulinho da Viola
Paulinho da Viola escreveu essa música em 1969, ano em que foi instituído o AI-5. Na canção, Paulinho fala de um sinal que está fechado e de um diálogo de duas pessoas que se encontram no trânsito e conversam pela janela do carro, enquanto o sinal está fechado. O diálogo é todo entrecortado pelos sons da cidade e esconde mensagens mais profundas do que pode parecer à primeira vista.
6- Mosca na Sopa, Raul Seixas
Composta em 1973, a música parece sem sentido, mas guarda uma forte mensagem de resistência. O sujeito lírico se identifica com uma mosca, um pequeno inseto que parece existir para incomodar os outros. Falando com os militares, se anuncia como um pequeno ser alado que está ali para perturbar o sossego. Apesar de toda a repressão, Raul e seus contemporâneos continuavam combatendo o conservadorismo, mesmo sabendo que a luta ainda estava longe de terminar.
7- Primavera nos Dentes, Secos e Molhados
Primavera nos dentes é uma música do grupo Secos & Molhados, gravada em 1973, com letra de João Apolinário. Apolinário era um poeta português que se exilou no Brasil durante a ditadura de Salazar e combateu o fascismo. Apesar de parecer uma música sobre força e coragem interior, ela fala da resistência perante a pior “tempestade”
8- Eu quero botar o meu bloco na rua, Sérgio Sampaio
Eu quero é botar meu bloco na rua, de 1973, fala dos sentimentos de angústia perante a ditadura militar. Sérgio Sampaio se sente assustado e fala do brasileiro comum, mostrando a insatisfação geral com terror constante com a situação do país. Trata-se também de uma crítica ao governo Médici e ao suposto “milagre econômico” que estava sendo anunciado pela propaganda política.
9- Pare de Tomar a Pílula, Odair José
A canção de Odair José, um dos compositores mais censurados pela ditadura, escapou da censura ao acharem que se tratava de um homem que queria ter um filho e a mulher não queria. Após isso, no entanto, eles perceberam que ela falava da libertação sexual da mulher em apoio ao movimento feminista em torno da pílula anticoncepcional.
10- Comportamento Geral, Gonzaguinha
Gonzaguinha foi um dos músicos que mais criticou a ditadura militar, tendo mais de 50 canções censuradas pelo regime. Entre elas se destaca o seu primeiro sucesso, Comportamento Geral, de 1972. A canção foi taxada de terrorista e o cantor recebeu o apelido de “cantor rancor” por falar diretamente com o cidadão brasileiro, comentando a precariedade atual do país. Apesar de toda a opressão, da fome e da pobreza disfarçada de “milagre econômico”, o brasileiro comum continuava agindo como se tudo estivesse bem. Esse seria, então, o comportamento geral: não reclamar, se alienar, fingir que está feliz.
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