Entre Facas, Algodão, de João Almino, conta a história de um homem que, aos 70 anos, diante da aposentadoria, resolve voltar para o sertão onde havia crescido para reencontrar seu amor de infância e vingar a morte do seu pai. Em formato de diário, acompanhamos o momento de sua vida em que ele larga a esposa com quem passou grande parte da vida para voltar à casa em que viveu os primeiros momentos da vida. Entretanto, ao chegar lá vê que a realidade é muito diferente: ao fim da vida, as pessoas, apesar de serem as mesmas, mudaram muito e o passado parece não ter sido aquilo que ele guardou em sua memória. Confrontando, então, o passado, este homem vai precisar aprender a lidar com uma vida que foi baseada, se não em mentiras, em meias-verdades. João Almino, recém eleito para a Academia Brasileira de Letras, escreve um livro forte, intenso, que vale a pena ser lido!
O NotaTerapia separou as 8 melhores frases da obra:
Escavando sob meus pés, encontro muitas lembranças dela. Os sonhos tem memória. A Clarice do futuro – acho que existe, apesar de tudo – tem muito da Clarice do passado.
O que é certo é que as paisagens da secura traziam sempre as mesmas árvores calcinadas, a mesma ruína cinzenta e a mesma irritação. Acho que são sobretudo elas, as paisagens da secura, que marcam os sertanejos feito eu.
É assim que reajo diante das coisas grandes, as tragédias, procurando o que me salva à margem, o que me distrai, mas até hoje a culpa me persegue também por isso. Será que escrevo para me redimir de minhas culpas?
A gente não tem controle sobre o que se lembra. E o que lembra pode insistir em nunca ir embora, até acorda a gente de madrugada. Pode estar pra cá ou pra lá do que aconteceu.
Fiz muita coisa ao longo dos anos, mas teriam sido anos perdidos, gastos sem objetivo, se eu não tivesse voltado para vingar meu pai, procurar o amor verdadeiro e não pudesse ainda provar que num ou noutro ponto o mundo não seria o mesmo sem que eu tivesse vivido.
Na política, mentira com convicção vira verdade e quem mente mais ganha, falou um dia.
E repetia a ideia de outra forma:
Mentira que muita gente defende vira verdade.
É. O amor não murcha. A gente é que pode murchar. Então o amor vai embora.
De Clarice e de Miguel nenhuma palavra de solidariedade. Há pessoas assim, cujo silêncio atormenta; que estão presentes na gente por sua ausência.
Edição: Record, 2017
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