“Cá, onde os homens vivem a gemer,
Onde cabelos brancos, ralos, treme,
e jovens morrem, magros como espectros;
Onde basta pensar para sofrer.”
John Keats, “Ode a um rouxinol” (Epígrafe de Homem Comum)
Homem Comum, de Philip Roth, é o relato íntimo que retrata a vida de um homem que, diante de uma saúde debilitada e do fim da vida, entra em contato com os erros do passado, a solidão após três divórcios e a tentativa de encontrar algum pouco de esperança, de encontros que ficaram para trás no decorrer da vida. Com uma relação ruim com os filhos e tendo apenas a filha a seu lado, ele começa a relembrar tudo que lhe aconteceu, desde o nascimento, a vida com os pais e a vida no trabalho. É interessante ressaltar que Homem Comum é inspirado em uma peça inglesa do século XV chamada Everyman o que, no sentido original, não significa um homem regular, comum ou medíocre, mas toda a humanidade tendo de enfrentar seu passado e suas histórias.
O NotaTerapia separou as 12 melhores frases da obra. Confira:
Não há nada como refazer a realidade. (…) O jeito é enfrentar. Segurar as pontas e enfrentar.
É justamente o que há de normal nos funerais o que os torna mais dolorosos, mais um registro da realidade da morte que avassala tudo.
É claro que, tal como ocorre quando qualquer pessoa morre, embora muitos estivessem sofrendo, outros permaneciam indiferentes, ou se sentiam aliviados, ou então, por motivos bons ou maus, estavam na verdade satisfeitos.
A religião era uma mentira que ele identificava ainda bem jovem, e todas as religiões pareciam-lhe insuportáveis, todas as superstições religiosas eram bobagens sem sentido, uma criancice; não suportava aquela total falta de maturidade – aquele vocabulário infantil, aquela santimônia e aqueles carneiros, os ávidos fiéis. Para ele, nada de conversa fiada a respeito da morte e Deus, nem fantasias obsoletas sobre o céu. A única coisa que havia era o corpo, nascido para viver e morrer conforme o que fora estabelecido pelos corpos que viveram e morreram antes.
Como sempre – e como quase todas as pessoas -, ele não queria que o fim viesse um minuto antes que o estritamente necessário.
E pensou: tenho muita sorte; e pensou: alguma coisa de bom tem que aparecer em algum lugar, e apareceu nela.
No quarto, ele sentou-se a seu lado e segurou-lhe a mão, pensando: quando a gente é jovem, é o exterior do corpo que é importante, a aparência externa. Quando envelhecemos, é o que está dentro que importa, e as pessoas não ligam mais para a aparência.
A mentira é uma maneira vulgar e desprezível de controlar a outra pessoa. Você fica vendo a outra pessoa agir com base em informações incompletas – em outras palavras, se humilhando. A mentira é tão comum, e no entanto, quando você é a vítima dela, é uma coisa espantosa. Uma pessoa traída por um mentiroso como você vai acumulando uma lista cada vez maior de insultos, até que chega uma hora em que você não consegue mais respeitar essa pessoa, não é?
Quando tempo uma pessoa pode passar olhando para o mar, mesmo sendo o mar que ela ama desde criança? Quando tempo ela pode ficar vendo a maré subir e descer sem se lembrar, como se lembraria qualquer um num devaneio a beira-mar, que a vida fora dada a ele, como a todos, de modo aleatório e fortuito, e apenas uma vez, sem nenhum motivo conhecido ou passível de ser conhecido?
A velhice é uma batalha, meu querido, quando não é uma coisa, é outra. Uma batalha implacável, justamente quando você está mais fraco e mais impossibilidade de enfrentar a luta como antes.
A velhice não é uma batalha, a velhice é um massacre.
É porque ela é como eu sou desde menino. É porque ela é como todos. É porque a intensidade mais perturbadora da vida é a morte. É porque a morte é injusta. É porque, para quem provou a vida, a morte não parece nem sequer natural.
Edição: Companhia de Bolso, 2017
Tradução: Paulo Henriques Brito