Todos nós vivemos perdendo coisas: perdemos a infância, a juventude, a maturidade, a saúde. A vida é feita de ganhos e perdas e cada pequena perda de nossa vida se torna um momento de escolha. Podemos nos abater ou encarar a vida de frente; podemos sofrer ou ter saudade; podemos viver no passado ou escolher um futuro. Tudo isso está em Perdas, de Raquel Mattoso, livro sobre Alicia, uma menina que parecia ter tudo e um dia se vê sem nada. O novo livro, lançamento da NotaTerapia Editora é uma incrível história que poderia ter acontecido com qualquer um, ou seja, suas perdas poderiam ser nossas perdas e, por isso, pode nos fazer aprender muito (e chorar).
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Confira a entrevista com a autora:
NotaTerapia – Em poucas linhas, o que é o seu livro Perdas?
Raquel Mattoso – Perdas é sobre a Alicia, desde o momento em que ela nasce e sobre todas as pessoas que estão, pela razão que for, em torno dela. Sobre como ela reage e como ela lida com uma série de problemas. Mas Perdas não é só sobre a Alicia. Perdas é sobre gente normal com problemas reais; é para você se entreter, mas também se encontrar, se identificar. E por fim, esse livro também é um começo para mim em uma coisa que eu faço naturalmente. E eu estou muito realizada em poder compartilhar isso.
Quando você começou a escrever e quais as motivações que te levaram a escrever seu livro?
Eu comecei a escrever sobre a Alicia em 2011. Uns textos soltos e umas ideias que não se encaixavam muito bem. Acabei largando o então projeto de livro na metade e voltei a reescrever em 2015. Eu sempre fui muito criativa. Sempre inventei milhares de histórias na minha cabeça mas nunca levei muito a sério. Não achava que poderia ser alguma coisa, sabe? Era só para passar o tempo. Loucura! Acho que a motivação veio do fato de que eu precisava fazer alguma coisa para mim. Que estava fora daquilo esperado por mim e para mim. Era diferente de tudo o que sempre foi planejado e por outro lado era/é a minha identificação pessoal: escrever.
Qual você acha que é e deveria ser o papel da literatura e das artes no mundo de hoje?
Acho que a arte é necessidade básica. A gente se entende melhor como seres humanos através dela. É educacional. Mas muitos acreditam que o papel da literatura e da arte é apenas o de entretenimento. Eu demorei para ler livros, digo, como forma de entretenimento mesmo. Mas hoje eu vejo além. Eu aprendi sobre um monte de coisa em livros de ficção: culturas diferentes, profissões, história etc. Eu já me senti melhor sobre mim mesma e entendi que tá tudo bem por causa de um filme, por exemplo. Acho que tem algo na arte – todas elas – que transcende a explicação com palavras. É só uma felicidade sem motivo. Eu estive no MASP e fiquei horas andando pela galeria e vendo quadros antigos e sem nenhum motivo eles me fizeram sentir paz e uma satisfação surpreendente. O papel da arte é o de dar mais significado e entendimento a nossas vidas.
Quais os(as) escritores (as) que te marcaram e influenciaram tanto na vida quanto na feitura de Perdas?
Então, eu amo um monte de autores. E já li de um tudo, verifique meu skoob (risos). Mas tem um top 3, porque sempre tem, né? Agatha Christie. Ela é maravilhosa. E ela te prende e quer que você descubra a resposta e está sempre na nossa cara. Chega a ser irritante. Eu adoro o Sidney Sheldon porque ele escreve sobre pessoas. Não pessoas perfeitas que não existem. Mas pessoas normais. Com capacidade de amar, de odiar e de serem imperfeitas. E isso é tão lindo! Sou grande fã do George R.R. Martin mas não tenho capacidade alguma de escrever fantasia. (risos) Mas o que gosto nele é que ele não tem apego por personagem. Todo mundo está a merce da vida, e isso é maravilhoso e cativante. Acho que um combinado disso tudo e mais um mundo de outros autores que eu li na vida – além de todas as pessoas que eu conheci – me auxiliaram a escrever Perdas. Afinal, eu sou uma escritora. Tudo o que você fizer ou dizer pode ser usado em uma história.
O seu livro é feito de personagens muito fortes. Alicia, claro, é a personagem principal, mas também podemos ver a força de Antônio, Eduardo, Clara e até de Martha. Como você vê a força dessas personagens e como você encara o peso da vida na hora de cria-las?
Eles tem tipos de forças diferentes, né? O Antônio tem uma força baseada na família e naquilo que ela construiu. Mesmo com o monte de imperfeição ele tem essa necessidade de proteger os familiares. O Eduardo é um amorzinho! hahahah E tem lá sua vontade própria e segurança, acho bacana. Clara é minha personagem favorita. Eu simplesmente adoro ela, justamente por ela não ter vergonha de ser quem é. E isso, para mim, é a grande força que ela tem. E a Martha é meu cajuzinho! Eu amo comer, e minha mãe é uma senhora cozinheira, então tenho um apego pela Martha porque ela significa: bolo de nozes! Sério agora, a Martha suporta toda uma família que não é dela. É como se ela deixasse de viver a própria vida para poder estar com o Antônio e a Alicia e ser tudo o que ela é. E isso deve ser muito difícil. Eu usei muito de empatia para dar sequência nas histórias de cada personagem e para ver onde eles poderiam chegar. Eu não poderia literalmente me colocar no lugar porque não passei por nada do que eles passam, mas tem como ter uma ideia. “Se eu fosse igual a ela, o que eu faria agora?” E sigo sempre a partir daí.
Em Perdas, podemos ver, como o título já diz, uma série de “perdas”. Todos os personagens estão submetidos a uma série de problemas sem que nenhuma seja mais importante que o outro, tal como é vida. Como você encara essas perdas nossas de cada dia e como elas foram influências para a obra?
Eu adorei essa pergunta. A verdade é que a gente está sempre perdendo alguma coisa. Às vezes pequenas coisas que parecem enormes. Eu nunca perdi ninguém, tampouco uma grande fortuna, mas já perdi estágios, empregos e outras coisas que eu queria muito. Ou achava que queria muito. Eu sofro de ansiedade e lidar com qualquer perda é complicado para mim. Mesmo que seja algo ridículo e, é tão dificil porque as pessoas não entendem. Mas a cada dia eu tenho entendido que a vida é feita de trocas, a gente perde aqui e ganha ali e vamos enfrente. Tentei usar de perdas que acontecem com frequência na nossa vida no livro. Talvez em intensidades diferentes mas de maneira que fosse possível se identificar e talvez tentar passar uma ideia de que, às vezes, a gente tá lidando mal com coisas bobas e, por isso, elas “se tornam” grandes problemas.
Alicia é, sem dúvida, a grande figura do seu livro. Como ela surgiu e para onde ela vai?
A Alicia surgiu meio do nada mesmo. Como eu disse antes, eu sempre fui de inventar histórias. E tenho um quê para o drama – quem me conhece sabe bem (risos). A diferença é que ela me prendeu o suficiente para eu querer escrevê-la no papel. Acredito que muito por causa da evolução pessoal que ela teria, e por ser um acompanhamento de vida, entende? Eu ainda não sei para onde ela vai e acho que não saberei. Já tenho em mente como vai terminar a história da série mas a vida da Alicia continua depois disso e aí cabe ao leitor estender porque a Alicia não morre no final, então…(Ops spoiler).
O fim do seu livro aponta para uma virada surpreendente. Você já imaginou como vai ser a continuação? Pode contar alguma coisa?
A continuação já está toda na minha cabeça. O último capítulo do último livro e tudo o mais. O segundo livro já está terminado e tem bastante drama familiar em “Encontros” e algumas perguntas são respondidas. Mas aparecem questões novas, personagens novos e assim como a vida, tudo pode mudar. O último livro da série – por enquanto, Desfechos – eu ainda estou escrevendo. ????