Neste novo Pra Conhecer, vamos falar sobre a vida e obra de Anaïs Nin.
“As coisas não são vistas tal como são, são vistas tal como somos.”
Nascida em Neuilly, na França, em 1903, Anaïs Nin tornou-se famosa por seu diário pessoal. “O Diário de Anaïs Nin” tem 250 mil páginas e cobre o período entre 1914 e 1974. Ela começou a escrevê-lo no navio que levava ela, os irmãos e a mãe aos Estados Unidos após o pai abandoná-los. O primeiro volume do diário só foi publicado em 1966, e foi Henry Miller, amigo e amante de Anaïs quem a incentivou a fazê-lo, acreditando na importância literária destes escritos pessoais.
Durante toda a vida, a obra de Anaïs recebeu duras críticas. Apesar de ter também escrito ficção – “Uma Espia na Casa do Amor”, “A Casa do Incesto”, “Debaixo da Redoma”-, a autora nunca conseguiu reconhecimento no mundo das artes. Estudiosos de sua obra afirmam que Anaïs era obcecada com “o seu eu”, o que fez com que sua obra ficcional não conseguisse se descolar de sua autobiografia. Ela queria tornar-se ela mesma obra de arte. Alguns dizem que seu estilo excessivamente adjetivado de escrever tinha a ver com limitações literárias dela.
“Tornar-me numa obra de arte importa-me mais do que criar uma obra de arte”
Por outro lado, a rejeição à obra de Anaïs Nin se deu, também e principalmente, pelo teor sexual e libertário dos escritos. A moralidade da época foi severamente crítica à autora, que não escondia o fato de ter diversos amantes e uma vida sexual muito livre. A temática erótica é recorrente em sua obra, como por exemplo nos contos “O basco e Bijou”, “Manuel” e “A fugitiva” – os três publicados em “A Fugitiva”, pela L&PM.
Bijou estava intrigada. A voz do estranho a fascinava e a mantinha em transe ao lado dele. Sentiu a mão dele passar gentilmente sobre a perna e por baixo do vestido.
Enquanto a afagava, ele disse:
– Um dia assisti dois cachorros copularem. A cadela estava ocupada comendo um osso que havia encontrado, e o outro aproveitou a situação para se aproximar por trás. Eu tinha quatorze anos. Senti a mais louca excitação ao assisti-los. Foi a primeira cena sexual que testemunhei, e descobri a primeira excitação sexual em mim mesmo. Dali em diante, só uma mulher inclinada para a frente, como você está, consegue despertar meu desejo.
A mão continuou a afagá-la. Ele se apertou um pouquinho contra ela e, ao vê-la dócil, começou a se deslocar por trás, como que para cobri-la com seu corpo. De repente, Bijou ficou com medo e tentou escapar do abraço. Mas o homem era forte. Ela já estava embaixo dele, e tudo o que ele teve que fazer foi curvar o corpo dela ainda mais. Forçou a cabeça e os ombros de Bijou na direção do muro e levantou a saia.
Anaïs Nin foi amiga de inúmeros escritores, entre os quais D. H. Lawrence, André Breton, Antonin Artaud, Paul Éluard e Jean Cocteau. Além de, é claro, o próprio Henry Miller.
Nesta entrevista a Fernand Seguin, disponibilizada pela L&PM WebTV, Anaïs fala de seu diário:
“O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia.”
Anaïs Nin ousou, em uma época em que era inimaginável uma mulher habitar desta forma a vida pública, falar sobre sexo, sensualidade, erotismo e prostituição. Em sua vida conturbada, Anaïs também viveu sua sexualidade com muita liberdade, fazendo de sua vida uma verdadeira subversão às normas e expectativas de gênero.