[Entrevista publicada originalmente no Portal Acontece em Petrópolis]
Em 2013 tive oportunidade de entrevistar o ator, roteirista e comediante Fábio Porchat. O momento era propício para comediantes: Os Stand ups estavam no auge, O Porta dos Fundos estava recém estourado e ainda rolavam os resquícios do famoso caso Rafinha Bastos em que todos queriam saber “qual o limite do humor”, ou seja, tudo relativo ao humor estava na boca do povo. Antes de assistir seu espetáculo, Fora do Normal, pude falar com o Fábio e saber um pouco mais sobre sua ideia de arte, humor e cultura.
Confira como foi a entrevista:
Luiz – Com o sucesso do Porta dos Fundos parece que apareceu, com mais força, uma ideia de que vocês são uma “nova geração da comédia”. Uma coisa muito comum quando se fala do humor é essa separação entre “humor novo” e humor velho”. Acho essa separação estranha porque dá para ver que tem gente nova fazendo humor velho e gente velha fazendo humor novo. Como você vê essa obrigação que as pessoas têm de definir o humor?
Fábio – Na verdade existe humor, né? Se fez rir, está valendo! Não importa se é torta na cara, bordão, humor de texto, humor negro, piada. Não importa se é o Paulo Silvino que está fazendo ou sou eu: tem que fazer rir. É claro, eu acho sim que o Porta dos Fundos aparece com uma inovação, com um tipo de humor que não se fazia aqui há muito tempo, que é o humor de esquete. É evidente que esquete tem em vários lugares e de várias formas, mas não com essa pegada do Porta dos Fundos. Acho que é visto como novidade porque algumas gerações ainda não tinham visto acontecer. Essa pegada nossa já existia no TV Pirata, no Monty Phyton, que são referências nossas e que é mais ou menos um caminho que a gente pretende seguir também.
Luiz – Se pudermos avaliar a trajetória desse chamado novo humor, podemos pensar que há uma polarização: de um lado um grupo carioca e do outro um grupo paulista, com seus estilos e características. Como você vê essa divisão e em quê e como esses grupos se cruzam?
Fábio – Existem vários tipos de humor com identidades locais, mas acho que todos eles, de certa forma, são universais. No Brasil, o humor de Fortaleza é muito marcado, o gaúcho também. Mas você tem razão, existe um tipo de humor que é mais tipicamente paulista e um que é mais carioca. O importante de ressaltar é que todos esses acima, são muito brasileiros e ligados a nossas coisas daqui. O humor reflete muito o estilo de cada povo: o paulista é mais prático, faz a piada mais direta. O carioca conversa, gosta de contar uma historinha, vai enrolando, com mais malemolência. Mas claro, existe um humor marcado paulista como o do Terça Insana que é de lá e funciona muito bem lá, já no Rio, eu posso lembrar do Asdrubal Trouxe o Trombone que é muito carioca e representa uma época. De qualquer forma, os dois têm coisas em comum e dialogam.
Luiz – Eu assisti a uma peça que você dirigiu antes ainda do projeto do Comédia em Pé, que foi Pic-Nic no Front do Fernando Arrabal. Como esses grandes nomes do teatro como Arrabal, Ionesco, Beckett, do movimento Teatro do Absurdo são referências para você e conversam com o seu trabalho?
Fábio – Eu sou muito fã desses caras! Embora não foram eles que tenham dado o nome – Teatro do Absurdo – eu gosto muito dele. Me influenciaram bastante sim, eu li muitas peças do chamado “Teatro do Absurdo”, o Beckett principalmente sou aficcionado, sou muito intrigado com toda sua obra. Outras referências minhas também são o Harold Pinter e o Chaplin, por exemplo.
Eu gosto e tenho um lado meio maluco nas coisas que vou escrever. Nos textos do Porta dos Fundos, eu invisto em alguns textos bem amalucados, que tem um lado mais surreal. Até na pintura, o Salvador Dalí é um cara que me interessa muito, então com certeza eu tenho influências sim. É o tipo de coisa que eu tenho interesse e gosto de ler, ver e pretendo fazer.
Luiz – Você citou acima nomes como o Pinter e o Chaplin. É comum que se diga que existe um humor que é “sério”, que é um humor que não é muito “humor”, que tem um engajamento político, que faz criticas. Como você vê isso?
Fábio – Eu acho que isso é um rótulo que a mídia tem que dar para poder levar o humor a sério. A comédia é sempre jogada para debaixo do tapete como se fosse a pior coisa que existe da arte, então para poder falar de humor, eles têm que ver algo diferente, diligente, engajado, que faz crítica. Assim, eles podem falar bem desse humor, quando na verdade se é engraçado já tem algo ali que é diferente. É claro que tem humor que se posiciona politicamente, mas tem humor de entretenimento também, e é importantíssimo que tenha. É muito importante as pessoas darem risada, entrarem em catarse pelo riso. Acho que todo tipo de humor é válido: o cara que faz stand up não é melhor que o cara que faz humor de bordão, que não é melhor que quem faz humor pastelão.
Luiz – E agora a pergunta que não quer calar: quantas vezes depois do Rafinha Bastos, você teve que responder sobre o limite do humor?
Fábio – Já me perguntaram isso hoje e eu falei a mesma coisa de sempre! (risos) São perguntas que sempre fazem: sobre o que é a peça? Qual o limite do humor? O que vai ter de especial na apresentação na cidade X (só mudar o nome da cidade), e fala um pouco sobre sua vida e a relação com as pessoas do Porta dos Fundos. Eu acho que vou falar assim da próxima vez: “já respondi pra Veja, lê aqui”. (risos)
Link para a publicação original: http://www.aconteceempetropolis.com.br/2013/07/14/e-muito-importante-as-pessoas-darem-risada-entrarem-em-catarse-pelo-riso-diz-fabio-porchat/