Há muita coisa ridícula em Uma Batalha Após a Outra, intencionais e não intencionais. O antagonista da trama, o Coronel Lockjaw (Sean Penn) nos é apresentado visivelmente excitado após ser subjugado pela guerrilheira Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor) durante uma incursão no campo de concentração de imigrantes comandado pelo militar. Enquanto isso acontece, Pat (Leonardo DiCaprio) grita frases revolucionárias com punho em riste. A graça disso está mais por elementos fora da tela, afinal, como levar a sério um amigo de Jeff Bezos falando sobre revolta?
A realidade informa muito da nova obra de Paul Thomas Anderson. Nomes não são citados, e o roteiro sempre busca uma maneia de se afastar da realidade com uma piada — a Ku Klux Klan desse mundo se chama “Clube dos Aventureiros Natalinos” — mas se trata da América de Trump, onde a supremacia branca está no topo e imigrantes em jaulas fazem parte da paisagem.

Nesse cenário, o filme adota uma simetria ideológica, encabeçada por esses dois homens. De um lado, o sistema fascista, personificado em Lockjaw, e do outro o underground resistente, tendo Pat, ou Bob como passa a ser chamado, como símbolo. Equalizando os dois lados está, novamente, o ridículo. Sempre que possível, Uma Batalha Após a Outra se dedica a destacar certos absurdos de um ou outro, seja de modo geral, ou através dos personagens que os simbolizam. O próprio nome do clube dos fascistas entrega a troça, assim como seu esconderijo secreto absurdamente grande, enquanto os revolucionários se perdem em jargões e palavras secretas.
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Contudo, esse emaranhado ideológico e os paralelos com o mundo real são meras coberturas para uma simples trama de resgate e drama familiar, com Lockjaw assombrando a vida de Bob muitos anos depois dele ter largado seu grupo de resistência, o French75, e se dedica a cuidar da sua filha, Willa (Infiniti Chase), mesmo não sendo um pai exemplar.
Muito se escreve de Uma Batalha Após a Outra como um filme político, o que faz sentido, afinal, é uma obra cuja narrativa começa com um grupo armado invadindo um campo de concentração, e há força nisso, especialmente no contexto estadunidense. Contudo, é difícil deixar de notar que Anderson não parece particularmente interessado na política do universo que criou. Muito se fala de revolução, mas é mais uma revolta genérica, nada de citar socialismo, comunismo, capitalismo ou até mesmo falar da ICE, agência responsável pela criação dos ditos campos, ou qualquer menção a Trump.

Assim, a obra torna o conturbado cenário americano atual para servir mais de plano de fundo para seus atrapalhados e engraçados heróis e vilões, extraindo humor físico tanto da postura relaxada de Bob quanto da rigidez de Lockjaw. Enquanto Dicaprio tenta desesperadamente achar uma tomada para um celular antigo, famílias latinas se organizam para fugir dos militares. O drama real como um enfeite para a ficção.
Ignorando isso — se possível for — Uma Batalha Após a Outra funciona ao nível de entretenimento, sendo consistentemente hilário e entregando uma das cenas de perseguição mais inventivas do cinema recente. Mas talvez seja importante lembrar a custo de quê estamos sendo entretidos.

